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Livro de Jaú é uma viagem no tempo


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Alberto Del Bianco/Estações Ferroviárias
Estação ferroviária de Jaú construída pela Companhia Paulista em 1910 no lugar da original

A forte tradição de Jaú é recontada no livro didático "Histórias do Jahu - Projeto Perobeiras" que está sendo relançado pelo sociólogo José do Amaral Mendes Braga Júnior.

O projeto se iniciou com pretensões ambientais quando os alunos começaram a fazer uma pesquisa sobre a origem da peroba-rosa, árvore símbolo do município existente no brasão e na bandeira.

A implementação do projeto começou na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Enéas Sampaio Souza e, posteriormente, foi aplicado em outras escolas, sempre com a participação dos alunos.

"Começou com uma questão ambiental. Perguntei as alunos: qual é a árvore símbolo de Jaú? Poucos sabiam. Só dois alunos do Ensino de Juvens e Adulto (EJA) souberam responder. Foi daí que se iniciou a buscar por mais detalhes da história", conta o professor.

Também os alunos decidiram plantar mudas de peroba-rosa na própria escola. "É uma árvore que tem importância histórica e cultural. Aí tem o link com a questão histórica: está no símbolo, na bandeira e no brasão. Aí eles começaram a reclamar, ela está extinta, ninguém planta. Tomamos iniciativa de plantar e o livro tem esse objetivo de fazer o resgate cultural", ressalta.

A publicação destaca a importância dos primeiros povoados de Jaú, a emancipação político-administrativa, o feito do aviador João Ribeiro de Barros entre outros destaques. Até o XV de Jaú ganhou uma página.

Braga Junior incluiu no final da publicação o Hino de Jaú e outros símbolos, a lenda indígena do peixe Jaú, a marcha "Asas de Jahu" que faz homenagem ao aviador João Ribeiro de Barros e jogos educativos de caça-palavras com contexto na história da cidade.

Livro resgata fatos e lendas de Jaú

"Só seremos universais se conhecermos e amarmos nossa aldeia", dizia o escritor Leon Tolstoi. É bem isso o que o professor José do Amaral Mendes Braga Junior faz em Jaú em duas escolas que leciona: ele produziu o livro didático "História do Jahu" junto com seus alunos para contar o surgimento da localidade e todos os assuntos que marcaram o município. A ideia inicial surgiu quando eles fizeram uma pesquisa para saber a origem da peroba-rosa existente no brasão da cidade.

Sociólogo de formação com curso em pedagogia e engenharia de controle de poluição ambiental, Braga Junior descobriu uma maneira de tornar as aulas de história mais interessantes.

O material didático "Valorizando a nossa história projeto de resgate cultural" é para estudantes do ensino fundamental, mas chama atenção e dá até destaque especial ao fato de alguns dos desenhos que estão no livro terem a participação dos alunos. A linha do tempo foi feita com traços da estudante Franciele Bruna de Godoi da 8ª série.

PRIMEIRO POVOADO

A implementação do projeto começou na Escola Municipal de Ensino Fundamental Enéas Sampaio e se estendeu à Emef Professora Norma Botelho que funciona no Caic Prof. Adones Piragine. Braga Junior leciona sociologia na Escola Estadual Dr. Domingos de Magalhães e história na Norma Botelho.

Amanhã (7), o professor vai lançar a nova edição no Espaço União Livraria & Café, no Shopping Jaú, a partir de 20h.

A publicação destaca a importância dos primeiros povoados de Jaú, a emancipação político-administrativa, o feito do aviador João Ribeiro de Barros de atravessar o Oceano Atlântico em um hidroavião, a paixão pelo XV de Jaú, o hino e outros símbolos.

Por ser um município bem antigo a história é bem diversificada com muitas lendas, mitos e uma viagem no tempo que começa na pré-história.

