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Entrevista da semana: Reinaldo Felisbino (Lela)

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 6 min

João Rosan
Irreverência ao comemorar gols com caretas marcou a carreira de Lela

Quando tinha cerca de 10 anos de idade, Lela já dava seus primeiros chutes a gol nos campos de várzea da Vila Santa Luzia, bairro bauruense onde nasceu e cresceu. “Faltando uns 10 minutos para terminar o jogo, meu pai me colocava para jogar, sem medo. Ele era presidente, dono de time, plantava grama no campo, lavava uniformes...”, recorda Reinaldo Felisbino, o ponta direita Lela, personagem deste Entrevista da Semana.

E o futebol parece realmente ser herança genética, já que seus dois únicos filhos também fizeram carreira nos gramados. Lela é pai de Richarlyson (atual Chapecoense) e Alecsandro (atual Palmeiras). “Mas eu sempre gosto de deixar claro que eu nunca forcei os meus filhos a escolherem esse caminho. Nunca os levei para fazer testes nos times em que joguei. Mas saber que meus filhos têm sucesso e estão no lugar onde eles escolheram estar é muita felicidade. Eles só me deram alegria”, comenta.

A história de Lela com o futebol teve início no Noroeste, mas foi o Coritiba, onde jogou por 8 anos, que o consagrou e o fez conhecido. “Eu fiz parte do time que deu o título histórico do Brasileiro para o Coritiba”, destaca.

E por que o apelido “Lela” para o Reinaldo? “Não sei. Foi meu irmão Vuca, que também foi jogador, quem me colocou este apelido, mas não se lembra o motivo (risos)”. Confira estas e outras histórias, a seguir.

Jornal da Cidade – O futebol é, literalmente, o negócio da família, passado de geração a geração. A sua história com o esporte teve início como?
Reinaldo Felisbino (Lela) –
Eu comecei no Noroeste, em 1978, onde fiquei três anos. Depois passei pelo Inter de Limeira, Fluminense do Rio e fui para o Coritiba, onde joguei por oitos anos e saí em 1989. O Coritiba foi o time que me deu projeção, mas antes passei por outras equipes que também me trouxeram experiência. Fiquei uns seis meses no Palmeiras fazendo testes, joguei na Ponte Preta... Por causa do futebol morei no Nordeste, meio ano na Itália... Tudo começou de maneira bonita. Eu rodei, rodei, fazendo testes até que decidi voltar para Bauru, desistir do futebol e estudar. Entretanto, um amigo me disse para fazer teste no Noroeste, eu achei que não daria certo, mas fui e passei.

JC – Além do talento, a irreverência também marcou a sua carreira. 
Lela –
Ah, eu fazia caretas (risos). Tenho fotos dessa época e até caricaturas. Antigamente, cada atacante tinha o seu jeito próprio de comemorar o gol. E esse era o meu. Hoje parece que isso não é mais permitido. O Coritiba me fez conhecido. Por lá, o pessoal gosta. Param na rua para falar comigo, tirar fotos, essas coisas. Eu fiz parte do time que deu o título histórico do Brasileiro para o Coritiba.

JC – Você acredita que o futebol tenha passado por muitas mudanças ao longo das últimas décadas?
Lela –
A única mudança que eu vejo no futebol de hoje, em comparação com o da minha época, diz respeito à parte física do jogador. Não é que qualquer pessoa possa se tornar um atleta do futebol, mas isso ajudou. Por exemplo, um moleque de 16 anos com um bom porte físico pode fazer um teste. Agora, se for mirradinho, não consegue.

JC – Se pudesse voltar ao passado e recomeçar, escolheria o futebol outra vez?
Lela –
Ah, eu gosto! É uma coisa que não tem jeito (risos).

JC – O futebol está no sangue?
Lela –
Sim. Mas eu sempre gosto de deixar claro que eu nunca forcei os meus filhos a escolherem esse caminho. Nunca os levei para fazer testes nos times em que joguei.  O Richarlyson começou no Ituano e o Alecsandro no Vitória da Bahia.

