René Descartes em selo comemorativo de seu clássico livro “Discurso do Método”
Parece incrível! Mesmo as pessoas que deveriam saber o que representa ser “científico” não sabem delinear: professores, mestres, doutores, religiosos, médicos, dentistas, engenheiros, diretores e até mesmo pesquisadores.
O verdadeiro e único significado do termo “científico” é muito simples e pouco difundido. Talvez porque interessa ao mercado que assim permaneça para que se possa utilizá-lo livremente, mentindo e enganando por aí afora. Em embalagens, reportagens, pregações, conferências e congressos “científicos” usa-se o termo com uma liberdade assustadora: ou é ignorância ou, má fé! Usa e abusa-se de expressões como “evidências científicas” ou “comprovadamente científico”.
Uma parceira constante do mau uso do termo “científico” é a expressão “estatisticamente provado” o que é lamentável, pois a estatística representa uma ciência maravilhosa! O mau uso representa uma responsabilidade de quem manipula, engana ou falseia: o carro não tem culpa do que o motorista está fazendo! Duas frases se tornaram célebres: “Há três tipos de mentiras: mentiras, grandes mentiras e estatísticas” de Benjamin Disraeli e outra dita por muitos: “Os números bem torturados dizem o que você quiser!”.
O conhecimento humano pode ser obtido e avançar de vários modos: observação fortuita, aleatória, por acaso, com ou sem intenção. Assim caminhou a humanidade até que o francês René Descartes (1596-1650) estabeleceu uma outra forma de obter-se o conhecimento novo: através do método! Pronto, estabeleceu-se o valor da metodologia que permitiria que todo o conhecimento obtido pudesse ser comprovado em qualquer parte do mundo, usando-se das mesmas condições.
A ciência sem o método ou metodologia não existe! Para ser científico tem que ser obtido por um método explicitado para que se possa ser repetido a qualquer momento em qualquer parte do mundo. René Descartes instituiu a dúvida: “só se pode dizer que existe algo quando puder ser provado, sendo o ato de duvidar inquestionável”. O método de Descartes têm quatro regras básicas até hoje:
1. verificar ou observar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do estudado,
2. analisar parte a parte, dividindo-se ao máximo as coisas em unidades mais simples e estudá-la desta forma,
3. sintetizar ao reagrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro para uma compressão mais ampla,
4. enumerar todas as conclusões e princípios utilizados a fim de manter a ordem do pensamento.
O cientista tem que ser honesto e coerente. Quando falseia resultados por mentir sobre a metodologia e amostra, outros cientistas irão conferir em seus locais de trabalho. Quando os resultados não são bons e são minimamente suspeitos, os cientistas não citam o trabalho publicado, não o menciona em cursos, aulas e livros, simplesmente ignora-o! Quando os resultados do trabalho for bom, muitos citam o trabalho e seu autor e este é o critério de reconhecimento do seu esforço e pensamento!
A regra é clara: a ciência busca sempre a verdade a partir do método e os resultados apenas serão “científicos” se forem publicados em algum lugar, não importa onde, para que as pessoas possam ler e conferir se é verdadeiro ou não! Pode ser publicado em revistas, livros e internet! O princípio é disponibilizar de alguma forma para que outras pessoas possam conferir e repetir quando quiser a mesma metodologia, não importa quando e em que tempo! E se publicou: ... é do mundo!
Usar e abusar do termo “científico” pode ser um indicador de má fé por parte do orador, escritor, fabricante de cremes, remédios, vitaminas e outros! Aos orientados sempre pude dizer: em seus trabalhos e aulas não use esta palavra e sim, use os princípios científicos, apenas isto! Se for científico deixe os demais pesquisadores, professores e leitores do mundo reconhecer ou não: submeta-se singelamente à análise dos demais, como tu fazes ao ler os trabalhos alheios! Não cedam à tentação da vaidade vã e inútil de se auto-elogiar dizendo: este “meu” trabalho “científico”.
Deixe isto para a comunidade científica: se fizerem, ponto para você!
OBSERVATÓRIO
Lealdade - Experimentos na Universidade de Kioto com 54 cães revelaram que eles não gostam de pessoas hostis a seus donos. Quando elas rejeitavam ajudar o dono a abrir a lata de ração, os cães não aceitavam a comida dada por estas pessoas sem que o dono estivesse por perto, mas quando era uma pessoa “neutra”, pegavam normalmente mesmo sem o dono.
Assustador - Quase metade (45,9%) dos brasileiros são sedentários! Dos homens, 58,8%, e das mulheres, 49,6%, praticam atividades físicas. Caminhada é a forma principal, seguida de longe por academia e bicicleta. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Esporte e obtidos em todos os estados com 8.902 pessoas. O sudeste é o mais sedentário!
Alberto Consolaro é?professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC.
Comunique-se: consolaro@uol.com.br