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Produto, que deve ser usado para fins veterinários, custa cerca de R$ 10,00 |
Obter uma disposição literalmente “animal” para conseguir peitoral, abdome, pernas e braços sarados com pouco tempo de exercícios físicos. É isso que buscam os usuários do Potenay, um suplemento alimentar à base de mefentermina - substância química da classe das anfetaminas (leia mais abaixo) - de uso estritamente veterinário, mas que tem sido utilizado de forma indiscriminada e irresponsável na busca pelo corpo idealizado como perfeito.
As consequências para o uso de tal medicação, contudo, é o que tem preocupado médicos, profissionais da área de preparação física e até a Polícia Civil.
Com menos de R$ 10,00 é possível adquirir este tipo de medicação para animaos via Internet ou em lojas de produtos agropecuários.
O frasco mais comum possui 10 mililitros, o que renderia uma dose única para animais com peso superior a 100 quilos.
Vale pontuar que o uso do Potenay é recomendado para situações pós-cirúrgicas de animais, com destaque para o fortalecimento dos equinos.
“Como não é um produto farmacêutico, há uma facilidade maior de compra, mas os efeitos em humanos podem ser desastrosos e até fatais”, alerta o docente e educador físico da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Dalton Müller Pessôa Filho, que possui experiência em análises biomecânicas.
Uso indevido
Com efeito estimulante, o Potenay tem sido utilizado de forma injetável e intramuscular para quem quer ganhar músculos.
“Com a substância no organismo, a pessoa consegue uma evolução mais rápida nos treinos, pois tende a apresentar um vigor físico aumentado o que fará com que suporte mais e force mais durante as atividades”, comenta Filho.
O que, segundo ele, pode desencadear lesões por excesso e o mais grave: o usuário pode ser acometido de uma parada cardiorrespiratória.
O alerta é mantido pelo médico cardiologista Roberto Chaim Berber, que compara ainda o efeito do produto derivado da anfetamina ao ecstasy.
“É uma substância que eleva a pressão arterial, causa arritmia, insônia e aumenta a chance de a pessoa desencadear problemas psiquiátricos e cardiovasculares”, detalha o médico, complementando que o consumo desses tipos de substâncias tem sido cada vez maior.
O professor Dalton Müller Pessôa Filho lembra ainda que independentemente de seu efeito vitamínico e mesmo que não gere sozinho o crescimento da massa muscular, como é o caso dos anabolizantes, o estimulante é considerado uma forma de doping.
Em Bauru
Nos últimos dias, o JC publicou a carta, intitulada “Na madrugada”, de uma moradora da região do Jardim Aeroporto. Ela criticava a postura de jovens, que teriam passado a madrugada do dia 22 de março, em frente à sua casa bebendo.
Na ocasião, ela diz ter observado, em meio ao lixo deixado pelo grupo no local, alguns frascos de Potenay, misturado às garrafas e latas de bebidas alcoólicas.
O fato teria ocorrido na quadra 35 da rua Araújo Leite. “Sim, isso mesmo, produtos veterinários que os infelizes se injetam, talvez para ganhar alguns minutos mais de ereção... ou beber mais ainda... Quem sabe?”, criticou a mulher de 50 anos que também cobrava ação mais efetiva do poder público.
Infarto
Uso em humanos aumenta a pressão arterial, causa arritmia e aumenta chances de parada cardiorrespiratória.
Mefentermina
Trata-se de uma substância química da classe das anfetaminas, presente em medicamentos de uso estritamente veterinário.
Já utilizado em seres humanos como hipertensivo pós-anestésico por alguns anos, seu uso foi proibido por conta da quantidade de efeitos adversos que causava e por não haver controle sobre a resposta hipertensiva.
Trata-se de um termogênico condenado por profissionais da área de saúde por causar dependência e morte.
Polícia enfrenta obstáculos para apreender esse tipo de substância
Arquivo/Malavolta Jr. |
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Cledson Nascimento: “Apesar de ser lícito, flagrante de aplicação pode gerar contravenção” |
Na contramão do uso irregular de substâncias com essa finalidade, a Polícia Civil tem tentado agir. “Mas não há como apreender, pois não é um produto ilícito. A não ser que haja flagrante de uma pessoa aplicando o conteúdo na outra, o que poderia gerar uma contravenção, por conta da exposição do perigo à saúde de outrem”, pontua Cledson Nascimento, titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) da Central de Polícia Judiciária (CPJ).
Uso letal
Outra forma de penalizar pelo uso indevido do Potenay seria por meio de investigações, após o registro de lesão corporal ou morte que tivessem o fato relatado no histórico indicando o suposto aplicador. Mas, para isso, o exame toxicológico para a substância em questão também teria de ser positivo. “A forma mais fácil de combater esse tipo de atitude é ampliando a fiscalização dos órgãos de saúde competentes nesses pontos de venda”, acrescenta o delegado, em tom de alerta.