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Festival reuniu milhares de pessoas em 75, mas não conseguiu repetir o sucesso na edição de 1984 |
O Festival de Águas Claras de 84 se realizou pela metade. A chuva não permitia que os artistas se apresentassem e com um dia e meio de duração, ele foi encerrado. Nunca mais evento semelhante se realizou na região. Leivinha, o realizador, passou a ser Antônio Checchin Júnior e assumiu o papel de advogado e empresário. Atualmente, ele mora na Chapada dos Guimarães (MT) onde tem um restaurante e uma pousada. “Quando acabou o Festival de 84 resolvi parar com o evento e sai para viajar. Acabei gostando do Mato Grosso.”
Checchin Júnior confessa que achou que estava fora da hora continuar fazendo o evento. “Estávamos entrando num processo de liberdade democrática. Aquelas reuniões que a gente organizava com o propósito de interagir com as pessoas de diversas partes do País já não tinha tanta razão. Organizar o festival passou a ser muito complicado. Por exemplo, no último festival o pessoal ligava para saber onde o aviação ia descer porque em Bauru não tinha teto e o aeroporto era precário. Uma série de problemas dificultavam a realização.”
Ele confessa que no último festival já estava improvisando. “Eu estava correndo risco de não ter artista para colocar no palco e ser linchado pelo público. Comecei a improvisar. Achei que era hora certa de parar. O público que começou a ir, da redondeza, tinha outra expectativa. A nossa ideia inicial de levar arte ao Interior Paulista porque naquele tempo não tinha, estava com fora do contexto.”
Checchin lamenta que a cidade não tenha assimilado o festival. “Ainda hoje em qualquer lugar tem gente que fala de Águas Claras. Pessoas me reconhecem. Tenho um mural onde as pessoas podem ver algumas das publicações. São pessoas do interior ou de fora do Brasil. Elas admiram o evento e dizem que ouviram falar, ele marcou época. Foi o primeiro evento grande musical do Brasil no interior, antes de Rock in Rio. Foi um marco naquele tipo de comportamento social. Mostrou a interação das pessoas. Mostrou que era possível você conviver com vários tipos de cultura. Com gente do norte e nordeste, sem problemas, sem brigas.”
Na opinião dele, o Festival de Águas Claras foi uma grande quermesse. “Porque reuniu em um único local música, circo, mágicos. Os palhaços faziam a segurança e intervenções no palco, era uma coisa muito brasileira, e mais brasileira que quermesse não existe.”
Águas Claras não foi só música. “Moçada do interior nunca tinha ouvido falar de Egberto Gismonti, Gilberto Gil. Foi atípico, a gente achou interessante reunir os músicos populares e apresentar isso. Teve outros tipos de arte. Tivemos exposição de quadros, livros, circo com o globo da morte, tai chi chuan e balonismo.
