| Fotos: Samantha Ciuffa |
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| Francisco da Silva recebe a atenção da assistente social Thamirys Garcia dos Santos Gimenes, no pátio do Abrigo para Idosos |
Foi em 1946 que o benemérito Sebastião Paiva iniciou sua trajetória de filantropia em Bauru, com a fundação da Associação Beneficente Cristã, espaço que acolhia todos os necessitados que batessem à sua porta. Com o passar do tempo, a entidade foi se especializando no atendimento psiquiátrico, inclusive com a criação de um hospital voltado à internação de doentes mentais.
Mas, com 70 anos de atuação, a associação - chamada carinhosamente de Paiva - foi muito além: ampliou seus serviços, profissionalizou o atendimento e, hoje, contribui para a melhoria de vida de crianças em situação de risco, famílias de baixa renda, jovens e adultos com deficiência mental e idosos com vínculos rompidos com suas famílias. Trata-se de um trabalho grandioso, que garante dignidade a mais de 200 pessoas e envolve o comprometimento de cerca de 120 profissionais.
“Hoje, oferecemos um atendimento multidisciplinar, com foco na assistência social e não mais apenas em saúde”, pontua a assistente social Thamirys Garcia dos Santos Gimenes, salientando que o Paiva conta, atualmente, com quatro serviços distintos, três deles custeados com recursos municipais e estaduais.
Atribuições
O maior é o a Abrigo para Idosos, criado em 2005 a partir da Reforma Psiquiátrica no Brasil, instituída no início deste século. Com capacidade para atender 100 pessoas, ele acolhe, hoje, 81 moradores e é presidido por Roberto de Meira Braga.
“Alguns estão conosco desde crianças. São pessoas que perderam contato com a família e sequer recebem visitas. A maioria já possui um quadro de demência devido à idade e uma boa parcela é acamada, totalmente dependente do trabalho realizado pelos funcionários”, comenta Flávia Ferreira Martins, coordenadora do serviço, salientando que, quando o tratamento médico demanda internação, os abrigados são encaminhados, atualmente, para uma unidade hospitalar fora do Paiva.
Ela explica que, embora o abrigo receba recursos públicos, doações e verbas arrecadadas em diversos eventos beneficentes ao longo do ano contribuem para garantir um atendimento melhor aos usuários. “Usamos este dinheiro para comprar itens que, às vezes, podem faltar, como fraldas e medicações, amém de realizar passeios com os idosos”, elenca.
“Profissionalização foi impulsionada pelas leis”
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| Laura Escaliante, Thamirys Gimenes e Flávia Martins |
A assistente social Thamirys Gimenes explica que a profissionalização dos funcionários do Paiva e o maior rigor em relação aos critérios para receber novos abrigados foram instituídos a partir do surgimento das leis que regulamentaram a política de assistência no Brasil. “Com a Constituição Federal de 1988, a assistência passou a ser entendida como um direito de todo cidadão. Depois, veio o Estatuto da Criança e do Adolescente e outras leis. E os serviços foram se adequando”, observa. Ela conta que, quando o Paiva foi fundado, a ajuda oferecida por Sebastião Paiva e seus colaboradores ocorria de maneira mais instintiva, estimulada por um sentimento de amor ao próximo. O foco era retirar as pessoas das ruas, sem considerar, por exemplo, o limite máximo que o prédio comportava e a formação de seus profissionais.
Hoje, os três serviços de acolhimento mantidos pelo Paiva só abrigam pessoas encaminhadas pela Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes). Além de receberem atendimento nas dependências da associação, elas também são inseridas nas atividades e serviços oferecidos pela rede pública municipal de assistência social e de saúde.
Acolhimento infantil
Criado na década de 1950, o serviço de acolhimento mais antigo do Paiva é a Casa da Criança, presidida por Ana Maria da Silva Rodrigues. Ela abriga 30 pequenos de zero a sete anos de idade, abandonados ou retirados do convívio familiar por determinação judicial, por estarem expostos a risco. “O foco é proteger a criança e preparar os pais ou a família extensa para recebê-la de volta ou, então, se for o caso, encaminhá-la para adoção”, pontua Thamirys Gimenes.
No Parque Jaraguá, o Paiva ainda mantém a Casa do Leite há 19 anos, o único serviço que não conta com repasse de recursos públicos. A Casa do Leite é presidida por Sonia Tereza Melo Saab. Segundo a coordenadora Laura Cristina Alves de Lima Escaliante, na casa, são oferecidos cursos de capacitação com o objetivo de inserir famílias de baixa renda no mercado de trabalho.
Ao todo, são 30 famílias atendidas, o que beneficia diretamente cerca de 70 pessoas de diversos bairros da região noroeste da cidade. “Os cursos são oferecidos a homens e mulheres com filhos. Temos cursos de artesanato, informática, manicure, cabeleireiro, culinária e curso de gestante para as mães grávidas”, enumera Laura.
A cada dois meses, o serviço inicia cursos diferentes. Ao final de cada um deles, os participantes recebem cestas básicas e material para que tenham condições mínimas para começar a trabalhar. “Para que isso seja possível, depende, basicamente, de doações e da disponibilidade de voluntários para a realização dos cursos. E temos, até hoje, conseguido contar com esta rede de solidariedade”, completa.
Autonomia
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| Hélio Batista |
Hélio Batista, 68 anos, é um dos abrigados que já participaram de diversas atividades do Paiva. Há 17 anos vivendo sob a proteção da instituição, ele conta que, no passado, trabalhava como lavador de carros em domicílio, atendendo a alta sociedade bauruense.
Mas, pelos desencontros do destino, foi morar no abrigo, onde, garante, se diverte com os funcionários e amigos que fez. “Não tinha para onde ir e vim para cá. A vida é boa aqui. Já fui visitar o Horto Florestal, o pesqueiro e o distrito de Tibiriçá”, elenca.
O abrigo fica no Jardim Bela Vista, assim como as duas residências inclusivas - uma feminina e outra masculina - mantidas pelo Paiva. Com capacidade para atender, cada uma, dez pessoas, elas foram criadas há três anos para receber jovens e adultos com deficiência mental. Também são presididas por Roberto de Meira Braga.
“As residências contam com uma equipe de referência. O objetivo é permitir a autonomia, a individualidade, a expressão das vontades e o desenvolvimento das capacidades dos usuários”, descreve a coordenadora do serviço, Thamirys Gimenes. Segundo ela, muitos residentes estudam, realizam atividades fora das casas e alguns, inclusive, já possuem condições de ingressar no mercado de trabalho. “Tentamos estabelecer a rotina diária típica de uma moradia para que, um dia, quem sabe, possam se manter sozinhos ou voltar para suas famílias”, completa.


