Alex Mita |
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O empresário Evandro Mendes buscou inspiração na internet e material no ferro-velho para decorar seu bar |
O que não serve mais para alguns pode valer muito para outros. A prática constatada na frase que abre esta matéria pode ser notada diariamente nos pontos de descarte de Bauru. Toneladas de material reciclável chegam diariamente às cooperativas, ferros-velhos e Ecopontos do município. Entre o que terá a reciclagem como destino chega móveis, material de construção e eletroeletrônicos em boas condições de uso, o que faz desses lugares destinos de garimpo de moradores movidos pela necessidade e/ou criatividade.
Os frequentadores dos bares da avenida Getúlio Vargas certamente já devem ter notado a decoração particular de um deles. Proprietário do Galpão Paulista Beer, Evandro Silvestrin Mendes buscou inspiração na internet para decorar o espaço badalado. A inspiração veio da internet, mas foi de um ferro-velho que saiu o material usado para dar vida às mesas que decoram parte do ambiente cujo tema é antiguidade. “Eu estava buscando mesas rústicas na internet quando tive a ideia de produzi-las. Fui até um ferro-velho e comprei dez latões de óleo, desses de 100 litros cada. Restauramos nós mesmos e colorimos com os símbolos das bebidas vendidas no bar”, recorda.
Além de imprimir personalidade à decoração, a originalidade do bar em questão é pautada na sustentabilidade, já que os latões foram reutilizados, assim como outros elementos que compõem o cenário. A economia também foi grande. Cada tambor custou R$50 ao empresário. Uma mesa nova, parecida com a feita por ele, custaria em torno de R$450.
“E posso garantir que o retorno é garantido. A clientela gosta muito. Hoje, quanto mais criativo o seu negócio, mais destaque ele tem”, acredita
Mil utilidades
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Douglas Reis |
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“No ferro-velho, as pessoas buscam por itens de decoração, na maioria das vezes”, comenta o empresário do ramo Delton dos Santos |
Delton dos Santos é proprietário de um ferro-velho localizado na quadra 3 da rua Floriano Peixoto, Centro. Em meio aos milhares de quilos de sucata que chegam ao espaço diariamente, objetos que rementem ao passado chamam a atenção de colecionadores e pessoas em busca de material que sirva para decorar ambientes rústicos e temáticos. “É comum chegar pessoas em busca de objetos para decorar festas temáticas. Houve casos de clientes que compraram peças para festa country, como caldeirão, ferraduras e outras coisas que lembram a roça. Também há quem procure peças de carro para fazer festas com essa temática”, enumera.
Escultores em busca de barras de ferro e aço para dar origem à sua arte também costumam frequentar ferros-velhos, segundo o proprietário. “Tudo depende da criatividade, eu costumo dizer. A sucata pode ter mil utilidades. O que está tendo bastante procura são os pés de máquina de costura do passado. As pessoas gostam de colocar um tampo de vidro e, assim, nasce uma mesinha”.
Ecopontos são ‘pontos de ‘garimpo’
Moradores encontram de móveis a material de construção que podem ser reutilizados; Bauru conta com sete áreas que recebem o descarte
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Malavolta Jr. |
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No Ecoponto Edson Francisco da Silva, o zelador Valmir dos Santos guarda brinquedos e objetos de decoração para doar às crianças do bairro |
Bauru conta com sete Ecopontos. Áreas públicas criadas pela prefeitura, por meio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), para a captação de pequenas quantidades de entulho (até 1m³) de pequenos geradores, além de madeira, plástico, metal, vidro, papel e papelão, móveis e eletrodomésticos. Muitos desses objetos chegam ainda em condições de uso, o que chama a atenção de moradores que “garimpam” esse material diariamente nos Ecopontos.
