Aceituno Jr. |
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Todos atrás das grades: responsáveis por dar início à rebelião foram identificados como Jefferson Talarico, Diego Segatto, Antonio de Souza, Paulo Gonçalves, José Luiz da Silva, José Roberto dos Santos, Michael Heleno, Lincoln de Oliveira, Wellington da Silva e Juriel Rodrigues; na foto alguns deles |
Ainda na tarde dessa terça-feira (24), a Polícia Civil identificou os dez reeducandos apontados como os responsáveis por desencadear a rebelião que destruiu quase todo o CPP 3 de Bauru. Jefferson da Silva Talarico, 28 anos, era o preso que estava com o celular apreendido por um agente penitenciário e Diego Ferreira Segatto, 32 anos, segundo as investigações, teria sido o primeiro detento a se insurgir contra os servidores da unidade.
De acordo com o Comando da Polícia Civil, Antonio Sérgio de Souza, 54 anos, Paulo Roberto Gonçalves, 45 anos, José Luiz Ramos da Silva, 42 anos, José Roberto Assis dos Santos, 41 anos, Michael Franco Heleno, 39 anos, Lincoln Allan de Oliveira, 34 anos, Wellington Quizhiner da Silva, 34 anos, e Juriel Rodrigues, 25 anos, também teriam contribuído para insuflar os demais reeducandos a iniciar o motim.
Presos em flagrante, eles voltarão a cumprir suas penas em regime fechado e responderão pelos crimes de associação criminosa, incêndio criminoso, dano com grande prejuízo ao patrimônio público, motim e rebelião com ação violenta. Os presídios para onde eles seriam encaminhados não foram reveladas por motivo de segurança.
Dos dez líderes, apenas dois – Jefferson e Diego – chegaram a sair do CPP 3 e foram recapturados nas imediações da unidade prisional. Os demais, ainda de acordo com a Polícia Civil, foram identificados nas dependências do complexo. Todos prestaram depoimento na Central de Polícia Judiciária (CPJ).
Segundo o titular da Delegacia Seccional de Bauru, Ricardo Martines, uma equipe do Centro de Inteligência foi deslocada para o CPP 3 para monitorar o episódio e dar início às investigações. “A partir das informações colhidas junto à diretoria e aos agentes do sistema, foi possível identificar estes dez líderes”, resume.
‘CAVALO LOUCO’
Fotos: Renan Casal |
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Delegados Marcos Mourão e Ricardo Martines avaliam que rebelião foge da normalidade |
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Coronel Airton Martinez e tenente-coronel Flavio Kitazume descartam participação de facções |
Martines acredita que boa parte dos reeducandos fugiu estimulada pelo calor do momento, sem pesar os reais motivos para tomar tal decisão. “É o que chamamos de cavalo louco na gíria policial. São aqueles que foram no embalo de outros presos que tinham a intenção de fugir”, cita, usando como exemplo um dos detentos que, durante a tarde dessa terça-feira (24), se apresentou voluntariamente na CPJ na companhia de um advogado.
Diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 4 (Deinter -4), Marcos Mourão afirmou que o episódio fugiu da normalidade e que ganhou contornos ainda mais graves devido ao temor generalizado que gerou na população. “São presos que tinham tratamento privilegiado, beneficiados com o regime semiaberto e, mesmo assim, se amotinaram e se evadiram, em uma ação criminosa, que destruiu o prédio do CPP 3, causando pânico na cidade, muito em razão dos boatos que foram ventilados com irresponsabilidade em redes sociais”, comenta.
Martines também se mostrou surpreso diante da onda alarmista que tomou conta de Bauru. “Era até plausível esperar que algum tipo de crime ocorresse no entorno da unidade, porque os presos buscam facilitar sua fuga. Mas não teria sentido algum eles seguirem para a região central, realizarem arrastões, se exporem desta forma”, completa.
