Arquivo JC |
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Time de 1953: em pé, Nelson Faria, Mingão, Amaro, Sidnei, Oswaldo e Vila; agachados: Colombo, Zeola, Brotero, Ranulpho e Luiz Marini |
O árbitro levou o apito à boca e decretou o fim da partida. De forma metafórica, foi assim a quarta-feira, dia 12, em Bauru.
Aos 79 anos e vítima de problemas renais, morreu Agostinho Zeola. O craque, com passagens vitoriosas pelo Palmeiras e Juventus, foi o herói do primeiro acesso do Norusca.
O alegre e disciplinado jogador começou a carreira na várzea. Logo, chegou ao profissional do Noroeste. Pela 2ª Divisão do Campeonato Paulista de 1953 – que se encerrou em 1954 –, tornava-se herói dos bauruenses. No dia 23 de maio daquele ano, fez dois gols contra o Marília e garantiu o acesso histórico do Norusca à elite do futebol paulista.
“O estádio tinha umas 10 mil pessoas. O Noroeste precisava ganhar do Marília. E ganhou por 2 a 0. Com dois gols do Zeola. Foi incrível. Foi a maior comemoração já vista em Bauru”, comenta o historiador e memorialista Luciano Dias Pires. Luiz Marini, 82 anos, esteve ao lado de Zeola na conquista integrando a histórica linha de ataque noroestina. “Ele se tornou meu grande amigo. Era uma pessoa incrível. O futebol e o mundo perdem uma grande pessoa”, relembra.
Após quatro anos no Norusca, Zeola foi para o Juventus. “O jogo do Santos contra o Juventus vai ser muito interessante: seis de um lado marcando Pelé, seis do outro marcando o Zeola”, dizia a chamada do jornal “O Esporte”, da Capital, de 1959. Só tal comparação já ilustra sua importância.
Depois, teve passagens pelo italiano Napoli. Em 61, estreava pelo Palmeiras justamente contra o Corinthians. O alviverde perdia por 3 a 1. Zeola deu o passe para o segundo gol e marcou o do empate. Talvez daí nasceu seu “anticorintianismo”. “Ele tinha o Palmeiras no coração. Mas era um anticorintiano”, brinca a filha Rosana Valéria Viana das Neves, 53 anos. “Ele vai deixar saudade. Tinha um coração muito bom”, completa.
Zeola ainda teve passagens pelo Independiente (Argentina), Guarani, Fluminense e o Juniors de Barranquilla (Colômbia). Voltou para o Brasil e pendurou as chuteiras pelo Tupã.
Seleção
Por muito pouco, Zeola não se torna ídolo da Seleção Brasileira. Ele foi convocado para o time que disputou a Copa de 62 no Chile. Chegou a jogar um amistoso, porém, contundiu-se e foi substituído por Amarildo. “Eu seria titular naquela Copa, pois o Pelé também se machucou e o Amarildo entrou no lugar dele. Quando não é para ser, não adianta insistir”, disse Zeola, em entrevista ao JC em 2008.
Além dos filhos Rosana e Agostinho, Zeola deixa os netos Leandro, Rafaela e Beatriz, 12. O velório foi realizado no Terra Branca e seu sepultamento foi na manhã desta quinta-feira (13), no cemitério da Saudade, em Bauru.
Amador perde fundador do Oriente
“Eu fui ao hospital e coloquei o radinho no ouvido dele. Justamente para ele ouvir o futebol”. As palavras de Ednardo Viana, 42 anos, deixam claro a paixão do pai Waldimir Neves Viana: o futebol. Aliás, mais do que o futebol, o amor era pelo Oriente. Leka, como era conhecido, fundou o clube em 1979.
Nesta quarta (12), veio o minuto de silêncio. Leka (recebendo o troféu na foto) era portador de diabetes e morreu, aos 71 anos, por complicações da doença. Familiares garantem que a perda da esposa, há seis meses, também ajudou. Nos últimos tempos, ele parecia realmente só respirar por conta do clube de coração. “Ele foi se debilitando. Mas era uma pessoa incrível”, comenta Ednalva Viana Rodrigues 42 anos, filha de Leka. Além de Ednardo e Ednalva, Leka deixa também os filhos Margarete, Edmilson, Marinalva, Ednaia, Ednei e Rogério,11 netos e seis bisnetas.
Menino de ouro
Nos últimos anos, Zeola morava com a filha. Os familiares contam que a sua televisão “era só canal de esportes”. Ainda bastante antenado em todas as modalidades esportivas, não tinha jeito: ele relembrava com carinho enorme o acesso conquistado com o Norusca em 1954.
“Eu era o menino de ouro, o craque favorito da torcida bauruense”, disse, em sua última entrevista ao JC, em 2012. O craque tinha apenas 18 anos quando marcou os dois gols que fizeram história. “No primeiro, o Colombo foi à linha de fundo, cruzou e eu, na entrada da grande área, peguei de bate-pronto. No segundo, o Luiz Marini cruzou do outro lado e a mesma coisa. Antecipei a zaga e marquei. Foi memorável.”