Cultura

Pérola única! 12 anos sem Mauro Rasi

Bruna Dias
| Tempo de leitura: 5 min

O nome Mauro Rasi é quase um sinônino para teatro. Uma pessoa ímpar, bauruense de nascimento, alma e coração, que, apesar de ter consolidado sua carreira artística em São Paulo e no Rio de Janeiro, nunca perdeu suas raízes. Hoje é aniversário de morte do dramaturgo: 12 anos sem a sua genialidade. Se estivesse vivo, teria hoje 66 anos.

 

Mauro Perroca Rasi (seu nome de batismo) foi o precursor do “besteirol”, a comédia do cotidiano, e inspirou muitos outros dramaturgos. Foi autodidata. Praticamente nasceu dirigindo peças, conforme conta a irmã Dinéia Rasi, 58 anos. 

 

“Eu me lembro que ele gostava de fazer as suas peças e apresentava no quintal de casa. Minha mãe tinha uma cortina velha e ele a usava como a cortina do palco. Todos participávamos. Ele só dirigia. Escreveu sua primeira peça oficialmente com 14 anos: ‘O duelo do caos morto’”, contou Dinéia.

 

Apesar de já ter nascido com essa “veia artística”, se inspirou no pai, Oswaldo Rasi, que fazia teatro amador quando jovem. Uma das casas onde ele costumava apresentar suas peças era a Sociedade Italiana Dante Alighieri, que ainda está localizada no Centro de Bauru. O casal Oswaldo e Pérola Rasi (ambos falecidos) constituíram família ali mesmo, na área central, mais precisamente na rua Bandeirantes. Tiveram apenas dois filhos: Mauro e Dinéia.

 

Arquivo JC

Mauro Rasi em Bauru com a peça Pérola em março de 1977, ao lado de Vera Holtz

Os ensaios do Mauro eram na casa dele mesmo, bem ali, em uma sala que acabou ficando intitulada como “A sala do Mauro”. Como de costume naquela época, o portão da casa costumeiramente sempre estava aberto, então as pessoas entravam e iam direto na “Sala do Mauro”.

 

“Mesmo depois que ele se mudou de Bauru, a porta do apartamento dele continuava aberta. Ele nunca perdeu essa alma de Interior antigo”, complementou a sobrinha Gabriela Rasi, 28 anos.

 

Ascenção

 

A vida de Mauro começou a mudar quando resolveu ganhar o mundo, com apenas 18 anos. Foi à Europa de navio com alguns amigos e lá conheceu muita gente. Fazia alguns “bicos” em teatros e aprendeu muita coisa nova.

 

“Ele fez várias peças com estudantes de Bauru, estudou piano no Conservatório Pio XII, na USC, e resolveu sair de casa com 18 anos para ir à Europa. Ficou um ano por lá e quando meu pai mandou uma passagem para  voltar, ele trocou o itinerário para os Estados Unidos. Lá permaneceu mais algum tempo”, complementou a irmã.

 

Quando voltou ao Brasil, foi direto para São Paulo. Com muitos contatos, começou seus primeiros trabalhos. Em Pérola (1996), um de seus maiores sucessos, ficou mais próximo da atriz Vera Holtz. O texto foi um ritual de adeus à sua mãe. Também adaptou uma peça escrita pelo pai: “O crime do doutor Alvarenga” (1999). 

 

“Ele fez uma peça dentro da peça escrita pelo meu avô. Era uma homenagem, mas meu avô morreu antes de vê-la encenada”, lamentou Gabriela. 

 

Entre suas peças de maior sucesso estão: “A Cerimônia do Adeus”, “A Estrela do Lar”, “Viagem a Forli”, “Ladies na Madrugada”, “O Baile de Máscaras”, “O Crime do Doutor Alvarenga”, “Pérola”, “A Dama do Cerrado” e “Alta Sociedade”.

 

Muitos dos textos fazem referências a situações familiares, em que os personagens femininos, como suas tias e sua mãe, sempre tiveram papel de destaque. O autor se inspirava muito em Bauru também. 

 

Na TV, escreveu para programas como “Armação Ilimitada”, “TV Pirata”, participou do programa “Fantástico” apresentando o quadro “A Hora do Alçapão”, e foi colunista do jornal “O Globo” de 1996 a 2003. Rasi era um dramaturgo popular e também fazia sucesso com a crítica. Foram ao todo 11 prêmios no teatro. “Acho que Bauru é a cidade mais famosa no Rio de Janeiro, não mais pelo sanduíche, mas pelo teatro”. Esta é uma das frases mais marcantes para definir a relação de Rasi com a sua cidade natal.

 

As tias

 

A família de Mauro era grande e unida, tanto por parte de pai, quanto por parte de mãe. E as suas tias sempre os inspiraram. “Ele gostava muito de ouvir as histórias das tias de sangue. Nossa família era grande e morávamos todos na mesma quadra, na rua Bandeirantes. Sempre nos uníamos e ele era o xodó da família. Tinha nove tias por parte de pai e sete por parte de mãe. Além das tias de sangue, costumava falar que tinha outras três tias: as professoras de piano, português e francês”. Foram essas três que inspiraram ele a escrever ‘As Tias de Mauro Rasi’. Mas as tias sanguíneas inspiraram muitas peças e inclusive as colunas que escrevia”, relatou a irmã Dinéia.

 

Memória

 

Em 1999, Mauro Rasi adoeceu. Foi acometido por um tumor na bexiga, recuperou-se, mas o câncer voltou em 2002, em estágio avançado. Ele montou praticamente uma sala de hospital em casa, com equipe médica e aparelhos. Nos últimos momentos da vida de Rasi, a irmã e a sobrinha Gabriela estavam lá. “Ele morreu como queria, em casa”, finalizou Dinéia.

 

Além de um legado incomparável, Mauro deixou seus queridos gatos: Morgana, Davi, Benjamin e o cão Otávio, todos de sobrenome Rasi.

 

 

Obras

 

1962  - O Duelo do Caos Morto

1965 - Depoimento

1966 - Razões para a Liberdade

1971 - A Massagem

1971 - El Cabaret

1971 - Os Bastardos

1973 - Ladies na Madrugada

1978 - As 1.001 Encarnações de Pompeu Loredo

1978- Se Minha Empregada Falasse

1980 - A Direita do Presidente

1981 - A Receita do Sucesso

1982 - Doce Deleite

1983 - A Mente Capta

1984 - A Família Titanic

1985 - Pedra, a Tragédia

1985 - Tupã, a Vingança

1985 - Batalha de Arroz num Ringue para Dois

1987 - A Cerimônia do Adeus

1988 - A Bofetada

1989 - A Estrela do Lar

1992 - Baile de Máscaras

1992 - Viagem a Forli

1995 - 5X Comédia

1995  - Pérola 1996 - A Dama do Cerrado

1996 - As Tias de Mauro Rasi

1999 - O Crime do Dr. Alvarenga

2001 - Alta Sociedade

2002 - Aqui se Faz, Aqui se Paga

2003- Ladies na Madrugada - Musical

 

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