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Entrevista da Semana: Richard Leutz, um mestre do kung fu

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 6 min

Fotos: Divulgação  
Apresentação do título mundial de 2016                        

Ele é o fundador da Associação Garra de Tigre e ícone do kung fu bauruense nos últimos 21 anos. Nascido em Santos, foi em Bauru que Richard Leutz consolidou sua carreira com a modalidade e realizou alguns sonhos, como o de lutar na China no evento comemorativo ao aniversário do Templo Shaolin, a “Meca” do kung fu moderno. Em solo chinês, inclusive, já pisou diversas vezes.

“Eu assistia filmes chineses antigos com meu pai e me despertei para isso. Mas eu morava na periferia do Guarujá e lá não havia academias. Até que meu primeiro professor, de Santos, passou a dar aulas em um centro comunitário do bairro”, lembra.

Com títulos conquistados dentro e fora do Brasil, muito respeito e milhares de alunos que já passaram por suas mãos, ele hoje projeta crescimento para a Garra de Tigre: “queremos uma sede própria que possa atender mais pessoas e estamos batalhando para isso”, garante Richard, que também é bastante conhecido por ser professor de pilates. Leia, a seguir.

Jornal da Cidade - Quando você conheceu o kung fu?
Richard Leutz - Eu conheci a modalidade no fim da minha infância, quando eu tinha uns 11 ou 12 anos. Eu me interessei pela arte marcial como quase todo mundo, vendo filmes. Eu assistia filmes chineses antigos com meu pai e me despertei para isso. Mas eu morava na periferia do Guarujá e lá não havia academias. Até que meu primeiro professor, de Santos, passou a dar aulas em um centro comunitário do bairro. Um menino que não gostava de mim me convidou para as aulas, achando que lá ele poderia me bater. Eu fui na inocência, o menino não conseguiu me bater, saiu, eu continuei com as aulas e fui evoluindo.

JC – A arte marcial o trouxe a Bauru?
Richard – Não. Quando chegou a época do vestibular, eu prestei Unesp e vim para cá em 1995. Fiz faculdade de Rádio e TV na Unesp e depois de Educação Física na FIB. Também fiz especialização em Fisiologia do Exercício e Biomecânica na Faculdade de Medicina de Rio Preto. Quando cheguei aqui em Bauru, já era instrutor de kung fu e fui procurar uma academia para treinar. Não achei nenhuma do meu gosto, mas conheci um cara que me chamou para dar aulas na academia dele, que não tinha kung fu ainda. E comecei a dar aulas.

JC – Quando nasceu a Associação Garra de Tigre?
Richard – Eu estava dando aulas sozinho e meu professor, em Santos, usava o nome Garra de Tigre para os locais de suas aulas, porque é o apelido do estilo que a gente ensina e treina. Foi aí que tive a ideia de montar a Associação Garra de Tigre, juntando o Guarujá e Bauru.

Recebendo a medalha de ouro no mundial de kung fu, estilo Hung Gar (Foshan, 2016)                        
Richard com seu mestre Lam Chun Sing, durante sua vinda ao Brasil em 2015

JC – Quando a Garra de Tigre se consolidou em Bauru?
Richard - As coisas foram se expandindo naturalmente. Na época de estudante, eu morava em uma república com alguns judocas e tivemos a ideia de montar um projeto social aliando o judô e o kung fu. Nós nos reunimos com o então prefeito Tidei de Lima, ele gostou da ideia, alugou um prédio e teve início o projeto da academia municipal, no Geisel, há 21 anos. Daquela época, só restou eu. Eu comecei como estagiário, depois fui professor voluntário durante mais de 10 anos, passei a ser técnico desportivo e, hoje, coordenador de modalidade.

JC – Além do projeto, quais são as suas outras atividades profissionais?
Richard – Eu dou aulas particulares de kung fu e de pilates.

