Ciências

Os vegetais também fazem sexo! Por Alberto Consolaro


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Sexo entre as plantas: a agricultura depende da polinização e a produção do maracujá já tem que ser feita pelo ser humano em determinadas regiões

A professora explica a polinização tecnicamente, mas, para aprendermos, precisamos de emoção, curiosidade, necessidade e sentimento permeados na aventura de saber! Se aprendeu que polinização é sexo entre plantas, nunca se vai reclamar dos ventos ou das chuvas, nem amaldiçoar borboletas, vespas e abelhas. Quem sabe o valor da polinização em nossas vidas nunca vai dizer “o tempo está feio”, só por que está chovendo. Também nunca dirá “o céu está limpo”, como se sujo estivesse, quando chovendo.

As plantas, para dar frutos e grãos, precisam de DNA de outra planta. As plantas precisam de sexo. Nós também! Sexo é tudo que se faz para trocar DNA para reproduzir. O pólen carrega este DNA e é levado de planta em planta pelos agentes polinizadores como vento (anemofilia), abelhas, vespas e moscas (entomofilia), besouros ou cantarolfilia, borboletas ou psicofilia, mariposas ou falenofilia, pássaros ou ornitofilia, anfíbios e répteis ou hepertofilia, morcegos ou quiropterofilia e água ou hidrofilia.

Se ensinarmos que plantas fazem sexo, a aula de botânica vai ficar muito mais interessante no passeio ao zoológico e horto! Poderia ser assim quando estivéssemos longe da pessoa amada! Que o vento e os insetos levassem gotículas de amor com saliva, mucos e secreções cheirosas! Tá bom, já aceitei, poderia ser por celular, skype e WhatsApp, mas ainda não conseguimos enviar cheiros, sabores e resiliências por e-mails e mensagens… mas bem que poderia!

A polinização é o processo no qual se transfere as células reprodutivas masculinas ou núcleos espermáticos por meio dos grãos de pólen ou espermatozoides das plantas, localizados nas anteras de uma flor, para o receptor feminino ou estigma de outra flor da mesma espécie. É o ato sexual das plantas em que o gameta masculino alcança o gameta feminino a fecundá-lo. Me arrepiei!

Valorizar os agentes polinizadores é uma questão de sobrevivência, economia e inteligência. A produção agrícola tem caído porque estamos acabando com os insetos, especialmente as abelhas. Cientistas mexicanos e brasileiros previram uma perda de 16,5 a 15 milhões de toneladas agrícolas se os agentes polinizadores não forem recuperados. Na produção agrícola, 68% são dependentes da polinização, como soja, café, melão, maçã, goiaba, abacate, melancia, tomate e pêssego.

O cultivo do maracujá é exemplar. Existe apenas um agente polinizador: a abelha mamangava. Quando o tempo muda bruscamente ou quando se usa defensivos agrícolas nas redondezas, a produção despenca. A cana de açúcar, milho e arroz têm baixa dependência da polinização e os ventos ou água conseguem compensar a falta dos insetos. Na pesquisa publicada na revista Plos One, o principal responsável pelo declínio da produção agrícola e polinização é a transformação de extensas áreas de floresta ou mata nativa em monocultura. A solução seria manter áreas nativas não fragmentadas ao lado das plantações para preservas os abelhas.

Há um problema, estas matas podem ser origem de pragas que pedirão o uso de agrotóxicos que matariam as abelhas! Esta equação é difícil de resolver, mas a energia e criatividade devem ser voltadas para inseticidas seletivos que não mataria qualquer inseto, apenas os que fariam mal. Na China, usa-se mão de obra humana para polinizar plantações inteiras, pois a produtividade caiu muito sem abelhas. Nas plantações de maçã, se não houver polinização pelo homem, não há produção!

Olhe cafezais, laranjais e plantações de soja e tenha a impressão que está tudo parado… mas estão em plena atividade proliferativa, reprodutiva e produtiva! Naquele mar de tranquilidade, existe um mundo de muita atividade sexual e trocas de DNA para a multidiversidade que nos nutre.

Às crianças e adolescentes devem ser explicitado que plantas têm intensa atividade sexual. Temos que acabar com a ideia de que quando a pessoa fica incapaz de fazer algo, ela esteja em estado “vegetativo”. Vegetal tem vida intensa, plena atividade sexual e produtiva. Tem DNA nas células das carnes que comemos e nos vegetais. Este DNA precisa ser trocado para a produtividade acontecer! Só se preserva o que se conhece e admira!
Xô ignorância.

Alberto Consolaro é?professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC.

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