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Os 21 vasos de barro de Bauru

Andreia Almeida Ortolani
| Tempo de leitura: 3 min

                              

Segundo os geólogos, existem 200 tipos de barros no planeta, mas apenas oito tipos servem para fazer um vaso. O oleiro conhece cada barro clinicamente. Na construção do vaso, o primeiro processo é a escolha do barro, e essa escolha se dá quando o barro está no estado bruto, no lugar chamado barreiro. Quando o barro se encontra nesse estado, somente o oleiro conhece qual barro é apropriado para o tipo de vaso para servir o seu propósito. O momento muito se assemelha à Lei de Abairramento que está em tramitação na Câmara Municipal de Bauru, e os oleiros são associações de moradores, movimento populares e a população. Vamos falar um pouco dos 21 vasos de barros da cidade, ou seja, os 21 bairros que Bauru poderá ter na reorganização do território da cidade, que seriam nove rurais e doze urbanos, para diminuir as imensas desigualdades entre as diversas regiões. 

     Só assim poderemos dar conta de verdade de todas as demandas municipais como Educação, Saúde, Transporte Público, Lazer, Segurança etc e orçamento regionalizado. Em linhas gerais, o fundamental é aproximar casa e trabalho de modo a diminuir as longas viagens, a longa ausência dos pais, a falta de convivência com os vizinhos, de sono e repouso etc. A importância da divisão da cidade em bairros, além dos aspectos culturais, de identidade e de autoestima dos moradores em relação ao local onde vive, está vinculada ao Sistema de Planejamento, proposto pelo Plano Diretor Participativo 2008. A delimitação legal dos bairros na cidade só tem sentido se for parte de uma estratégia de gestão urbano-territorial juntamente com orçamento regionalizado. Isto significa que o campo das políticas municipais - sociais e urbanístico-ambientais, “as secretarias municipais da prefeitura” - adote como referência territorial o bairro, tanto para definir estratégias diferenciadas de acordo com seu perfil como para poder acompanhar e monitorar sua implementação através de indicadores. Infelizmente, o esforço para integrar as políticas urbanas, adotando o território como unidade de análise e ação, tem avançado pouco em nossa cidade. Repensar nos Planos de Bairros para a cidade é um importante instrumento para o planejamento do território urbano e rural e orçamento municipal regionalizado. A cidade de Bauru deixou de dar continuidade nos seus Planos de Bairros, ficando assim sem legislação municipal no setor. Monitorar os bairros de Bauru significa entender, no espaço urbano, onde estão os habitantes da cidade para um bom planejamento. Mas isso só será possível em uma cidade onde a utilização das informações coletadas forem sólidas e com metodologia confiável, como é o caso da base de dados censo  IBGE e que todos os oleiros “povo” pudessem ter acesso para monitorar o seu bairro. Enfim, uma das importâncias insuperáveis desse projeto seria simplesmente para que órgãos oficiais como IBGE possam utilizar na sua base de dados censitária para os próximos censos ou recenseamentos que será efetuado em nossa cidade em  2017. O bairro revela, antes de tudo, uma forma física na cidade, um pedaço urbano que cresce com a vida cotidiana dos seus moradores. E aí, Bauru, vamos ficar mais dez anos sem estatística de cada bairro de nossa cidade? Sem saber realmente o que é investido por regiões? Parabenizo a Câmara Municipal de Bauru, ou seja, a casa do povo, pela sua iniciativa. 

 

A autora é arquiteta e urbanista, especialista em geoprocessamento pela UFSCar de São Carlos e membro da diretoria do IAB Bauru 

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