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Filho fica em estado vegetativo e pai não aceita alta do hospital

Cinthia Milanez
| Tempo de leitura: 4 min

A Polícia Civil de Bauru investiga uma possível negligência médica no caso de Leonardo dos Santos Magalhães, 14 anos, que chegou no hospital há quase dois meses com fortes dores abdominais. Segundo a família, o diagnóstico tardio de apendicite teria provocado uma infecção generalizada e, durante a cirurgia, o garoto sofreu parada cardiorrespiratória, que o deixou em estado vegetativo. Mesmo assim, ele teria recebido alta, mas o pai se recusa a tirá-lo de lá.

Olavo Pelegrina Junior, advogado da família, analisou os prontuários médicos de Leonardo  e afirma que ele deu entrada no Hospital São Lucas às 3h54 do dia 14 de setembro deste ano com dores abdominais e vômitos. Depois de receber medicamentos para combater os sintomas, o menino foi para casa. Contudo, as dores não diminuíram e o garoto retornou ao hospital às 19h46 do mesmo dia.

Foi aí que surgiu a suspeita de apendicite, conforme registrado no prontuário médico. Porém, o advogado conta que Leonardo só foi fazer uma ultrassonografia às 10h40 do dia seguinte. “Ele passou a noite agonizando de dor”. Por conta do diagnóstico tardio, o menino desenvolveu uma infecção generalizada e foi para a sala de cirurgia em estado grave. Durante o procedimento, acabou sofrendo uma parada cardiorrespiratória.

Como faltou oxigenação no cérebro, Leonardo teve uma lesão no órgão e, por conta disso, não fala, não anda e só consegue se alimentar através de uma sonda parenteral. Ele está internado no hospital, mesmo após a alta. “Por enquanto, a família não tem condições de cuidar de Leonardo em casa. Ele tem de fazer um procedimento de aspiração de líquido no pulmão e os pais não têm habilidade para isso”, argumenta Olavo Pelegrina Junior.

Medidas

O advogado da família fez um pedido de instauração de inquérito para a Polícia Civil e, ao mesmo tempo, registrou um boletim de ocorrência (BO) contra o hospital por lesão corporal grave, já que houve perda de funções. “Nós estamos tomando todas as medidas possíveis para garantir que o adolescente receba os cuidados necessários e seja ressarcido pela dor que sofreu”, justifica.

Para o delegado responsável pelo caso, Eduardo Samuel Sganzela, a polícia não descarta a hipótese de negligência médica, mas ainda precisa investigar. Na manhã de anteontem, inclusive, Sganzela enviou ofício à diretoria do hospital para requisitar os nomes de todos os profissionais que cuidaram de Leonardo no decorrer de quase dois meses. Todos eles serão ouvidos.

Outras 12 testemunhas levantadas pelo advogado da família também prestarão depoimento à polícia. Sganzela pediu um exame de corpo de delito ao Instituto Médico Legal (IML) para analisar a condição física do paciente. Diante disso, o inquérito não deverá ser concluído em menos de quatro meses. O JC procurou o responsável pelo São Lucas, mas ele preferiu não se posicionar sobre o caso.

Trajetória

Quando era criança, Leonardo não deu trabalho aos pais. Com a mãe cabeleireira e o pai pintor, o dinheiro sempre foi apertado em casa e, por isso, o garoto começou a ajudá-los logo aos 9 anos. “Ele sempre gostou muito de trabalhar”, orgulha-se a mãe Cristina dos Santos. Antes de ficar doente, Leonardo fazia parte do Consórcio Intermunicipal da Promoção Social (Cips) e trabalhava de ajudante na feira aos domingos.

Nas horas vagas, o garoto se dedicava aos estudos. “Nunca faltou um dia sequer da escola”, acrescenta o pai.

Os pais ainda têm fé na recuperação do filho. “Parece que estamos vivendo um pesadelo, mas acredito que iremos acordar em breve”, desabafa Cristina. Já o marido dela permanece inconformado. “Meu filho entrou no hospital andando e sairá em estado vegetativo”, conclui.

Ameaças?

Nesta terça-feira, a Hospital São Lucas registrou um BO por ameaça contra o pai de Leonardo, Marcelo Magalhães. Apesar de registrado só agora, consta que o homem teria ameaçado funcionários de morte no último dia 29.

O pai do garoto alegou, ao JC, que não houve ameaças. Diz somente que ficou nervoso e elevou o tom de voz.


Ferimento

No último dia 3 de outubro, os pais de Leonardo identificaram uma queimadura na perna esquerda do menino. Na ocasião, eles questionaram um enfermeiro, que alegou desconhecer a causa da ferida. Outra reclamação da família é que o garoto precisa ser sempre movimentado para evitar escaras. Certa madrugada, ninguém apareceu no quarto. O pai foi procurar ajuda, quando alega que se deparou com um funcionário dormindo. Ele fez um vídeo com o fato.

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