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| Há sete décadas, Acacia Godoy Leite Rosa, de 89 anos, vive na mesma casa, praticamente a única em meio aos prédios comerciais da avenida Rodrigues Alves na área central da cidade |
Lúcida, bem articulada e de fala mansa, como qualquer professora que lecionou na época do magistério, Acacia Godoy Leite Rosa, 89 anos, chegou a ser uma celebridade em Bauru, mas não pelo seu talento em sala de aula. Ela fazia bolos ornamentais como ninguém e chegou a ser a primeira mulher a ter um programa de TV sobre o tema no município, antes mesmo que a culinarista e apresentadora Palmirinha, também bauruense.
Filha única de pai comerciante e mãe dona de casa, Acacia aprendeu a cozinhar sozinha. Ela estudou no Colégio São José, mas em uma época em que o prédio da escola ainda era feito de madeira. Quando se formou, partiu para o magistério, no Liceu. Em 1946, se casou com o já falecido marido, Otávio Leite Rosa, que era inspetor de tráfego da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB).
Há sete décadas, Acacia vive na mesma casa, praticamente a única em meio aos prédios comerciais da avenida Rodrigues Alves. Inclusive, quando se casou, dividiu a residência com seus pais, que eram os proprietários do local. Lá, ela criou os filhos Rose Marie Capinzaiki, 68 anos, e Paulo Roberto Leite Rosa, 62, além de ter ajudado a educar os netos Claudia Renata Leite Capinzaiki, 44, Rodrigo Leite Capinzaiki, 39, e Poliana Acacia Leite Rosa, 24.
Foram eles que inspiraram Acacia, que transformou seu hobby em profissão. “Em Bauru, não tinha ninguém que fazia bolos artísticos e eu improvisava nas festas de aniversário dos meus netos. Depois, o pessoal começou a me procurar para realizar encomendas”, relata. De dia, ela fazia a massa e à noite a confeitava. Era nesse período que tudo ganhava forma, desde abajur e óculos escuros, passando por camafeus e instrumentos musicais até um berço infantil.
Na televisão
Mas foi entre os anos de 1965 e 1966 que Acacia virou uma celebridade local, já que passou a apresentar um programa sobre culinária na antiga TV Bauru. Lá, ela ensinava a fazer bolos e, antes que a atração acabasse, sorteava os doces entre os telespectadores. Não bastando isso, Acacia ainda entregava o prêmio, pessoalmente, nas casas dos ganhadores. “A melhor parte era ensinar”, confessa a professora nata.
O programa durou só um ano, porque Acacia decidiu se dedicar ao magistério. Ela assumiu a antiga Escola Águas Virtuosas, onde chegou, até mesmo, a fazer a merenda das crianças. “Na época, contei com a ajuda de duas amigas, a Lindinha Franciscato e a Leila Aidar, que doavam mantimentos para manter o colégio em pé”, narra. Ela também lecionou em Presidente Alves, mas “deu um tempo” na carreira para cuidar da mãe, que ficou doente.
Solidariedade
Acacia Godoy Rosa também lecionou confeitaria no Senac, em sua casa e no Dante Alighieri para ganhar a vida. Porém, ela não deixou de fazer sua parte quando o assunto era solidariedade, já que ensinava as pessoas menos abastadas da Promoção Humana, projeto vinculado à Catedral do Divino Espírito Santo, a encarar a culinária como uma profissão rentável. Até hoje, a professora preside a organização.
Ideias inusitadas partiam da filha
Quem sugeria as formas dos bolos a Acacia era a filha Rose Marie Capinzaiki. Certa vez, inclusive, ela decidiu fazer uma festa de aniversário para um dos seus filhos, cuja temática girava em torno do tecido jeans. O bolo, claro, parecia uma calça desse tipo. E não para por aí: o doce não foi cortado com uma faca. Rose utilizou uma tesoura para simular que dividia uma calça, não um bolo.
Acacia entrava na brincadeira e amava o que fazia. Embora não tenha qualquer problema grave de saúde, a professora não anda bem das pernas, motivo pelo qual, aos 68 anos, teve de abandonar o hobby. O que fica são as lembranças e os elogios das amigas, que eventualmente encontra pelas ruas. Elas não só se lembram da época com saudosismo, como reconhecem que o trabalho da boleira era inusitado, até para os dias de hoje.
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