Malavolta Jr. |
|
|
Nada melhor do que o silêncio para ajudar a refletir e fortificar a fé, pontua Terezinha de Jesus |
Ela já recebeu até apelido por parte dos filhos e amigos por gostar de falar e quase nunca se esquivar de uma boa roda de conversas. Mas hoje, Sexta-feira Santa, a católica praticante Terezinha de Jesus Aragão Domingos, de 68 anos, promete um jejum para lá de diferente. Sem rádio e TV ligados e sem grandes prosas com o marido e filhos, ela manterá a tradição do que ela mesma chama de “jejum do silêncio”.
O motivo para tanto fervor da atitude que já virou tradição após alguns anos de prática ela - que tem Jesus até no nome - mesmo faz questão de explicar. “É preciso mais do que não comer carne ou jejuar. Neste dia, o importante é a reflexão. E nada melhor do que o silêncio para ajudar. Por isso, busco me controlar o máximo possível”, ressalta a dona de casa.
A exceção, contudo, ocorre durante a celebração às 15h na paróquia Sagrada Família, onde ela, que também é presidente do apostolado da oração da igreja, puxa o coral. “Aí eu solto a voz, mas, depois, procuro ficar quieta”, detalha.
Tradições
Responsável pela paróquia Santa Luzia, o frei Alfredo Francisco de Souza explica que, nesta data, assim como na quarta-feira da Semana Santa, há uma recomendação aos fieis por parte da igreja Católica de praticarem o jejum, a abstinência e o silêncio, como forma de relembrar a crucificação e morte de Jesus, acompanhando os passos de seu sofrimento.
“Este jejum significa se recolher, tirar um pouco do corpo para dar mais à alma e trazer a reflexão. Muita gente deixa de comer carne neste dia, mas acaba se enchendo de peixe, aí não adianta muito”, esclarece Frei Alfredo.
Neste dia, geralmente, as imagens dos santos são cobertas por panos, com a intenção de mostrar o luto e não tirar a atenção do Cristo crucificado. “Têm fieis que fazem caminhada penitencial ou não ligam o rádio ou a TV”, reforça o frei.
Sem missa
|
Aceituno Jr. |
|
Dom Caetano lavou os pés dos fiéis na missa nessa quinta, na Catedral |
Nessa quinta (2), a missa de Lava-Pés, realizada na Catedral do Divino Espírito Santo, em alusão à passagem bíblica na qual Jesus reuniu pela última vez seus apóstolos para uma ceia e instituiu os sacramentos da Eucaristia e Sacerdócio, reuniu centenas de fieis.
O dia da Sexta-feira Santa é o único dia do ano em que não há missa em todo o mundo, pois não há a consagração do pão e do vinho. Nas celebrações realizadas em todas as igrejas, em sua maioria a partir das 15h, comungam-se as hóstias consagradas na última quinta-feira.
De noite, também é comum as paróquias realizarem teatros sobre a Paixão de Cristo e, principalmente, procissões luminosas, em que os fiéis caminham pelas ruas próximas às igrejas levando velas, cantando e rezando.
|
Há também a procissão do encontro, na qual as mulheres partem de um ponto ou capela levando a imagem de Nossa Senhora das Dores e os homens, de outro local, saem com a imagem do Senhor Morto. Os encontros de procissões costuma ocorrer na matriz paroquial.
Na paróquia Santa Luzia, por exemplo, o grupo que apresentou a encenação da passagem bíblica referente à Páscoa no Parque Vitoria Régia nos últimos dias, participará de uma encenação durante a procissão da igreja, às 20h, que terá saída das proximidades da escola Etelvino Rodrigues Madureira e seguirá até a capela da paróquia.
Sábado de Aleluia
A Vigília Pascal, celebração mais importante do calendário cristão - por ser a primeira celebração da ressureição -, é quando os fiéis começam a comemorar a Páscoa, no Sábado de Aleluia. Nela, o chamado fogo novo acende o Círio Pascal, vela com símbolos da Páscoa e do sacrifício de Jesus, como os cravos, à semelhança dos que foram usados na crucificação.
O Círio conduzido pelo padre ou bispo entra na igreja, que está com as luzes apagadas, e representa Cristo Ressuscitado, vitorioso sobre a morte.
“Cristo é a Luz que ilumina o mundo e que entra na igreja para iluminá-la com a Sua ressurreição”, afirma o religioso. O Círio é seguido pelos fiéis em procissão, anunciando a vitória da Luz de Cristo sobre as trevas.
No domingo de Páscoa, as igrejas comemoram a ressureição, geralmente a partir das 7h. Na Paróquia Sagrada Família, uma procissão está marcada para as 5h30.
“É a principal festa da Igreja”, ressalta o Frei Alfredo.
Arrumar a cama e lavar a louça nesta Sexta-feira Santa nem pensar...
Em clima de velório. É assim que a Sexta-feira Santa amanhece na casa da família da professora aposentada Leslie Regina Simões Domingues, de 44 anos. Além do peixe, o “prato” principal da família, moradora do Bauru 16, hoje, será o descanso.
“Não cozinho, não arrumo a cama, não lavo louça... não faço nada que for serviço doméstico. Ajo como se realmente estivesse no velório de alguém muito querido”, detalha.
A tradição surgiu ainda na infância, segundo ela. “Minha mãe não deixava nem pentearmos o cabelo nesse dia. Cobríamos todos os espelhos de casa e guardávamos o violão em cima do armário. Era tudo bem rígido”, lembra a mulher. Após um café da manhã, não muito reforçado, a rotina de Leslie se resume em ir à igreja rezar.
Diferentemente da família de Terezinha, Leslie diz que seu marido e sua filha de 29 anos, que residem na mesma casa, são adeptos.
“Geralmente, eles estão trabalhando neste dia, mas, quando estão em casa, respeitam a tradição, que já estou até passando para os meus netos”, finaliza.


