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Cidade de Bauru tem quatro clubes nipônicos

Marcele Tonelli
| Tempo de leitura: 5 min

Fotos: Malavolta Jr.
Aula de ginástica com associados no Clube Okinawa do Bela Vista
Chá da tarde com associados no Clube Okinawa do Bela Vista 
Bon Odori no Nipo, que ocorre há, pelo menos, seis décadas
Chá da tarde no Clube Okinawa do Bela Vista, que também oferece aulas de língua okinawa w origami
Célio Kiohaki Kanashiro explica que o clube Acoas sobrevive hoje pelo kung fu
Reprodução Internet
Bauru Golf Club, que fica no quilômetro 362 da rodovia Bauru-Marília
Fotos: Malavolta Jr.
Kenjo Oshiro trabalha para reerguer o Clube Okinawa do Bela Vista, fundado há quase 4 décadas
Yae Kami, 92 anos, okinawana e uma das associadas mais experientes do Clube Okinawa do Bela Vista
Fechado por alguns anos, o Clube Okinawa do Bela Vista voltou à ativa e oferece diversas atividades diárias

Neste ano, o Clube Cultural Nipo-Brasileiro (Clube Nipo) de Bauru completa 80 anos de existência. Considerada a maior e mais antiga associação japonesa da cidade, o Nipo, no entanto, não é a única entidade voltada para a colônia nikkei. Em Bauru, outros três clubes, dois deles okinawas (imigrantes ou descendentes de Okinawa, uma ilha no sul do Japão), também são considerados oficiais: a Associação Clube Cultural Okinawa do Brasil Subsede Bauru, que fica no Jardim Bela Vista; a Associação Cultural Okinawana Água do Sobrado (Acoas), na Vila Independência; e o Bauru Golf Club, que fica no quilômetro 362 da rodovia Bauru-Marília.

INÍCIO E RACHA

Além do Nipo, o segundo clube mais antigo registrado em Bauru teria sua fundação datada na década de 40 e chamava-se Clube Cultural Okinawa do Brasil de Bauru. A entidade teria surgido de uma iniciativa de um grupo de japoneses feirantes, que se reunia constantemente, e queria manter viva as tradições do povo okinawa.

A entidade funcionava em uma chácara na região do córrego Água do Sobrado. O local teria abrigado a primeira escola japonesa fundada por okinawas na cidade.

Divergências de opiniões na diretoria, no entanto, acarretaram o desmembramento do clube, que fechou as portas na década de 60.

Mas a intriga foi pontapé para a criação de outros dois clubes, que se formaram em 1970: a subsede do Bela Vista, que se estabeleceu na rua Doze de Outubro, e o Acoas, que se consolidou na rua Manshi Kanashiro, na Vila Independência.

Apenas uma delas, contudo, mantém viva a tradição cultural e a língua okinawa. Ambas as entidades, assim como outros clubes da cidade, enfrentam dificuldades para se manter, por causa da baixa quantidade de associados ativos.

BELA VISTA

Hoje, a Subsede do Clube Okinawa no Bela Vista possui 60 famílias associadas. De 2008 a 2012, no entanto, a entidade ficou parada. Kenjo Oshiro, 66 anos, atual presidente, diz que tem se desdobrado para reerguer o clube, que fica aberto de segunda a quinta-feira, das 8h às 22h. 70% do público frequentador de lá é formado por idosas.

"Oferecemos ginástica, origami, kung fu, karatê, sanshin (aulas de música) e aula da língua okinawa", afirma Oshiro. "O clube é aberto. Não são mais só os japoneses que podem participar", acrescenta. Cada família paga mensalidade de R$ 20,00.

ÁGUA DO SOBRADO

O Akoas, por sua vez, possui 120 cadastrados, porém, 80% não colaboram com a mensalidade do clube, que hoje sobrevive por meio de parceria com a Associação Yamada de Kung Fu Wushu. "Estamos iniciando aulas de capoeira. Também temos aulas de língua japonesa. Éramos conhecidos, antigamente, pela dança e pelo famoso karaokê, mas muitos japoneses foram embora para o Japão. Alguns sócios ainda ajudam, mas o que paga as contas mesmo é o kung fu", frisa o atual presidente da entidade, Célio Kanashiro, 57 anos.

A entidade funciona de segunda a sexta-feira das 18h30 às 21h, apenas no horário das aulas.

GOLF CLUB

O terceiro clube mais recente surgiu com a proposta de difundir o golfe em Bauru e região. Três irmãos apaixonados pelo esporte, Satoru Yoshiura, Tetsuro Yoshiura e Tsuneki Yoshiura, transformaram, a fazenda da família, famosa pelo cultivo de abaxis, no Bauru Golf Club.

Fundado também na década de 70, o clube é administrado, atualmente, por Newton Tohuro Yoshiura, filho de Tetsuro. A entidade, que possui cerca de 80 associados, não promove atividades culturais japonesas. A identidade nipo é mantida apenas em alguns torneios mensais e em um campeonato fechado, que ocorre em novembro só para japoneses e integrantes da família fundadora. A mensalidade custa em torno de R$ 395,00. O clube abre de terça a domingo.

"O clube não é japonês. Antigamente, a maioria dos sócios era, mas hoje misturou tudo", pontua Newton.

11% dos nikkeis são okinawas em Bauru

Ex-vereador e um dos líderes, além de representantes da colônia japonesa em Bauru, Futaro Sato estima população de até nove mil japoneses na cidade, com 2.200 famílias. Já os okinawanos e seus descentes chegariam a 250 famílias, o que corresponde a 11% da população de nikkeis que aqui vivem, avalia Célio Kanashiro.

A cor da pele um pouco mais escura e um linguajar considerado mais robusto diferem os okinawas dos demais nikkeis. "Abrasileirou e misturou bastante, mas não podemos esquecer a nossa origem e perder a identidade", comenta Kanashiro.

Em tempo: A imigração japonesa no Brasil teve início em 1908, quando o navio Kasato Maru atracou em Santos, trazendo lavradores para as fazendas, principalmente para o Interior Paulista. Entre eles, estavam muitos okinawanos, oriundos da ilha de Okinawa, no sul do Japão. Na época, o local possuía linguagem e cultura diferenciadas dos demais japoneses.

Kanashiro, Oshiro, Metorima, Taba, Nakandakari, Miyazato, Higa, Tobaro, Nebo, Tamanaha. São vários os sobrenomes que identificam famílias de origem okinawa por Bauru e região.

Associada do clube do Bela Vista, a okinawana Yae Kami, de 92 anos, ainda lembra da sua vinda ao Brasil, em 1929. "Viemos para trabalhar, mas viramos escravos em fazendas. Morei em Cafelândia e em Bastos, antes de me casar e mudar para Bauru", lembra a idosa, minutos após participar de aula de ginástica e demonstrar ser uma das mais ativas do grupo.

SERVIÇO

O Clube Nipo-Brasileiro de Bauru fica na rua Monsenhor Claro, 9-51, Centro. 

O Clube Okinawa Brasileiro de Bauru está localizado na rua Doze de Outubro, 11-80, Bela Vista.

A Associação Cultural Okinawana Água do Sobrado fica na rua Manshi Kanashiro, 2-39, Vila Independência.

O Bauru Golf Club fica na Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), a Bauru-Marília, no Km 362,5.

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