Braga Junior também incluiu no final da publicação o hino da cidade, a lenda do peixe Jaú, a marcha hino "Asas do Jahu" que faz homenagem ao aviador João Ribeiro de Barros e jogos educativos de caça-palavras com contexto na história da cidade. Na última página, o aluno recorta e monta o hidroavião Jahu de papel. "Essa parte do livro tem muita participação dos alunos. Eles gostam", afirma Braga Junior.

O professor destaca que o projeto nasceu com "pendores ambientais" e depois evoluiu para contar a história do município. Daí o nome Projeto Perobeiras. Atualmente é desenvolvida a parte de resgate histórico, mas em outras disciplinas são feitas atividades de plantio de flores e árvores. Há também visitas dos alunos ao Museu Pedagógico de Jaú.

Ideia ambientalista

O professor José do Amaral Mendes Braga Junior é coordenador da ONG União Pró-Jaú. Antes de produzir o livro didático, ele foi autor da monografia "Águas do Rio Jaú" feita em conjunto com Moisés Leocadio Zárate Vidal, Guilherme Canto Dumit e João Carlos de Sá que foi apresentada no curso de pós-graduação em engenharia de controle de poluição ambiental.

Na ocasião o livro destaca na conclusão os agentes de degradação ambiental que afetam a qualidade e quantidade das águas da bacia do principal manancial que corta o município de Jaú. Os autores sugerem que havia necessidade de destinação de forma concreta e definitiva os resíduos sólidos urbanos, domésticos e hospitalares das cidades que utilizam da bacia: Jaú, Dois Córregos e Mineiros do Tietê.

Eles também sugeriram a implantação de estações de tratamentos de esgoto nestas cidades que lançam seus resíduos líquidos in natura na bacia.

Lenda do peixe Jaú

A origem do nome do município tem a ver com os antepassados indígenas. O primeiro núcleo se instalou no "Sertão de Potunduva" e ficava diretamente ligado à rota monçoneira de São Paulo em direção às minas de Cuiabá, por meio de navegação pelo Rio Tietê.

O relato lendário envolve as etnias guarani e kaingang sobre um jovem guerreiro que não aceitou a troca de uma cunha entre seu pai, o cacique kaingang, e o chefe guarani, por causa do amor a uma jovem índia. Ele revoltou-se e reagiu.

O jovem perseguiu os guaranis próximo da Serra de São Pedro, onde, sozinho, os encurralou, causando muitas baixas. Mas, mortalmente, ferido retrocedeu. Cercado pelo inimigo decidiu atirar-se num ribeirão, de onde surgiu mais tarde, transformado em um bagre que recebeu o nome de Jaú. No livro conta que esse nome, dado pelos kaingangs, mais tarde passou também ao rio e, depois, ao município. No dialeto tupi-guarani "o corpo do filho rebelde".

Braba Jr. justifica que adotou no livro o relativismo cultural em contraposição ao etnocentrismo, isto é, todas as culturas e as etnias são importantes. "Neste contexto, a história dos povos kaingangs e guaranis e antes dos homens primitivos, os paleoíndios, deveriam ser consideradas como nossas também e neste ponto deu-se o início o trabalho", explica o professor sobre o fato de incluir as lendas indígenas no livro didático.

Frei Galvão, o santo

Não tem como contar a história de Jaú sem citar frei Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil e canonizado pelo papa Bento XVI em maio de 2007. Dotado de vários dons, o frade nascido em Guaratinguetá foi visto por volta do ano de 1810, às margens do rio Tietê, no distrito de Potunduva, onde teria ocorrido o efeito de bilocação - pode ser definida como a presença simultânea de uma pessoa em dois lugares diferentes.

O professor José Braga Junior conta que o milagre atribuído ao frei data da época das monções, no começo do século 19.

Os relatos afirmam que um navegador e mestre de monções chamado Manoel Portes, que era capataz de uma expedição que vinha de Cuiabá, estava seriamente ferido e antes de morrer queria confessar e ser abençoado pelo frei Galvão e pediu pela sua presença.

