O grande desafio das nações é conseguir que o crescimento econômico seja sustentável. Isso significa, entre outras variáreis, que o mercado interno não fique à mercê da conjuntura econômica, ou melhor, se houver problemas conjunturais, que o impacto nos indicadores econômicos seja reduzido. No caso brasileiro, com o passar do tempo os governos que se sucederam não atacaram os problemas em sua magnitude, portanto, não mexeram na estrutura do País, gerando fragilidades que são potencializadas em momentos de crise como a atual.
Alguns exemplos ilustram o quanto as questões estruturais são colocadas em xeque quando há problemas conjunturais. O controle da inflação é um deles. Derrubamos a inflação para abaixo de dois dígitos, tínhamos ciência que somente acabar com a indexação seria pouco, e que as reformas estruturais garantiriam controle eficaz dos preços, inclusive com ampliação da oferta de bens e serviços, mas não passamos do primeiro passo. Sem controle efetivo das contas públicas, sem reformas administrativa, previdenciária, do judiciário, trabalhista, tributária, entre outras, o País sempre conviverá com problemas sazonais, gerando desequilíbrios entre oferta e procura.
Outro exemplo é a política externa. O País é frágil diante das incertezas do resto do mundo. Não há uma política de comércio exterior. A pauta de exportação brasileira é fraca, com baixo valor agregado, e o Brasil depende, em muito, do comportamento dos preços das commodities, o que potencializa sua fragilidade. Não há em curso programas de inovação, e com a desindustrialização em curso fica difícil implementar uma política que nos leve à substituição de importações.
A política agrícola brasileira também fica à mercê da conjuntura. Política de preços mínimos insuficiente, falta de estoques reguladoras, custo Brasil encarecendo produtos, falta de estradas adequadas, modal de transporte equivocado (alicerçado em rodovias), sem integração, nos deixam suscetíveis a problemas climáticos, gerando desequilíbrios entre oferta e procura, gerando a carestia, sem que haja antídotos para contornar tais problemas.
O País não cresce, mas se voltar a crescer, e voltará, os gargalos serão sentidos. Novamente problemas estruturais na geração e distribuição de energia podem frear o ímpeto dos investidores. Observem que é preciso um projeto de Estado e não de governo. É preciso ir além das questões pontuais. Quando são criadas condições para sustentar o crescimento, a conjuntura, como colocado, interfere, mas pontualmente. Como todos sabemos, hoje somos resultados das decisões do passado, se não tomarmos decisões agora, na direção certa, daqui a alguns anos, estaremos na mesma, ou até piores.
É preciso atacar os problemas estruturais, já.
O autor é economista e articulista do JC