Regional

Livro sobre nomes alerta pais para a importância de uma boa escolha

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 10 min

Alex Mita
Escritor Osny Machado lançou a 2ª edição de publicação que aborda prenomes, nomes e sobrenomes

Bem humorado e disposto a longas conversas, Osny Machado Neves foi cartorário por muitos anos e na atividade tratou de recolher nomes (prenomes) de todas as espécies. Classificou-os e escreveu um livro chamado prenomes, nomes e sobrenomes. A obra escrita pelo bauruense mais piratiningano chega a sua segunda edição. “Já plantei árvores e tive filhos. Escrevo este livro para morrer feliz, porém, não tenho pressa nenhuma. Como todos os vivos, estou na fila, a única que ninguém quer furar.”

A ideia de escrever um livro, segundo ele, foi alimentada pelos cargos acumulados durante anos como escrivão dos Cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais com seus anexos e escrivão eleitoral, nos municípios de Piratininga e Cabrália Paulista. Além de tentar fazer com que seus leitores passem a dar maior importância aos seus nomes e reflitam mais sobre os prenomes, nomes e sobrenomes pensados para seus filhos.

Chega à 2.ª edição publicação de autoria de Osny Machado Neves, que trabalhou nos cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais com seus anexos 

de Piratininga e Cabrália Paulista

Na obra, o autor conta histórias e estórias, algumas verdadeiras e outras nem tanto, mas todas com grande possibilidade de serem ou se tornarem verídicas. “Alguém poderá pensar: a intenção é ridicularizar ou fazer gozação em cima dos nomes dos outros. Posso eu fazer gozação quando tenho em minha família e afins, esses nomes: João Climaco e Purcina (bisavós paternos), Aprígio e Filúvia (avós paternos), Amasilia (avó materna), Adalzija, Pompilio, Agrício e Eufrides (tios-avós).

Neves explica que resolveu relançar a obra após oito anos, pois o “povo” continua colocando em seus filhos nomes diferentes, esdrúxulos, estranhos e alguns bonitinhos e o livro tem sido bastante procurado. O relançamento chega às livrarias de forma corrigida, atualizada e ampliada, com cerca de 10 mil prenomes. A primeira edição teve apenas 500 exemplares com cerca de 5 mil prenomes. Além de histórias e estórias novas.

A obra traz algumas noções sobre “O nome no Direito Brasileiro”. “Quando se fala em nome, normalmente se entende o primeiro deles que, na verdade, é o “prenome”. Assim, tomando por base alguém que se chama José da Silva - a quem é perguntado: Qual é o seu nome? Ele certamente, dirá José. Estaria a resposta correta? Sem dúvida, a maioria dirá que sim, no entanto, segundo o Direito Brasileiro, está errada. Pois, de acordo com ele, a resposta correta seria Silva (que é o nome patronímico do José)”.

No Direito o nome é constituído de dois elementos: o prenome (que é dado à pessoa quando é registrado o seu nascimento) e o nome de família, também chamado de sobrenome. “O Direito Brasileiro preconiza: “O prenome é imutável. Salvo alguns casos em que a lei permite mudar, quando por exemplo, expõe a pessoa ao ridículo. Exemplo disso foi uma mulher registrada com o prenome duplo de Ava Gina (em homenagem às atrizes de cinema Ava Gardner e Gina Lollobrigida).

Atualmente é permitida, a inclusão ao nome de candidato a cargo político ou de pessoa pública, nome pelo qual está conhecido no seio da sociedade ou da família, desde que para atividade lícita como Bil, Batata, Lula, Xuxa. Em 2012, Rodrigo Giraldeli, de Ribeirão Preto conseguiu judicialmente incluir seu apelido ao nome e passou a ser chamado Rodrigo Corintiano Giraldeli.

Definir nome é muito importante

Hitler deve ser evitado porque ridiculariza, conta autor do livro, mas também tem que ter o cuidado com junções de palavras e uso de palavrão 

O nome é tão importante, que não só o ser humano deve ter, mas toda a criação de Deus. Tanto é que a fauna, a flora têm seus próprios nomes. Até as estrelas e astro têm nomes. O primeiro e principal nome que encontramos é Deus. Segundo os mais antigos historiadores, o nome Deus era escrito nos pergaminhos com uma pena, a qual, após usada para tal fim, não mais era aproveitada para escrever qualquer outra palavra. E os escribas encarregados dessa escrita, antes de fazê-la, tomavam banho. Assim que se iniciou o uso dos metais, o nome Deus só era escrito com pena de ouro, tal o valor e poder deste nome.

O nome Deus, embora não tenha significado próprio, é traduzido como senhor, pai, criador, infinito, dentre outros. O segundo e mais importante nome, também de acordo com ensinos bíblico, é Jesus. “Em razão da importância destes nomes (Deus e Jesus), penso eu que deveríamos nos abster de colocá-los em nossos filhos.”