Segundo o professor, o milagre começa aí. No exato momento em que é chamado, frei Galvão pregava a um grupo de fiéis na cidade de Itu. De repente, ele interrompeu seu sermão e fala: "Alguém em um lugar distante necessita de meu socorro espiritual e clama pela minha presença. Rezem pela salvação de sua alma".

Após falar isso, permaneceu alguns minutos ajoelhado. Ao mesmo tempo, surgindo no meio da mata, em Potunduva, a figura de um franciscano, na qual reconheceram ser frei Galvão. Dirigiu-se até onde Portes estava amparou sua cabeça em seu colo. Sussurrou algumas palavras em seu ouvido, ouviu a sua confissão e o abençoou. Logo em seguida, frei Galvão desaparece dentro da mata antes de Manoel Portes morrer. Em Itu, no mesmo momento, frei Galvão ajoelhado quebra o silêncio: "Já cumpri a minha missão".

Nesse universo fantástico o livro cativa os estudantes, porque traz também supostos milagres que são contados por muitas gerações.

Peroba-rosa motivou o resgate histórico por alunos e professor

José do Amaral Mendes Braga Júnior explica que a peroba-rosa motivou ao resgate do livro "História de Jahu". Anteriormente, não havia um material específico sobre o município. Os alunos utilizavam trechos de textos da prefeitura, uma cartilha que conta a história do aviador João Ribeiro de Barros e outros tipos de apostilas.

"Começou com uma questão ambiental. Perguntei aos alunos: qual é a árvore símbolo de Jaú. Poucos sabiam. Só dois alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) souberam responder. Foi daí que se iniciou a buscar mais detalhes da história", conta o professor.

Também os alunos decidiram plantar mudas de peroba-rosa na própria escola. "É uma árvore que tem importância história e cultural. Aí tem o link com a questão histórica: está no símbolo, na bandeira e no brasão. Aí começou o questionamento de a árvore está extinta, ninguém planta. Tomamos iniciativa de plantar e o livro tem esse objetivo de fazer o resgate cultural", ressalta.

De acordo com a Wikipédia, a peroba-rosa é um dos nomes comuns da espécie Aspidosperma polyneuron. É muito utilizada em carpintaria, na fabricação, entre outros objetos, de vigas, escadas, tacos e de móveis pesados. Essa espécie encontra-se na lista das espécies para conservação no Brasil e na Venezuela.

Alunos plantam flores na escola

A questão ambiental continua no projeto de resgaste cultural da história de Jaú. O professor José do Amaral Mendes Braga Junior faz questão de destacar que o lado ambientalista influenciou bastante. Os alunos desde o início deste ano desenvolvem um projeto de melhorar visualmente a escola Caic com plantio de flores e mudas de árvores. "Sou ambientalista e procuro sensibilizar meus alunos quanto às questões relacionadas ao meio ambiente e motivar para que tomem atitudes corretas", cita o professor.

Na última semana, um grupo estava fazendo o plantio de semente de girassol. A escola tem um espaço amplo. A atividade é desenvolvida também pelo professor de Educação Física José Francisco Gonçalves de Souza, que foi escolhido neste ano para receber o prêmio Professor Antonio Terézio Mendes Peixoto, concedido em sessão solene na Câmara de Jaú a projetos que se destacaram na área de Educação.

De acordo com Souza, é um projeto de jardinagem para dar uma aparência melhor à escola. A atividade é desenvolvida por todas as disciplinas. O professor de ciência José Geraldo Brancaglião destaca que são abordados nas aulas teóricas o que se aprende na prática.

No começo deste ano já foram plantadas uma muda de pau-brasil, o ipê-amarelo, as árvores símbolos do Brasil, o jequitibá-rosa, a árvore símbolo do Estado de São Paulo e a peroba-rosa a árvore símbolo de Jaú. "Foram oportunidades de vivermos e valorizarmos nossos símbolos, nossa cultura e hoje temos o prazer de olhar para trás e ver as árvores crescendo em ver nossa realização".

