| João Rosan |
![]() |
| Ênio Bianospino, Karen Dunder, Fabrício Carrer e Marcos Salati divulgaram resultado do inquérito |
A Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF) concluíram inquérito sobre ação que culminou na morte do agente Fábio Ricardo Paiva Luciano, 38 anos, durante operação contra o tráfico de drogas realizada em setembro de 2013, em Bocaina (69 quilômetros de Bauru). Na ocasião, houve troca de tiros e uma aeronave utilizada pelos bandidos foi derrubada com cerca de 500 quilos de cocaína.
O MPF denunciou nove pessoas por homicídio quadruplamente qualificado e também por tentativa de assassinato contra outro agente federal que participava da ação. A denúncia foi oferecida na seção judiciária do Fórum de Jaú, na última sexta-feira (22). Oito dos acusados já estão presos e respondem pelos crimes de tráfico internacional, posse e porte de arma de uso restrito e organização criminosa.
Apenas o paraguaio José Luis Bogado Quevedo, 32 anos, que está na lista dos acusados de assassinato, permanece foragido e teve seu mandado de prisão incluído no Canal de Difusão Vermelha da Interpol. Ele era o proprietário do avião incendiado em Bocaina e responsável pelo fornecimento da droga – a cocaína vinha da Bolívia, passava pelo Paraguai e era comercializada na região de Campinas.
A denúncia de homicídio compreende ainda o “líder” do grupo, Adriano Aparecido Mena Lugo; o piloto do avião, Evandro dos Santos; o comprador da droga em Campinas, Alex Chervenhak; o segurança Maicon de Oliveira Rocha; Marcos da Silva Soares e Adriano Martins Castro, que trocaram tiros com a polícia; Natalin de Freitas Junior, responsável por recrutar criminosos para fazer apoio de solo; e Márcio dos Santos, que liderava o trabalho de apoio de solo.
O resultado do inquérito foi divulgado em coletiva de imprensa realizada nessa quinta-feira (28) de manhã na sede da PF em Bauru, que contou com a presença dos procuradores da República Fabrício Carrer e Marcos Salati, da chefe da Delegacia de Polícia Federal de Bauru, Karen Cristina Dunder, e do delegado da PF Ênio Bianospino. Ao todo, foram 28 meses de investigações, que tiveram origem a partir da morte do agente federal com a Operação “Paiva Luz”.
“No dia do crime, cinco pessoas foram presas em flagrante e processadas por associação para fim de cometer o crime de tráfico. A Operação Paiva Luz resultou na segunda denúncia, de crime de tráfico contra os 16 integrantes do grupo e pelo crime de organização criminosa contra 11 deles, que foram identificados durante as investigações. Todos, contudo, foram condenados”, explica Carrer.
“Sobreveio, agora, a conclusão do inquérito policial que tinha como objetivo único a investigação do homicídio. Para tanto, foram realizadas diversas perícias em armas utilizadas por policiais ou armas apreendidas e interceptações telefônicas. Fizemos também exames de local e cadavérico e reconstituição da ação. Tudo isso nos deu elementos contra essas nove pessoas que estão diretamente relacionadas com a morte do agente federal”.
A atuação do grupo se dividia em três células. Uma responsável por fornecer as drogas e armas de fogo e trazê-las do Paraguai para o Brasil. Um segundo núcleo que adquiria e revendia os entorpecentes. A organização contava com pessoas fortemente armadas que ofereciam segurança à ação, especialmente ao transporte aéreo e recepção dos materiais ilícitos.
4 agravantes
Os homicídios tiveram quatro agravantes: recurso que impossibilitou a defesa da vítima (emboscada, à noite), ter sido cometido para assegurar a execução do crime, ocultação da droga (atiraram porque queriam esconder o entorpecente) e a vantagem no crime (droga foi comercializada). Se condenados, a sentença final para aqueles que foram denunciados também pelo crime de assassinato vai de 42 a 54 anos de reclusão.
A identidade dos demais, que já respondem pelos outros crimes, não foi divulgada. A maioria é da região de Campinas. Um dos integrantes, contudo, é um médico do Paraná, que já está preso. “Ele era financiador da droga, ou seja, injetava dinheiro na ‘empresa do tráfico’”, destaca o procurador Fabrício Carrer.
Relembre o caso
No dia 25 de setembro de 2013, por volta das 21h30, policiais federais interceptaram monomotor Cessna, modelo 210, que iria pousar às margens da SP-255, no quilômetro 136, em Bocaina. O avião, que estava carregado com cerca de 500 quilos de cocaína, caiu e pegou fogo no canavial.
A quadrilha, que aguardava a chegada da droga, trocou tiros com os agentes e Fábio Ricardo Paiva Luciano levou um tiro no peito de fuzil, foi socorrido, mas morreu no Pronto-Socorro de Jaú.
Quadrilha conseguiu comercializar a droga que estava em aeronave
O inquérito instaurado pela PF após confronto que matou o agente federal Ricardo Paiva Luciano apontou também que os bandidos conseguiram descarregar os cerca de 500 quilos de cocaína que estavam sendo transportados na aeronave e comercializá-los.
“Investigações feitas mediante oitivas, prova documental, interceptações telefônicas, buscas e apreensões comprovaram que houve a entrega da droga naquele dia. A cocaína veio da Bolívia, foi descarregada em Bocaina e partiu para o comércio varejista. Não tivemos como evitar, até porque houve o confronto e os traficantes lograram sucesso em sair do local com a droga carregada em veículos”, afirma o procurador da Republica Fabrício Carrer.
No entanto, segundo o delegado da PF em Bauru Ênio Bianospino, foram aprendidos mais de 400 quilos de cocaína durante a Operação Paiva Luz. “Além dos 15 presos (com exceção do paraguaio, que permanece foragido), a ação culminou em mais 13 prisões em flagrante, de pessoas que transportavam entorpecente para a mesma organização criminosa, as conhecidas mulas”.
‘Preparados para o confronto’
Interceptações telefônicas revelaram que os bandidos estavam preparados para o confronto em Bocaina. “Independente do que fosse acontecer, haveria troca de tiros e eles tinham que resguardar os integrantes do grupo e a droga”, conta o procurador público Fabrício Carrer.
.jpg)