Geral

Cubanos defendem humanização


| Tempo de leitura: 5 min

Queremos que o paciente saia satisfeito e informado do consultório. A frase resume as expectativas do grupo formado por cinco médicos cubanos que chegou nesta quinta-feira (13) a Bauru, junto com mais quatro brasileiros, que darão andamento ao Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab) e ao Mais Médicos, ambos de iniciativa do governo federal. 

 

Em um bate-papo com o JC ontem, antes de iniciarem a primeira reunião com a Secretaria Municipal de Saúde, os médicos falaram - pronunciando bem, mas devagar, a língua portuguesa - sobre suas primeiras impressões do País e da cidade, comparando, inclusive, com Cuba. 

 

Na conversa, eles destacaram que pretendem estreitar as relações com seus pacientes tornando-se espécie de “amigos” da comunidade (leia mais na entrevista abaixo).

 

Conforme o JC antecipou na edição de ontem, o grupo de cubanos é formado por três mulheres - Magdy Regla Gutierrez Machado, de 36 anos, Yanielka Cordova Garcia, 33 anos, e Yoandra Pantoja Leyva, 37 anos - e dois homens, Yordanis Milian Jaurez, 31 anos, e Yordanis Cruz Matos, 31 anos. 

 

Todos são formados em Cuba e com especialidades em medicina geral integral da comunidade - uma espécie de medicina da família. 

 

O grupo, que já atuou em trabalho social parecido na Venezuela, possui tempo de experiência profissional que varia de 5 a 13 anos. Apesar do aspecto em comum, os integrantes afirmam que ainda não se conheciam.

 

Médicos da família

 

Ainda nesta sexta a secretaria não soube responder em quais unidades cada um dos médicos iria atuar, mas informou, de antemão, que os profissionais não poderão realizar plantões aos finais de semana. 

 

“Temos 17 postos de saúde. Desses, apenas seis são Unidades de Saúde da Família (USF). Eles trabalharão como um núcleo da USF nesses locais que não possuem o programa e que, geralmente, são regiões periféricas”, afirma a secretária municipal de Saúde interina, Maria Lígia Gerdúllio Pin.

 

A primeira reunião do grupo de médicos - que deve começar a atuar nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos bairros de Bauru nos últimos dias de março - objetivou ensinar sobre o funcionamento do sistema da rede municipal de Saúde. 

 

O encontro ocorreu ontem pela manhã no auditório do prédio do Departamento de Saúde Coletiva (DSC) e contou com a presença da secretária municipal de Saúde interina. 

 

No período da tarde, os profissionais visitariam prédios como o do Núcleo Central de Saúde, a Farmácia Central, entre outros pontos.

 

Jornal da Cidade- Onde vocês atuavam antes de vir para o Brasil?

Cubanos - Atuávamos em unidades médicas de atenção primária em nossas cidades, em Cuba. Mas, antes de vir para o Brasil, estávamos na Venezuela cumprindo uma missão social parecida, também nas periferias. 

 

JC - Qual o objetivo pessoal de vocês aqui?

Cubanos - Simplesmente ajudar a população mais necessitada e melhorar a qualidade e atenção médica no Brasil, assim como fizemos também em trabalhos sociais na Venezuela e fazemos sempre em Cuba. A população da periferia e da zona rural é nossa prioridade.

 

JC- Quais as primeiras impressões que tiveram do Brasil e de Bauru?

Cubanos - Recebemos um acolhimento muito bom tanto lá em São Paulo quanto aqui.  O Brasil é muito grande. As pessoas são respeitosas e agradáveis. São Paulo tem prédios muito altos, não imaginávamos que seria tudo aquilo e que tivesse tantas pessoas. Cuba é uma ilha pequena. Os prédios aqui são mais altos e muito mais comuns nas ruas do que em Cuba. Já o clima de vocês é muito quente, bem parecido com o nosso. Ainda não temos muito o que falar de Bauru, estamos conhecendo, mas fomos bem recebidos.

 

JC - Quais as expectativas quanto aos trabalhos nos próximos três anos em Bauru?

Cubanos - Queremos diminuir os índices de mortalidade infantil, de deformidades crônicas e melhorar a qualidade da atenção dispensada aos menos favorecidos. Nosso objetivo é que os pacientes saiam das consultas sorrindo, satisfeitos e bem informados. Lá em Cuba o atendimento é muito humano e queremos trazer isso para cá. A ideia é nos tornarmos amigos dos pacientes e criar vínculos para dar um acompanhamento melhor aos tratamentos. 

 

JC- Mas como farão para colocar isso em prática?

Cubanos - Uma consulta normal dura em média de 30 a 40 minutos. Mas para uma boa consulta esse horário deve ser estendido para até uma hora. Assim, conseguiremos conversar com mais calma. Queremos que o paciente saia do consultório consciente de sua enfermidade e, sobretudo, que se previna mais. Sendo amigos e educadores, conseguiremos evitar situações como aborto, mortes, infecções, hipertensão, diabetes.

 

JC - Vocês notaram alguma diferença entre a estrutura daqui e de Cuba? 

Cubanos - A estrutura é similar. Não pretendemos mudar nada, só nos apoiar no que já está estabelecido.

 

Provab

 

O Provab, segundo o governo federal, tem por objetivo estimular a formação do médico para a real necessidade da população brasileira e levar esse profissional para localidades com maior carência para este serviço.

 

Antes de chegarem a Bauru, o grupo participava, entre janeiro e fevereiro, de cursos e aulas de língua portuguesa na Capital. 

 

O médico que participa do Provab tem a obrigatoriedade de realizar curso de pós-graduação prático-teórico em saúde da família, com 12 meses de duração. O profissional recebe bolsa federal no valor de R$ 8 mil mensais e tem suas atividades supervisionadas por uma instituição de ensino. 

 

Para os médicos bem avaliados, o Provab mantém a bonificação de 10% nos exames de residência médica.

 

Através do Provab, quatro médicos brasileiros recém-formados atuarão em Bauru: os bauruenses Verônica Faria Queiroz Dias, 25 anos, e Odair Marinho Neto, 26 anos; Maria Isabel Carvalho Tosello, 24 anos, de Presidente Prudente; e a mineira Naiana Ribeiro Borges, 26 anos.

 

Mais Médicos

 

O programa Mais Médicos, segundo o governo federal, faz parte de um amplo pacto de melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde, que prevê mais investimentos em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde, além de levar mais médicos para regiões onde há escassez e ausência de profissionais.

 

Com a convocação, os médicos cubanos devem atuar na atenção básica de municípios com maior vulnerabilidade social e Distritos Sanitários Especiais Indígenas.

 

Até o momento os profissionais do Programa Mais Médicos estão hospedados em um hotel no Centro de Bauru. 

 

Eles receberão ajuda de custo para alimentação e moradia, com recursos municipais, como prevê o programa, num valor individual estimado em R$ 1.500,00.

 

Comentários

Comentários