A atividade foi realizada em parceria com a ONG União Pró-Jaú, uma organização não governamental que surgiu com o projeto "Observando o Tietê" do Núcleo União Pró-Tietê que promoveu monitoramento da qualidade de água e educação ambiental na bacia hidrográfica do Rio Tietê, o núcleo é vinculado à Fundação SOS Mata Atlântica.

O professor Braga Junior explica que o projeto continua a ser aplicado ou reaplicado seguindo um calendário socioambiental que pode começar no Dia da Água 22 de março, abordando questões relativas a bacia hidrográfica do Rio Jaú e pode terminar no dia 21 de setembro Dia da Árvore.  

Há também o projeto de coleta seletiva de lixo batizado de "Encha o Saco Certo" com utilização de sacolas ecológicas, dos quais são coletores e embalagens recicláveis na Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof. Enéas Sampaio Souza.

Problema da água é citado na publicação

O município é cortado por um rio, que passa no vale do Rio Jaú. A preocupação ecológica é destacada ao abordar o problema da qualidade da água.

Na publicação "História do Jahu" é destacada que uma região que abriga uma população de aproximadamente 200 mil habitantes, necessita cerca de 600 milhões de litros de água por dia, usando um índice per capita que varia de 50 a 100 litros. Mas pode chegar, segundo o professor, até 300 litros ao dia, dependendo do clima que estiver na cidade. No calor, o consumo e desperdício de água é muito maior, destaca.

"Para agravar a situação, além de termos uma necessidade de grande quantidade de água, é muito antigo o costume de jogar os esgotos da cidade e muitos tipos de lixo nos rios. É um costume que provocou a degradação dos rios que passar a receber o esgoto sem tratamento", cita o autor do livro.

Também é mostrado que a pesca que, foi marcante na educação alimentar e no lazer, tantos de adultos como crianças, na bacia do Rio Jaú, foi diminuindo devido a poluição causada pelo esgoto doméstico e industrial nos mananciais.

Por isso os peixes mais abundantes foram sumindo dos rios. Hoje é raro encontrar o jaú (peixe símbolo da cidade) e outras espécies como a jurupoca, lambari, bagre, cascudo, traíra, tuvira, curimbatá e mandiúva.

Galo da Comarca ganha espaço no livro 

Sem futebol não tem como contar qualquer história no Brasil. Principalmente se for a do "Galo da Comarca", o apelido do XV de Jaú. Uma das equipes mais tradicionais do interior paulista. Atualmente disputa a Série B do Campeonato Paulista.

O clube foi fundado em 15 de novembro de 1924, como homenagem à Proclamação da República. As cores que o clube ostenta, verde e amarela, também fazem alusão às cores da bandeira brasileira.

De acordo com o site oficial do clube, seu primeiro jogo foi um amistoso em 16 de novembro de 1924, um dia após a sua fundação. O XV de Jaú ganhou de 3 x 0 do Rio Claro, em partida disputada no campo da rua Sete de Setembro. Em 1931, o clube recebeu o apelido de "Galo da Comarca" e o animal continua como mascote.

Inicialmente, XV de Jaú passou duas décadas disputando torneios amadores pelo interior do Estado e apenas em 1948 resolveu se profissionalizar, quando participou do Campeonato Paulista da Segunda Divisão.

Com a instituição da Lei do Acesso em 1948, o XV de Jaú teve o firme propósito de chegar à elite do futebol paulista e conseguiu este feito, em 1951, quando venceu a decisão contra o Linense no Pacaembu e se tornou o campeão.

No livro didático é destacado o estádio Zezinho Magalhães construído em 1971 com projeto do famoso arquiteto Vila Nova Artigas. A partida inaugural foi entre XV e Juventus, em comemoração ao aniversário da cidade. Mas no começo do clube o time jogou no Estádio Artur Simões, que tinha condições precárias e acabou demolido para dar lugar a um loteamento residencial na antiga Vila XV.

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