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Foto da reunião festiva dos 10 anos do Clube da Alegria, fundado em 6 de junho de 1974 |
Em um casamento, a marca de 40 anos simboliza bodas de esmeralda. E em uma amizade? Bodas de alegria. A pura e simples alegria. É assim que um grupo de amigas bauruenses resume o clube criado há quatro décadas e que, em todo esse período, é sinônimo de muito ombro amigo.
O Clube da Alegria poderia muito bem se chamar Clube da Luluzinha. Só mulheres participam. Elas criaram um compromisso de se encontrar e colocar o papo em dia. Fundado em 6 de junho de 1974, o grupo faz reuniões mensais desde então. “E isso ocorre de forma ininterrupta. Não teve um mês sequer que não fizemos nossa reunião”, conta Zuleika Lemos de Almeida Gonsalves, uma das fundadoras.
Sempre há um sorteio e a amiga “eleita” fica responsável por organizar o encontro. Além da conversa, fazem um lanche ou um jantar. “É um compromisso de amizade mesmo. Foi um modo que encontramos de transformar a vida em momentos de felicidade e encantamento”.
Hoje o clube conta com 11 amigas, mas já foi mais numeroso. O tempo agiu sobre ele. Algumas das antigas participantes tiveram que mudar de cidade e outras morreram. A amizade? O tempo não agiu sobre ela. “Acho que a única coisa que ocorreu é que envelhecemos. Bom, deixa eu colocar de forma mais bonita: ficamos mais experientes. Mas a amizade sempre continuou a mesma”, aponta Zuleika.
Em cada reunião, as amigas sentem realmente que o tempo parou. Os assuntos até mudaram com as voltas que a vida dá, porém, o clima descontraído é parecido com o primeiro encontro, realizado na casa da dona Marisa Ghermann.
Contudo, o bate-papo nem sempre é só sobre situações boas. Apesar de o clube carregar a alegria no nome, as amigas ganham uma importância ainda maior quando tal sentimento parece ter fugido para sempre. “Nos momentos difíceis, há um apoio incondicional. Todas já passamos por momentos difíceis e encontramos, no clube, o ombro amigo que nos ajudou a superar tudo isso”, relata Marly Tessari Cintra, outra das fundadoras do clube.
Zuleika Lemos conta que já teve inúmeras perdas em sua vida. Entre as mais doloridas, estão os pais e o marido. Mas a solidariedade ultrapassa os muros das “luluzinhas”. Elas fazem arrecadações e realizam ações solidárias para ajudar instituições da cidade.
As mulheres não costumam revelar as entidades que recebem a ajuda. Também não gostam de revelar a idade de cada uma. “Deixa esse detalhe em segredo só entre as amigas, né?”, brinca Marly. Entre elas, as piadas recaem até sobre o próprio tempo. Dizem que “a última que sair deve apagar a luz”. Pesquisas apontam que a alegria faz bem ao coração. Se for verdade, a luz do clube vai continuar acesa por muitos anos.
As fundadoras
O Clube da Alegria foi fundado por 20 mulheres. Além de Zuleika, Marly e Myrthes, estavam na primeira reunião Ana Maria Donnini Fraile, Vilma Pagani Carvalho, Olézia Pimenta Neves, Maria Ignez Benedicto, Marisa Tessari Ghermann, Angela Martha Ribeiro, Erondina Pagani, Lia de Almeida Cintra, Lucila Duque, Neide Campos Salles, Nilce Amaral Martins e Zilma Duque. Outras fundadoras, já falecidas: Maria Georgina Bastos, Maria Machado, Maria Cintra, Lydia Donnini e Arethuza Carvalho.
O ombro mais do que necessário
O nome do clube é Alegria. Mas têm horas que é difícil encontrarmos tal sentimento. Dificuldades impostas pela vida nos fazem perder o chão. Perdas parecem insuperáveis. E é nesses momentos que o grupo se fortalece e oferece aquele ombro amigo mais que necessário.
Todas do grupo têm várias histórias difíceis para contar. Mas, justamente pela dor da lembrança, a maioria prefere não ficar recordando tais fatos. Algumas até esboçam qual foi “ombro amigo” mais importante que recebeu do clube.
“Em 1990, eu perdi meu filho. Ele estava com 40 anos na época. Teve uma síncope cardíaca. Se não fosse essa amizade, esse carinho, eu não sei como teria passado por essa situação”, relata Myrthes Cintra, que também é uma das fundadoras do clube.
Ela relata que compartilhar a dor com as amigas a fez vencer essa perda tão sentida. “Todas nós ajudamos umas às outras. É uma situação de amor mesmo”, finaliza.
Clube teve até ‘Bataclã da Maria Machadão’
Entre os inúmeros encontros, alguns são bem festivos. Em um deles, aproveitou-se o sucesso da novela Gabriela (adaptação do romance de Jorge Amado) para fazer uma festa temática. Uma das fundadoras se chamava exatamente Maria Machado, o que tornou ainda mais engraçada a festa.
“Na novela, tinha a personagem da Maria Machadão. Então, nos reunimos e fizemos essa grande festa com o tema Bataclã da Maria Machadão. Fomos fantasiadas e todas nos divertimos muitos. É um dia que ficou para sempre em minha memória”, conta Zuleika Gonsalves.
Em outras datas festivas, as comemorações também são especiais. “No Natal, fazemos um jantar especial com ceia e amigo secreto”, relembra. “São momentos que fortalecem a amizade mesmo”.
Vida longa ao clube!
Hoje, é mais do que notável que as pessoas estão cada vez mais distantes. A própria tecnologia criou o paradoxo de uma “aproximação distante”. Prova disso é só olhar nas mesas de bares e restaurantes. Amigos lado a lado, porém, vidrados em seus smartphones. O Clube da Alegria é exatamente a oposição a essa nossa realidade. Elas preferem se encontrar uma vez mensalmente para por o papo em dia. E fazem isso, de forma sagrada.
Atualmente
Hoje em dia, 11 amigas mantêm o compromisso de se encontrar todo mês. Seis delas são fundadoras do grupo: Zuleika Lemos, Ana Maria Fraile, Marly Cintra, Myrthes Tessari, Vilma Pagani e Olézia Neves. As outras cinco participantes atuais são: Alaíde Jacob, Mara Vieira, Nelma Mendes Barnuth, Léa Franco de Bernardi e Guida Ribeiro de Barros.