JC – Quando você começou a lutar e a fazer do kung fu a sua profissão?
Richard – Em Santos, não éramos filiados à Federação, então não tínhamos acesso às competições. Quando fundamos a Associação, em Bauru, a gente tinha muitos alunos no Geisel. Uns 100 alunos no início e com fila de espera. E eu notei que havia muitos talentos ali para competições. Comecei a fazer educação física para preparar melhor o pessoal. Em 1996, eu já tinha quatro atletas competindo, o que só aumentou e, em 2007, tínhamos cerca de 50 atletas de competição.

JC – Foi nessa época que você passou a competir?
Richard – Nesse meio tempo, eu passei a competir junto com eles também. Mas eu mais treinava os alunos e tinha pouco tempo para me dedicar a minha própria preparação. Alguns alunos têm até mais títulos do que eu.

Malavolta Jr.
Richard com a esposa Juliane e o filho Noah

JC – Quais são os seus melhores resultados?
Richard – Eles vieram recentemente, quando eu pude me dedicar mais ao meu desempenho, já na reta final. Foi a realização de um sonho, um dia disse para meu pai que lutaria na China, pena que ele morreu bem antes de ver. Embora não tenha conseguido medalha, para mim, a competição mais importante veio em 2010, quando fui o primeiro brasileiro a lutar no evento comemorativo ao aniversário do Templo Shaolin, que é a ‘Meca’ do kung fu, onde o kung fu moderno foi desenvolvido. A cada dois anos, eles fazem uma comemoração e recebem atletas de todo o mundo. É uma grandeza e beleza sem igual. Em 2010, eu conquistei o quarto lugar; em 2012, eu fiquei em terceiro; em 2014, eu fiquei em segundo e, no ano passado, fiquei em segundo lugar em duas categorias. Um mês depois, eu voltei para a China para um campeonato mundial, também fiquei em segundo lugar, mas perdi para um chinês (risos). Por aqui, venci o Paulista quatro vezes, o Brasileiro uma vez e alguns campeonatos internacionais realizados no País. Porém, por mais que pareça importante, nunca liguei para títulos.

JC – Como professor, qual a sua avaliação sobre os benefícios trazidos pelo kung fu?
Richard – Hoje em dia, por mais que levemos em consideração todas as características que todas as artes marciais têm, como melhorar foco, disciplina, saúde, coordenação motora, o que eu tenho encontrado de mais útil para as crianças e adolescentes é o poder do kung fu de tirar o foco desses alunos das coisas ruins e ocupar a cabeça deles com coisas boas, porque, infelizmente, a concorrência com drogas e tudo o que há de negativo é muito grande.

JC – Você está “aposentado” das lutas?
Richard – O atleta precisa ter até 40 anos para a luta de contato no kung fu. Eu estou com 41 anos e agora vou continuar nas categorias de demonstração.

JC – Projetos novos?
Richard – Tenho um sonho: que a Associação Garra de Tigre tenha uma sede própria e que possa atender mais pessoas, o que é muito difícil, mas estou trabalhando nesse caminho. Estamos elaborando um projeto para a captação de recursos junto ao Governo Federal com a Lei de Incentivo ao Esporte. Estamos procurando empresas que estejam dispostas a participar do projeto, sem ônus. Ela daria uma parte do seu imposto para o projeto ao invés de dar para o governo. Queremos montar um novo núcleo em Bauru e um em Lençóis Paulista.

Perfil

Richard Leutz 
Tem 41 anos, é do signo de Virgem e nasceu em Santos. É casado com Juliane Campos com quem tem um filho: Noah
Hobby: Quando tem um tempinho, opta pelo cinema e leitura
Livro: Está lendo “Contos Inacabados”
Música: MPB
Time: Santos
Filme: Pulp Fiction
Nota 10: Só Deus merece tal nota
Nota 0: Para os Três Poderes
E-mail: rleutzhg@hotmail.com

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