A cidade de Iacanga (50 quilômetros de Bauru) serviu de cenário para um filme na década de 70. Equipes de filmagens, artistas cruzando as ruas e uma movimentação fora da rotina. O filme “Mágoa de Boiadeiro” estrelado por Sérgio Reis, Maria Viana, Eduardo Abbas, Bentinho, Jesus Padilha dentre outros foi rodado em áreas do município. O drama rural de 90 minutos teve um avant première em Iacanga e foi exibido em várias sessões diárias.
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Cenas e cartaz do filme “Mágoa de Boiadeiro”, com Sérgio Reis |
O jornalista aposentado Marcos Vieira da Silva, hoje com 73 anos, explica que, a cidade foi escolhida para as locações do filme, graças a amizade do então prefeito Sérgio Martiniani (já falecido) com o cantor e ator Sérgio Reis.
“Um ano antes, a mesma produtora filmou o ‘Menino da Porteira’ nas cidades de Borborema e Tabatinga. O Sérgio Reis veio fazer um show em Iacanga e o prefeito e ele ficaram amigos. Como o artista procurava uma área rural para locação do filme, eles fizeram um acordo. O prefeito cedeu a chácara dele para acomodação das equipes técnica e artística. Já na sondagem do local, eles descobriram uma estradinha de terra, à época, onde poderia ser feita algumas cenas. Hoje, a estrada está asfaltada e nem parece mais a mesma.”
Silva se entusiasma e se emociona ao falar do passado que ainda está presente em sua memória. “Foi uma agitação só. Um burburinho que corria a cidade. Todo mundo só falava no assunto. De repente Iacanga se transformou em uma Hollywood tupiniquim. Tivemos a glória de ter um avant première nacional aqui. O filme foi exibido em muitas sessões diárias com o cinema cheio.”
Fotos que poderiam mostrar como foi a fase de cinema de Iacanga são raras. Na época, as máquinas fotográfica registravam as imagens em filmes e a revelação tinha um custo alto. Nem mesmo a Secretaria Municipal de Cultura tem fotos. Os poucos registros estão na posse da coordenação de Turismo que tenta resgatar e fazer um plano para atrair turistas.
O locutor de rodeio Alexandre Tose de Campos promete resgatar algumas das tradições da época. Ele está promovendo uma cavalgada que fará o mesmo percurso mostrado no filme.
Cavalgada vai rememorar o filme
No próximo dia 30 de novembro, uma cavalgada será realizada em Iacanga para resgatar parte da história da cidade, aquela que andar pelas ruas era sinônimo de encontrar com artistas e com eles poder compartilhar da rotina de uma cidade que na época não tinha mais de seis mil habitantes.
O organizador da cavalgada, Alexandre Tose de Campos, explica que a expectativa de público era de 400 pessoas, mas com a divulgação e a página no Facebook, esse número deve saltar para 700. “A festa é beneficente. Vamos realizar um minileilão com tudo o que for doado em benefício da Paróquia de São João Batista.”
O inusitado é que os animais serão leiloados e entregues para a melhor oferta, em pé. “Ganhamos carneiro, leitoa e frangos. Tem ainda ventilador, bolsa térmica para pesca, roupas, bichos de pelúcia e tudo o que conseguir arrecadar no comércio até o dia do leilão.”
Campos espera promover a maior cavalgada da região e repeti-la todo ano. “Tem muita gente se inscrevendo. Não só de Iacanga, mas de Pederneiras, Bauru, Arealva, Reginópolis e demais cidades. Duas comitivas participantes vão levar burro cargueiro, muito usado na época. Estou procurando um carro de boi. Vai ter ‘berranteiro’ e todo o trajeto será embalado pela música ‘Mágoa de Boiadeiro’, título do filme.”
Quem quiser participar do evento com carro, moto ou caminhão também são bem-vindos. “Quem não quer ir a cavalo, vai com outro veículo. Quem quiser ir só para almoçar, também pode. A festa é no salão de festa da igreja Santo Antônio no bairro Ribeirãozinho. É uma igreja antiga, rústica mesmo.”
A cavalgada termina quando o almoço for colocado à mesa, comenta Campos. “Vai ter um porco no rolete. Se as pessoas quiserem ir só para almoçar, também pode. Basta se inscrever para termos uma ideia de quantas pessoas irão, não faltar e nem sobrar comida.”
Filme rendeu boa bilheteria para o Cine Santa Cecília
O cine Santa Cecília de Iacanga, filho único, viveu seu apogeu financeiro e de público com a exibição do filme “Mágoa de Boiadeiro” na década de 70. Os proprietários do cinema, na época, eram os irmãos Dorival e Durvalino Ferreira de Campos. Hoje, o cinema não existe mais e em seu lugar será instalado um Centro Cultural. A prefeitura comprou o prédio que passa por reformas.
Dorival Ferreira de Campos Filho lembra com saudade da época que Iacanga recebeu artistas e equipe de filmagens. “Eu tinha pouco mais de 35 anos. Eu trabalhava com som e ajudei muito a equipe de produção, especialmente no campo, onde usávamos som tocado a bateria. O filme foi recorde de público e de bilheteria. Ganhamos muito dinheiro com a exibição.”
O cinema tinha cerca de 600 lugares e o filme teve o avant première na cidade, foi exibido durante 10 dias seguidos. “Com três a quatro exibições diárias. O pessoal da região prestigiou bastante. Vinha gente de longe para assistir ao filme aqui”, comenta.
Dorival lembra que as cenas gravadas durante todo o dia eram vistas no cinema. “As cenas eram gravadas e exibidas a noite no cinema durante as filmagens. A companhia era pobre e, se as cenas não tivessem ficado boas, eram refeitas no dia seguinte. A prefeitura e alguns moradores ajudavam. Tudo era visto antes de ser editado.”
Com o advento das novelas e a facilidade das pessoas em comprar um aparelho de TV, o cinema fechou. “Vendi as máquinas do cinema, porque ninguém mais frequentava as salas de cinema no País. Homem não assistia novelas até a exibição de ‘Pai Herói’. A partir daí, eles passaram a assistir novelas e as salas de cinema começaram a fechar.”
O coordenador de Turismo da cidade de Iacanga, Geraldo Cardia, comenta que da época pouca coisa foi registrada. “Não temos foto na prefeitura. Talvez algum morador tenha, mas estávamos tentando angariar informações e registros para fazer um histórico.”
Segundo Cardia, o prédio do cinema foi um comércio e agora passa por reformas. “Recentemente recebemos uma verba para a compra de som e iluminação. Provavelmente no ano que vem, a obra será entregue. Do prédio ficou a fachada, o interior foi totalmente remodelado, refeito.”
O jornalista Marcos Vieira da Silva lembra que conhecia os donos do cinema. “O cine Santa Cecília era dos irmãos Dorival e Durvalino. Hoje, só o Dorival, conhecido por professor ‘Fião’ mora aqui. O Durvalino mora em Bauru.”
Ele conta que, nos dias de exibição do filme, o Centro da cidade onde está localizado o prédio ‘fervia’ de gente. O comentário na cidade era sobre as pessoas que apareciam como figurantes. “Eu fui um deles. Pensei até que não fosse sair, mas quando vi o filme editado, eu estava lá,” lembra o jornalista.