Cerca de 800 presos transferidos
Segundo as polícias Civil e Militar, dos 1.430 reeducandos que cumpriam pena no CPP 3, apenas 600 permaneceriam na unidade após a rebelião. Todos, incluindo os 208 que estavam trabalhando fora da unidade ontem, seriam detentos sem qualquer envolvimento com o motim.
Eles seriam alojados na área do prédio que permaneceu íntegra, que equivale a 20% da construção. Segundo o Sindcop, o espaço remanescente comportaria até 300 presos.
A Polícia Militar informou que os demais – algo em torno de 800 homens - foram transferidos ainda ontem, sob escolta, para presídios de Balbinos, Álvaro de Carvalho, Getulina e Hortolândia. “Não apenas os que fugiram, mas todos os que cometeram infrações por envolvimento no motim devem perder o direito de continuar cumprindo pena no regime semiaberto”, adianta o comandante do Comando de Policiamento do Interior-4 (CPI-4), o coronel Airton Iosimo Martinez. Procurada, a SAP não confirmou os números.
500 PMs mobilizados
Cerca de 500 policiais militares de Bauru e região foram mobilizados para atuar na contenção da rebelião do CPP 3 e também nas buscas dos reeducandos foragidos.
Segundo o CPI-4, além do Helicóptero Águia de Bauru, o Águia de Araçatuba foi deslocado para a cidade como reforço na operação. Ainda de acordo com a PM, não houve disparos de arma de fogo ou de arma não letal, sendo necessário apenas o uso de bombas para a contenção dos homens que ameaçavam fugir (e que foram controlados, ao final, pelo Grupo de Intervenção Rápida, força especial da Secretaria da Administração Penitenciária), bem como durante a captura dos detentos no entorno da unidade prisional. Outra informação destacada é que nenhum policial ficou ferido.
Carro roubado e até colisão em árvore
Sete fugitivos do CPP 3 roubaram um Celta de uma empresa do Distrito Industrial 3, que fica próxima ao presídio, na tentativa de escapar do cerco policial. Em boletim de ocorrência, um funcionário relatou que o grupo, empunhando pedaços de madeira, pulou o muro do estabelecimento e exigiu as chaves do veículo.
O caso foi registrado por volta das 8h50. Logo depois, o carro foi avistado por uma viatura da PM, que já realizava buscas na região. Houve perseguição e, com o apoio de outras viaturas, o Celta foi interceptado na quadra 2 da rua Romeu Sola. Os sete reeducandos tiveram as prisões preventivas decretadas e foram encaminhados para penitenciárias da região.
De acordo com o delegado seccional Ricardo Martines, em outro ponto também foi registrada uma tentativa de roubo de veículo, em que o automóvel teria sido “balançado” por três ou quatro detentos. “Também houve um caso inusitado, de uma senhora que estava dentro de um carro e viu uma pessoa se aproximando. Certamente já em pânico devido às informações que corriam em redes sociais, ela acabou dando ré de forma bruta e se chocou em uma árvore”, lamenta.
Participação de organização criminosa
A Polícia Civil de Bauru acredita serem remotas as chances de a rebelião ter contado com a participação de uma facção criminosa, mas ainda não descarta por completo esta possibilidade. Já o Comando da Polícia Militar informa que não há qualquer envolvimento de organizações desta natureza no episódio, que se diferenciou dos demais registrados em outras regiões do País.
“Nenhum funcionário foi feito refém, não houve reféns entre os presos, ninguém ficou ferido com gravidade. Não há qualquer conexão com estes eventos anteriores”, cita o tenente-coronel Flavio Kitazume, comandante do 4.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4.º BPM-I).
Já o diretor do Deinter -4, Marcos Mourão, pondera que apenas as investigações poderão explicar a origem da ação dos reeducandos, que ele classificou como desproporcional. “Pelo que consta, não foi algo planejado. Mas a superlotação da unidade, embora não seja uma justificativa aceitável, é algo que gera insegurança e intranquilidade, mesmo no regime semiaberto”, avalia.