Em trinta anos de cartório, o autor, Osny Machado Neves nunca viu ninguém que chamasse Deus. “No entanto, embora me parecesse ‘quase’ impossível, uma lista encontrada na Internet, dá conta de que foram identificadas entre os inscritos no antigo INPS, na década de 80, pelo menos três pessoas que se chamavam Deus.”

Já o nome Jesus foi colocado em muitos. “Confesso, que eu mesmo fiz alguns registros do prenome Jesus. Não sem antes tentar tirar da cabeça do pai, ou declarante, embora não houvesse, como não há em nossas leis, proibição de se registrar alguém com este nome.”

O livro mostra que há nomes proibidos. Aqueles que possam expor o registrado ao ridículo, como Adolpho Hitler, Lúcifer, etc. “Da mesma forma, o nome Salvador, que é o significado grego de Jesus, pode vir a ser motivo de gozação, como por exemplo: poderá acontecer de uma pessoa com esse nome, que se atira num rio para salvar uma pessoa. Não consegue. No outro dia, sai no jornal: “Salvador não salva ninguém”, ou “Salvador é salvo por bombeiros!”

Nomes diferentes

O livro enumera algumas causas de tantos erros nos registros dos nomes, ignorância do escrivão que na época era um cargo político e não se exigia escolaridade. Ignorância dos pais ou declarantes. Desconhecimentos da língua, dificuldade de expressão, audição ou dicção e escrituração manual. Em função disso, nomes como Abigail foram registrados como Bigail, Ciliadora, ao invés de Auxiliadora, Andrio, ao invés de Andrew, Astão, ao invés de Washington.

O capítulo dedicado a dificuldade de expressão, audição ou dicção é muito interessante e traz causos engraçados. “Um deles é do Idem, conhecido do Dalton meu irmão. O pai dele, sr. José, amigo do escrivão, ao ir registrá-lo, quando o cartorário perguntou-lhe: Então José, como a criança vai se chamar? O José teria dito: Idem José. Isto é, o mesmo nome dele: José. E o escrivão colocou no livro o prenome do garoto ‘Idem José’”.

A história do Odarcy conta que o pai foi registrá-lo e o escrivão perguntou-lhe como a criança iria se chamar, e ele teria dito: Darcy. Como o nome pode ser usado para ambos os sexos, o cartorário lhe perguntou: “Mas é homem ou mulher?”. Ao que o pai respondeu, como que afirmando que era do sexo masculino: “é o Darcy”. E a criança foi registrada como Odarcy. Essa história foi contada pelo próprio.”

Osny Neves lembra que antes de 1928 as crianças eram registradas somente com o nome. “Encontrei em registros de 1929, na cidade de Cabrália Paulista, pessoas registradas só com o nome (prenome). No dia 1º de maior de 1929 entrou em vigor uma lei obrigando a colocar o sobrenome. No casamento, a mulher não usavam o sobrenome do marido, só se quisesse. Atualmente mudou a lei e hoje, se o homem quiser usar o sobrenome da mulher pode. Dessa época encontrei registros como Maria, sem o sobrenome.”

O então cartorário recorreu ao juiz algumas vezes para evitar nomes esdrúxulos. “Isso aconteceu há mais de 40 anos. A mãe veio registrar o filho em Piratininga onde morava. O marido estava preso. Ela trouxe a certidão de casamento e registrou o primeiro filho como Kroeff. Eu questionei-a e ela disse que talvez fosse jogador porque o marido só lia sobre futebol. Passado um ano, ela voltou para registrar o segundo filho. Hans Muller. Eu questionei se ela sabia escrever. Ela respondeu que não e que era indicação do marido. Caso ela não registrasse, ela a mataria. O juiz me ouviu e autorizou o registro. Afinal o homem poderia sair e matar a mulher.”

Em busca de correção

Há relatos engraçados no livro. Um deles é o caso do José que tinha o sobrenome Bosta. “Ele foi ao juiz e quando questionado sobre a mudança de nome, ele explicou que detestava chamar José Bosta. O juiz concordou e perguntou qual o nome que ele gostaria de ter? Marcus Bosta”.  Segundo o autor, antigamente os escrivães ficavam em botecos.

O fulano ia registrar no cartório e o escrivão estava tomando uma e pegava um papel e anotava os dados. “Que dia nasceu? Como vai chamar a criança? Dava o papel para o responsável colocar o nome da criança onde tivesse um X. No dia seguinte, ele passava a limpo. Aconteceu que uma pessoa colocou Israel como nome do filho e o escrivão registrou como Xisrael.”