“Roupas e sapatos, além de eletrodomésticos estão entre a maior procura dos moradores que passam por aqui todos os dias. Chega muita coisa em bom estado. O que não serve para um, agrada outros. Não é assim?”, comenta o zelador do Ecoponto Edson Francisco da Silva, Valmir Antônio dos Santos.
Entretanto, neste ponto de coleta, em específico, o que chama a atenção são os brinquedos em miniatura colecionados pelo zelador. São dezenas e dezenas deles. Muitos são por Valmir restaurados para fazer a alegria das crianças.
“Vem muito brinquedo com o material que recebemos. Eu pego, conserto os que precisam e decoro o quartinho aqui. Sempre vêm crianças em busca de brinquedos. Então presenteio esses pequenos”, conta.
Mas além dos carrinhos e bonecos, Valmir também restaura quadros, relógios de parede e outros enfeites. “Normalmente eu presenteio as pessoas com esses objetos. Ah, o meu celular foi encontrado aqui, também”, lembra.
‘Toda hora vem gente procurar alguma coisa’
Móveis, especialmente sofás, madeira, telha e canos de PVC. “De tudo um pouco. Na verdade, todos os dias vem gente aqui procurar por coisas que ainda podem ter serventia”, comenta o zelador Joaquim Francisco Vieira, sobre as visitas que o Ecoponto Antônio Eufrásio de Toledo, na Vila Falcão, recebe diariamente.
De acordo com o zelador, até pneu para usar como estepe está nessa busca. Já as telhas estão entre os materiais que menos ficam no Ecoponto. “É chegar e sair”, diz. Há ainda quem leve um determinado tipo de descarte e pegue outro. Como uma feira de troca. “Muita gente usa também canos para fazer o encanamento de canteiros de hortas em chácaras”, acrescenta.
Malavolta Jr. |
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Material de construção descartado também tem procura nos Ecopontos, como mostra o zelador Joaquim Francisco Vieira |
Malvolta jr. |
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“A gente traz ao Ecoponto o que não queremos mais, mas ainda pode servir para outras pessoas. Comprei um colchão novo para o meu pai e trouxe o antigo aqui”, comenta a representante comercial Kátia Brigido |
Há quem faça ‘encomendas’
Conhecidos pelos moradores dos bairros onde os Ecopontos estão instalados, os zeladores acabam fazendo amizade com a vizinhança e, muitas vezes, até recebem “encomendas” deles. “Se alguém jogar fora isso ou aquilo, liga para eu buscar porque estou precisando. É mais ou menos isso que acontece muitas vezes”, narra Claudio Roberto Alves, zelador do Ecoponto Mary Dota.
Fotos: Malvolta Jr. |
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No Ecoponto do Mary Dota, bonecas são levadas por vizinha para serem restauradas e doadas às crianças |
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Uma das vizinhas do Ecoponto em questão gosta de pegar as bonecas que chegam ao espaço para restaurá-las, quando precisam, e doar para crianças carentes. É uma prática comum, segundo Cláudio. “Um morador veio procurar um móvel com porta CD e não achou e pediu para eu avisar caso chegasse algum”.
Pedaços de madeira que chegam por lá também são reaproveitados pela vizinhança, principalmente por donos de pizzarias de forno a lenha. Há três anos, Claudio encontrou uma TV que funciona até hoje. “O modelo é antigo, mas funciona que é uma beleza”, diz.
Malavolta Jr. |
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‘Deixamos em exposição’
Zelador do Ecoponto Parque Viaduto, Walter Batista ressalta o prazer de separar o que é bom do que irá para as cooperativas de reciclagem para a popular aproveitar. “Nós deixamos em exposição. Afinal, o que não serve para um pode ser bem útil para outros”, ressalta.