JC – E você se enche de orgulho por isso, imagino.
Lela –
Ah, com certeza foi uma grande alegria para mim. Você saber que o seu filho tem sucesso e está no lugar onde ele escolheu estar é muita felicidade. Eles só me deram alegria. Quando nos juntamos o futebol é o assunto. Não tem jeito. Minha esposa fica louca (risos).

JC – Seu pai também jogava?
Lela –
Profissionalmente, não. Mas ele foi presidente de time de várzea e me levava com ele. Faltando uns 10 minutos para terminar o jogo ele me colocava para jogar, sem medo, eu devia ter uns 10 anos de idade. Ele era presidente, dono de time, plantava grama no campo, lavava uniformes... Eu nasci no Santa Luzia, onde tudo começou. Meus pais foram tudo na minha vida. Somos em cinco irmãos, um já falecido.

JC – Quais são as suas atividades profissionais, hoje?
Lela –
Estou ajudando meus filhos a analisar e descobrir novos talentos para o futebol. Eles confiam na minha prática. Eu também trabalhei nas categorias de base do Noroeste por 10 anos, até 2008.  Em casa, nossa relação familiar é muito boa e devo grande parte disso à minha esposa. Como eu jogava, ela ficava praticamente sozinha com eles. E a educação toda deles veio dela. Ela é uma guerreira. Estamos casados há 34 anos, a idade do Alecsandro, e o Richarlyson tem 32 anos. 

JC – E o futebol foi o cupido desse amor?
Lela –
Posso dizer que sim, e essa é uma história bonita. Conheci minha esposa no Nordeste. Ela é do Rio Grande do Norte. Somos dois irmãos casados com duas irmãs. Meu irmão Vuca, que também foi do futebol (jogou na Ponte Preta), conheceu a minha cunhada quando jogou no ABC de Natal. Eles se casaram primeiro. Bom, eu fui com a Seleção Brasileira de Juniores jogar em Natal. E minha esposa estava lá com minha cunhada. Eu conversei com ela por uns 40 minutos só. Voltei. Alguns meses depois, meu irmão a convidou para vir a Bauru. Ela veio. Nunca mais voltou. 

JC – Do futebol para o tênis como hobby. Como é essa história?
Lela –
(Risos) Na verdade eu comecei a jogar tênis porque o Alecsandro comprou uma chácara e construiu uma quadra de tênis. Ninguém sabia jogar, começamos a brincar e eu peguei gosto. Mas o meu esporte é o futebol! Eu ainda bato minhas peladas na chácara, duas ou três vezes por semana, e participo desses jogos de futebol de máster ou veterano no sábado à tarde. O negócio é saúde. Ah, mas também gosto muito de cantar em Karaokê.

JC – Por que o Reinaldo é Lela?
Lela –
Não sei. Foi meu irmão Vuca quem me colocou este apelido, mas não se lembra do motivo (risos). Minha mãe me chamava de “Le”.

JC – E quem é o Lela? 
Lela –
Costumo dizer que não gosto nem do passado, nem do futuro. Gosto mesmo é do presente. O passado foi gostoso, mas já passou. E o futuro ainda virá. É amanhã. E eu nem penso no amanhã, posso até não estar aqui. Meu negócio é viver aqui, no presente.

Perfil

Nome: Reinaldo Felisbino (Lela)
Idade: 53 anos
Signo: Áries
Local de Nascimento: Bauru 
Esposa: Maria de Lourdes Barbosa Felisbino
Filhos: Richarlyson e Alecsandro, e dois netos: Nicholas e Yan
Libro de cabeceira: Bíblia 
Hobby: Jogar tênis e cantar em Karaokê
Filme preferido:“E o Vento Levou”
Estilo musical predileto: Pagode 
Time de futebol: Coritiba
Para quem dá nota 10: Para minha esposa
Para quem dá nota 0: Para a política 

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