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Entrevista da semana: Cristina Berriel Aidar

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 6 min

Alex Mita

"Temos um grande apoio da sociedade, porque Bauru é uma cidade solidária"

Empresária, mãe, amiga e ainda presidente da Associação Bauruense de Combate ao Câncer (ABCC). A personagem da Entrevista da Semana de hoje é uma dessas mulheres exemplos de fibra, determinação e humildade: Cristina Berriel Aidar. 

Aos 13 anos de idade, Cristina perdeu os pais em um acidente aéreo na França. Aos 18 anos, cuidava da irmã mais nova e do irmão mais velho. “Era eu quem assinava o boletim escolar da minha irmã. Era uma dona de casa. Não conseguia empregadas domésticas porque elas diziam que não trabalhavam em república. Eu não conseguia explicar que era uma casa de família”, lembra. 

 

Voluntária da ABCC há 35 anos e presidente pelo terceiro mandato, ela destaca conquistas, desafios e projetos da associação. “Entre eles está a compra de um autotransplante para Bauru. Queremos isso nos próximos dois anos. As pessoas precisam sair de Bauru para o tratamento e estamos falando de pessoas carentes, que não têm carro ou dinheiro”, ressalta. Leia mais, a seguir. 

 

Jornal da Cidade - Como começou o seu trabalho na ABCC?

Cristina Berriel Aidar - Eu comecei em 1980. Minha mãe era voluntária, inclusive da ABCC, e esse amor pelo voluntariado teve início com ela. Antes da ABCC, ela arrecadava amostras grátis de remédios com médicos e clínicas. Eu e meus irmãos separávamos tudo por ordem alfabética e as pessoas carentes iam até a nossa casa buscar os remédios com as receitas médicas. Depois ela entrou na ABCC. Minha tia Lyenne foi presidente da associação por mais de 20 anos. Ela me preparou e eu assumi, em 2011.

 

JC - Você foi reeleita recentemente...

Cristina - Para o meu terceiro mandato. Eu só tenho a agradecer a confiança da minha equipe. A entidade está caminhando bem, graças a Deus. Temos muitos parceiros, mas precisamos é de mais mensalistas. Hoje a associação é uma empresa, ou seja, deve ser cuidada com toda a responsabilidade de uma empresa. Trabalhamos com dinheiro que não é nosso e, por isso, temos um escritório de contabilidade que cuida da parte fiscal e legal. A prestação de contas é muito séria e ela vem de todos os lados. A profissionalização é fundamental.      

 

JC - Como é o trabalho da ABCC com os pacientes? 

Cristina - Nós temos um cuidado muito grande com o doente. Estamos com uma parceria com o Hospital Estadual, em que as crianças têm atendimento muito especial. Elas têm quimioteca, medicação, assistência jurídica, cestas básicas... E tudo isso fazemos pela ABCC. Oferecemos perucas, cadeiras de banho, andador, cestas básicas com verduras e legumes, remédios. Temos um grupo de artesanato, aula de informática, pilates... Contamos com o trabalho de psicóloga, assistente social, terapeuta ocupacional e cuidadora, que realiza um trabalho nas casas.  

 

JC - A ABCC tem alguns eventos tradicionais para a arrecadação de fundos. 

Cristina - Sim. O carro-chefe de é a festa Dancing Days, que já chegou em sua 17ª edição. Um sucesso! A sociedade participa. Bauru é uma cidade solidária e isso me anima a trabalhar. Você pede e as pessoas ajudam. O câncer mexe com as pessoas e elas colaboram mesmo. Também temos o nosso bazar de Natal, que arrecada uma verba bem bacana.   

 

JC - Há mais de 30 anos como voluntária da ABCC, como você vê a evolução do câncer e seus tratamentos?

Cristina - Hoje os exames estão muito precisos e conseguimos um diagnóstico rápido e eficiente. O tratamento também evoluiu bastante. Em Bauru, por exemplo, temos equipamentos de radioterapia de ponta, o que facilita a cura da doença. Por outro lado, os casos são mais constantes por conta do atual modo de vida: álcool, cigarro, alimentação ruim e a vida estressante. 

 

JC - Qual é o espaço que o voluntariado ocupa em sua vida?

Cristina - O voluntariado ocupa um espaço muito grande da minha vida. É o que me movimenta hoje. Eu corro, às vezes enlouqueço, mas quando vejo o resultado do nosso trabalho, fico feliz demais. Ver a alegria nos olhos das pacientes que chegam até nós em busca de uma peruca é indescritível. A menina dos meus olhos é a quimioteca, entregue no ano passado ao Hospital Estadual. É um lugar especial para as crianças e ver o brilho nos olhos delas quando entram naquela sala é algo sem tamanho. Este ano, entregaremos a brinquedoteca. A diferença entre as duas é que a quimioteca atende os pequenos que recebem a quimioterapia e vão embora. A brinquedoteca será um espaço para as crianças internadas.

 

JC - Quem é a Cristina longe da ABCC?

Cristina - Eu sou empresária do ramo imobiliário. Toco a empresa e, às vezes, nem eu sei como consigo dar conta de tudo (risos). Já tive uma confecção profissional que durou 18 anos, e fui dona da galeria 21 Center. Hoje costuro como hobby. Embora não tenha exercido a profissão, eu sou psicóloga e isso me ajuda muito no trabalho voluntário. Gosto de sair, receber amigos em casa. Tenho uma vida bem agitada (risos). Amo viajar, se bem que hoje o trabalho não permite muito isso. Conheço Estados Unidos, muitos lugares da Europa... Amo Nova York, Paris e Fernando de Noronha.   

 

JC - Fale sobre família e amigos.

Cristina - Tenho uma netinha de 3 anos, a Leila, e minha família é meu tesouro. Meus filhos, noras e neta estão em primeiro plano. E eu tenho amigos de uma vida inteira. Tenho amigos novos, também. Eu prezo e respeito muito a amizade.

 

JC - Um momento difícil...

Cristina - A morte dos meus pais, Halim e Leila. Eles morreram em um acidente de avião, na França, quando meu pai levava minha mãe para conhecer sua terra natal, o Líbano, de onde ele veio aos 5 anos de idade. Foi uma realidade chocante para a família toda. Somos em três irmãos. Eu sou a do meio e tinha 13 anos de idade. Ficamos com meus avós e, um tempo depois, fomos morar sozinhos. Eu assinava o boletim da minha irmã. Aos 18 anos eu era uma dona de casa. Não conseguia empregadas domésticas porque elas diziam que não trabalhavam em república. Eu não conseguia explicar que era uma casa de família.    

 

JC - Felicidade.

Cristina - O nascimento dos meus filhos e da minha neta. Não dá para explicar a emoção de ver um filho seu com um filho nos braços. 

 

JC - Um objetivo. 

Cristina - Nos próximos dois anos eu quero trazer o autotransplante para Bauru. Isso é muito importante, porque as pessoas precisam sair de Bauru para o tratamento e estamos falando de pessoas carentes, que não têm carro ou dinheiro. 

 

Perfil

 

Nome: Cristina Berriel Aidar 

Idade: 55 anos  

Signo: Touro

Local de Nascimento: Bauru  

Filhos: Rodrigo e Thiago, além da neta Leila   

Libro de cabeceira: O Evangelho Segundo o Espiritismo  

Hobby: Costurar e viajar  

Filme preferido: Perfume de Mulher  

Estilo musical predileto: MPB

Time de futebol: São Paulo 

Para quem dá nota 10: Para os que têm ética 

Para quem dá nota 0: Para a corrupção que assola o Brasil  

E-mail: abcc2@terra.com.br   

 

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