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Pedaço de madeira ganha vida nova
É comum o uso de objetos descartados para a confecção de artesanato sustentável; no Geisel, casal faz brinquedos com madeira de caixotes
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Aceituno Jr. |
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Maria Antônia e Domingos Ormeda constroem brinquedos com caixotes de madeira descartados. A madeira que não serve mais para feirantes é transformado em brinquedos educativos e criativos |
Os caixotes de madeira que transportam frutas, verduras e legumes diariamente em Bauru têm as caçambas e Ecopontos como destino, certo? Correto. Mas não quando o caminho desses materiais se cruza com o casal Maria Antônia do Amaral Ormeda e Domingos Ormeda. Quando isso acontece, os pedaços de madeira se transformam em brinquedos educativos e pra lá de criativos.
“Pegamos os caixotes em feiras, quitandas, Ceasa/Ceagesp e, principalmente, nas calçadas e caçambas dos bairros. O que é material de desprezo para muitos, é material de trabalho para nós”, destaca Maria Antônia.
Domingos risca e corta a madeira e a borracha, também encontrada no lixo e os transforma em brinquedos de rodinhas, patinhos e pica-paus para as crianças empurrarem. Alguns modelos até batem as asas e têm direito a pés idênticos aos das aves, feitos com a borracha reutilizada.
Ainda há o ioiô cigano, feito com seis pedaços de madeira e que permite que crianças e adultos exercitem a criatividade ao tentar montar diversas formas geométricas.
Já o rola-bola é outro brinquedo desenvolvido pelo casal para instigar a concentração e que se joga com bolinhas de gude. O “basquete” é outro jogo de concentração e que exercita a paciência da garotada.
“Além desses brinquedos, criamos diversos modelos de caminhões, trens e móveis. Também fazemos outras peças de decoração, como galinhas feitas com pinha”, acrescenta Maria Antônia, que é a responsável pela cor que as peças recebem.
Aposentados
Segundo a artesã, formada em artes industriais e professora aposentada, o trabalho com a madeira é mais do que uma fonte extra de renda. É uma terapia. “Somos aposentados. Tenho 71 anos e ele, 77. Na nossa idade, muita gente é sedentária, não quer saber de mais nada. Nós estamos produzindo”.
O casal, morador do Núcleo Geisel, realiza este trabalho desde 2002 e atualmente produz cerca de 150 peças por mês, comercializadas em casa e em feiras com a Ubá, eventos da Associação dos Artesãos de Bauru, Parque Vitória Régia, Estação Arte e Praças Portugal e Anacleto.
Televisores e celulares lideram descarte de eletrônicos
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Douglas Reis |
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TV, celular e tablet estão entre os itens em bom estado encontrados no descarte que chega às cooperativas e Ecopontos; na foto, o administrador da Cootramat Valmir Moura |
A equipe do JC nos bairros percorreu os Ecopontos espalhados pelo município e conversou com os zeladores das áreas sobre a chegada de produtos eletroeletrônicos em condições de uso. Segundo eles, os televisores são os objetos dessa linha que chegam com maior frequência. Celulares também estão no descarte. O mesmo acontece nas cooperativas de reciclagem.
Valmir Moura é administrador da Cooperativa dos Trabalhadores em Materiais Recicláveis (Cootramat), no Jardim Redentor. Ele trabalha com material reciclável há mais de 20 anos e nota as mudanças no que tem chegado até a cooperativa. “O lixo mudou bastante. Antes, era só embalagens de papelão e plástico, praticamente. Hoje há os eletrônicos. É o que chamamos de material rico”, comenta.
Segundo Valmir, muito do que chega até os cooperados com a reciclagem como destino ainda estão em condições de uso. São roupas, sapatos e produtos eletrônicos como televisores, celulares e até aparelhos mais novos como tablets.
“Já teve gente que achou tablets funcionando perfeitamente. O mesmo acontece com celulares. As pessoas compram novos, tiram o chip e jogam o antigo. Computadores também chegam por aqui. Mas é claro que isso não é em grande quantidade e todo dia. Mas são objetos em funcionamento cada vez mais comuns nos lixos”, finaliza.



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