Ciências

Geração Y já era: a realidade é gasosa

Alberto Consolaro éprofessor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC
| Tempo de leitura: 3 min

Se alguém lhe pedisse para caracterizar o momento atual, quais as palavras e conceitos utilizarias para se expressar? A geração atual nasceu na virada do século, os da anterior foi chamada de Y com aniversário de 1978 a 2000. A geração Y cresceu em um mundo estável com forte valorização da infância, autoestima elevada, superprotegidos, sem se sujeitarem a atividades de longo prazo e sempre desejando benefícios imediatos.

A geração Y valorizou intensamente a internet, computador e tecnologia. As pessoas anteriores foram enquadradas como "tradicionais", se nascidas antes 1945. Os nascidos entre os anos 46-64 foram chamados de baby-boomers ou filhos do pós-guerra e os de geração X eram nascidos entre 65 e 77.

Os "nativos digitais" (ou geração Y) criaram a mentalidade da inovação permanente. Vida sem email, blog, site, ebooks, twiter, facebook, whatsap e gps, nem pensar. Apesar de individualistas, a geração Y têm uma profunda consciência social, se preocupa com o meio ambiente, direitos humanos e liberdade de expressão.

A geração Y procurou dar um sentido à vida, de preferência de forma rápida e fazendo-se várias coisas ao mesmo tempo. Mas a fila anda e a roleta é pública! Os novos já são chamados de geração Z ou outros nomes! A geração Y virou passado na linha do tempo.

AGORA É ASSIM!

A realidade agora é fluídica. No passado recente as coisas eram sólidas, estáveis e constantes. Se você não compreender isto, não se adaptar, a frustração tomará conta de seu coração.

Planos hoje, só se for para amanhã! Tudo isto foi retratado pelo aclamado sociólogo Zygmunt Bauman ao criar o conceito de "modernidade líquida". Aos 91 anos, ele compreendia o mundo atual como ninguém; pena que morreu no início deste 2017!

Hoje o conceito de vanguarda é a "modernidade líquida", onde o futuro não existe, o normal é ser instável e imprevisível. O que sabemos hoje, amanhã não mais servirá. O conhecimento e os mecanismos evoluem rapidamente. Tudo é virtual. Nada está sob controle de ninguém. A realidade deixou de ser sólida!

De forma caótica e aleatória, o coletivo sobrepõe o individual e quase nada se faz sozinho, tudo tem partes de cada um a se encaixar e sobrepor. Ninguém é dono de nada, tudo é de todos: sem ideologias! De preferência tudo gratuito ou barato e acessível sempre! Ninguém mais quer liderar, ser dono, ocupar a vanguarda, puxar a fila ou se identificar como responsável.

Quem é a liderança, para onde vamos, quem nos conduz? Não importa, o "onde vamos" é futuro e na modernidade líquida o futuro não importa! Os professores e pais não conseguem mais delimitar, cercar, selecionar e conduzir alunos e filhos neste mar de conhecimento sem limites. Não há mais guardiões do saber. O conhecimento está na rua, casa e celular, diluído como líquido para beber quando for oportuno!

O novo chega primeiro nos sites e blogs do que nas bibliotecas e salas de aula. A modernidade líquida subverteu a figura do professor e dos pais, pois alunos e filhos acessam o conhecimento novo antes que eles. A autoridade de pais e professores está associada mais às suas características e virtudes pessoais do que ao fato de ter e mostrar conhecimento! Limites entre pessoal e profissional se perderam.

ULTRAPASSADA

A geração Y, frente às gerações atuais, está ultrapassada em seus conceitos. Quem diria! Se alguém me pedisse para descrever o momento atual e quais as palavras e conceitos que utilizaria para caracterizá-lo, eu usaria o conceito de Bauman: a realidade é fluídica!

Mas acrescentaria: - Daqui a pouco a realidade será "gasosa" e o aprendizado dependerá cada vez menos se queremos ou não! Isto será bom ou ruim? Acredito que será viver na plenitude do pensamento de Aristóteles: não há nada no nosso intelecto, ou seja, em nossa mente ou cérebro, que não tenha passado antes pelos órgãos dos sentidos, isto é, pelos ouvidos, olhos, tato, paladar e olfato.

Na "realidade gasosa", a cada momento, movimento e pensamento estaremos aprendendo como ao respirar. O saber virá ao sabor da sensibilidade natural que cada um tem em seu próprio corpo. Viver, saber e sabor serão sinônimos!

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