Nomes estrangeiros

Os estrangeiros também sofreram para registrar seus filhos no Brasil antigo, em razão da dificuldade da língua, o escrivão acabava por registrar o nome conforme entendia a pronúncia do declarante. Por isso, há registros de Carrolos (Carlos?), Cheio quispir (Skakespeare) Robefá (Roberval?), Morra Ali (Mohali), Robim Rudy (Robin Hood), Gênis e Genes (Gênesis), Érrico (Eric ou Henrique), Flor Ainda (Florinda), Cirço (Cícero).

Nomes inversos

Existem também os pais, que querendo ser criativos, colocam nos filhos, nomes de traz para frente, também conhecido como Anagrama, que é a transposição de letras de nomes ou de frases. Exemplos: Maria (Airam), Amora (aroma), Anacirema (Americana), Arimas (Samira), Aron (Nora), Leonam (Manoel), Ordep (Pedro), Orimar (Ramiro), Raul (Luar), Rian (Nair), Ronoel (Leonor).

Nomes satíricos devem ser evitados 

Osny Machado Neves diz que os pais devem pensar melhor na hora do registro, porque já houve caso de Esparadrapo constar como prenome

Nome (prenome) satírico faz parte do capítulo 11 do livro. Segundo Osny Machado Neves, tem se a impressão de que foram dados por pais, em sua maioria, gozadores ou excêntricos e poderiam ter sido evitados com a orientação do escrivão, em razão de exporem seus possuidores ao ridículo (o que é vedado por lei). Na opinião dele, os pais deveriam pensar para que seus filhos não sofram “bullyinagem”, isto é, gozações e escárnios, em razão do nome.

Imagine você se chamar Agrícola? Bensaúde? Cornostíbia ou Esparadrapo? Com certeza seria motivo de gozações. Mas os nomes satíricos não acabam aí. Tem ainda: Xerox (a cara do pai), Rocambole (pai era confeiteiro), Restos Mortais de Catarina (a mãe morreu no parto e se chamava Catarina?), Rolando (nasceu rápido demais ou a mãe caiu na ribanceira  e ele nasceu?), Sansão Vagina (criança muito grande), Silêncio (não chorou ao nascer?), Magnésia (pai farmacêutico?).

O capítulo seguinte é dedicado aos nomes (prenomes) farmacográficos.  São nomes que mais parecem (não afirmo que são, mas até que poderiam ser), referências às substâncias químicas, medicinais. Tem se a impressão que são filhos de farmacêuticos, influenciados por seus trabalhos de boticários ou  filhos de pais hipocondríacos.

São eles: Arcídio (para estômago?), Agripino (para gripe?), Cafiaspirina (remédio para dor de cabeça), Calina (para calos?), Calmerindo (calmante?), Aurino (para micção noturna?), Alcoforado (para pancadas); Alois e Alódia (purgativos?), Acreônio (para dor de dentes?), Glicério (lubrificante do intestino?), Otorino (gotas para ouvido e nariz?), Tamar (enjoo em viagens marítimas?).

Há ainda apelidos que se tornaram nomes (prenomes). Por serem bonitinhos ou diferentes, como Angelita, Leo, Lila, Lino, Lita, Marininha, Mariquinha, Neném, Nina, Santinha, Teo, Tina, Tita, Zeca, Zefa, Zelita, Nana, Dina, Cory, Cecy, Boni, Joaninha, Joãozinho, Laurinha, Lausinho, Lazinha.

As flores também inspiram nomes. A maioria dos nomes de flores e plantas ornamentais se tornou prenomes humano. Pelo menos no Brasil. São alguns deles: Acácia, Camélia, Crisântemos, Dália, Flordeliz, Gardênia, Hortência, Jacinto, Jasmim, Lírio, Lobélia, Magnólia, Margarida, Melissa, Orchidia, Rosa, Rosália, Violeta, Verbena.

Nomes de cidades, países e derivados  também são usados como nomes de pessoas. São eles: Abadia (MG), Adamantino, Adolfo (SP), Afonso (RN), América, Américo (SP),  Marília (SP), Itália, Brasilina, Brasiliano, Pará, Washington, Zaire, Zurich, Veneza, Vitória, Santiago, Nazaré, Lucélia. 

Os pais que gostariam que seus filhos fossem belos, brilhantes e valiosos como metais, pedras preciosas ou derivados registram seus filhos com nomes como: Diamantino, Esmeralda,  Jade, Gema, Jaspe, Pérola, Safira, Turmalina, Argentílio, Argentina. Os nomes indígenas também são encontrados nos registros de cartório.

São eles: Amazonas, Anahy, Aymoré, Anauá, Apurina, Bartyra, Batuina, Cambuí, Jacyra, Juçara, Ubirajara, Ubiratam, Uracy, Poty, Potyra, Irapuru, Caramuru, Coaracy, Araribóia, Caramuru, Tibiriçá, Tupy, Ubiray, Ita, Itapuã, Irapuru.

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