O conceito de vida para o existencialismo de Sartre é a consciência do nosso papel na sociedade. A vida se inicia, para alguns religiosos, no momento da concepção com o espermatozoide adentrando no óvulo. Mas, para outros religiosos, a vida começaria em algum momento ainda não precisamente determinado, quando o espírito assumiria aquele corpo como seu! Os religiosos deveriam conhecer a Embriologia: ela é linda e deveria ser ensinada na catequese!
Os cientistas não conseguem estabelecer um conceito muito prático sobre o que é vida! Os das áreas biológicas tendem conceituar a vida como qualquer coisa que se apresente com metabolismo próprio. Os vírus, por exemplo, precisam parasitar uma célula para usar a sua maquinaria alheia e reduplicarem. Os vírus não têm metabolismo próprio e por isso não são considerados formas de vida!
Os físicos e cientistas da astronomia, matemática, química e demais áreas exatas voltadas para a história palpável, mensurável e reproduzível da terra e multiverso adotam o conceito de vida a partir da conjunção de átomos e outras moléculas para formarem compostos com um mínimo de lógica funcional. Onde existe água, existe vida!
Pode-se convencionar um conceito, mas na esplêndida beleza da fina flor da mais pura verdade: não sabemos o que é vida, onde começa e termina a vida. Enquanto isto continuamos estabelecendo parâmetros com base na crença e no achismo.
Como está?
O pré-embrião até o 13º dia ainda representa uma coleção de células muito iguais. O embrião dura até o início do terceiro mês de gestação e não tem a forma de um humano. A partir deste ponto dará para reconhecer como um ser humano em formação e passa-se a chamar feto! No ventre materno não temos uma criança: pode-se ter um embrião ou um feto! Criança apenas depois que nasce!
Embrião e feto ficam imersos em um líquido amniótico ingerido, processado e excretado pelos seus rins de forma contínua, até o nascimento. Células descamadas do embrião/feto flutuam neste líquido e podem ser coletadas a partir de amostras para serem analisadas em laboratório, tal como fazemos com células da urina, saliva, lágrimas.
A placenta é o filtro e interface entre o organismo materno e o embrião/feto. Mas este filtro não é perfeito e deixa passar algumas células e ou seus fragmentos que acabam circulando pelo sangue materno. Indo para o lado prático, com seringas e cuidados podemos coletar porções de líquido amniótico ou então de sangue materno como em um simples exame de rotina.
A partir do sangue materno podemos analisar o manual do proprietário do embrião/feto conhecido como “genoma” que, em vez de papel, é feito de um material a base de DNA. Este manual tem 25 mil itens ou genes e se estiver sendo escrito errado vai ter problemas de funcionamento do organismo após o nascimento! O manual tem 23 fascículos feito de DNA e são conhecidos como cromossomos, cada um com mais ou menos 1000 itens ou genes. Tem ainda 23 cópias ou back-ups.
Bem antes de nascer
Após a 9ª semana de gestação, no Brasil ampliou-se o número de síndromes frequentes e severas que podem ser diagnosticadas pelo DNA de células fetais que estão circulando no sangue da mãe. Síndromes são distúrbios múltiplos de desenvolvimento severos e que comprometem varias funções e estruturas que limitam muito a qualidade e abreviam o tempo da vida.
As síndromes que poderiam ter seu diagnóstico antecipado para antes do nascimento tem graves alterações nos cromossomos do portador como a duplicação de um deles. São as síndromes de Down, Patau, Edwards, Turner, Triplo X, Klinefelter e triploidia. Agora, síndromes com alterações menores como apagamento de alguns genes chamado de microdeleção também podem ser identificadas tais como as de DiGeorge, Prader Will, Angelman, Cri du Chat e deleção 1p36.
Os idealizadores de tal exame afirmam que a finalidade do diagnóstico de síndromes antes do nascimento é preparar a família em todos os seus aspectos e abreviar a aceitação dos pais. A abordagem deste assunto sempre suscita uma questão entre as pessoas: se justificaria um aborto nestes casos de diagnóstico tão antecipado de síndromes? Qual seria o limite ético, moral, religioso e legal para tal decisão?
Reflitamos!
Observatório
Castigos? De 1817 a 1826 Johann Friedrich Meckel, professor da Universidade de Berlin, estabeleceu uma nova especialidade: a teratologia. Seus estudos sobre os monstros, como eram chamados os portadores, provaram que os distúrbios do desenvolvimento como as síndromes não eram resultantes de castigos divinos individuais/familiares ou frutos de criações diabólicas, como se acreditava na época: eles resultam de alterações biológicas durante a gestação.
Embriologia. Em 1827, Karl Ernest von Baer, professor da Universidade de Vongsberg na Prússia, estabeleceu os princípios da Embriologia com base na proliferação celular após a fecundação, iniciando-se os estudos sobre a origem dos órgãos e tecidos. As religiões foram concebidas muito antes destes conhecimentos serem difundidos e muitas ainda acreditam que síndromes sejam castigos divinos.
Alberto Consolaro é?professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC.
Comunique-se: email: consolaro@uol.com.br