Aline Mendes |
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J. Augusto e J. Martins hoje estão na transmissão e na torcida do Esporte Clube Noroeste |
Conversa vai, conversa vem, e o assunto sempre volta a ser o Esporte Clube Noroeste. Não por acaso. Há mais de 40 anos os radialistas esportivos J. Augusto e J. Martins acompanham o time. Já foram comentaristas e narradores, porém, o que gostam mesmo é de cobrir o jogo ao lado do campo.
De lá, transmitem a emoção das partidas, reclamam com árbitro, fazem amizade com jogadores e confusão com adversários. "Somos torcedores disfarçados de radialistas!", confessa J. Martins. O J. no nome é coincidência, mas a amizade não.
Já trabalharam juntos e em emissoras concorrentes. Há um ano, "batem bola um para o outro" de novo na rádio Auri Verde. "Sempre fomos parceiros, mesmo estando em rádios diferentes. Nunca escondemos notícia um do outro", relembra J. Augusto.
Nessa entrevista, eles contam algumas aventuras e revelam as expectativas para o jogo decisivo de hoje... Que jogo? Do Noroeste, é claro!
Arquivo pessoal |
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Polícia Militar pede para J. Augusto deixar o campo e, atrás, J. Martins o defende, durante confusão na cobertura de jogo |
Quioshi Goto/Reprodução |
J. Augusto e J. Martins: um 'passa a bola' para o outro |
JC - Como foi o início no rádio?
J. Augusto - Em 1965, a rádio Terra Branca fez um chamamento para quem quisesse cobrir o futebol amador. Fiz o teste e fui aprovado. Era programador do Leonardo de Brito quem lançou muita gente. Depois fui para a rádio que hoje é a Bandeirantes, voltei para a 710 e, em definitivo, a Auri verde, onde estou há 27 anos.
J. Martins - Trabalhei em todas (Terra Branca, Bandeirantes, 710, Auri Verde e numa rádio alocada por Damião Garcia só para cobrir o Noroeste), também em Jaú e Marília, mas não tinha simpatia pelo time e descobriram o meu amor pelo Noroeste! Quando era adolescente, me deram uma súmula para anotar os jogadores. Um dia Valter Lisboa me deu a oportunidade de ler a súmula na Bauru Rádio Clube. Não parei mais. O rádio é uma cachaça!
JC - Por que permanecem à beira do campo?
J. Augusto - Já tive a oportunidade de transmitir jogos do Campeonato brasileiro, trabalhar no Morumbi e no Maracanã, na Copa América no Chile e até numa corrida de Fórmula 1, pela Bauru Rádio Clube. É mais trabalhoso, toma chuva e sol. O pessoal hoje leva protetor solar e outras coisas, a gente se queima mesmo!
J. Martins - A gente podia ficar só como narrador ou comentarista, mas gosta mesmo é da emoção do campo. A cabine é fria. No campo a gente vê os bastidores, escuta o que os jogadores falam e vivencia aquilo como ninguém. Só faço reportagem do Noroeste. Já fiz outros esportes, mas não é a mesma paixão.
JC - E o trabalho junto?
J. Augusto - Nossa amizade é muito grande, pelo tempo em que trabalhamos juntos e o fato de que um nunca quis ser melhor que o outro. Já fui expulso de campo três vezes e o Martins estava lá me defendendo. Às vezes o emocional, o torcedor, ultrapassa o profissional. A gente não consegue ficar quieto.
J. Martins - Um passa a bola pro outro e se ajuda, nos momentos bons e ruins. Nunca brigamos um com o outro, mas discutimos com o árbitro quando vemos injustiça. Da maioria dos jogadores, a gente fica amigo. Depois, em outros times, os caras nos procuram na cobertura de jogos pra dar um abraço.
Arquivo pessoal |
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Os radialistas esportivos já foram premiados pelo trabalho |
JC - Como é seguir o Norusca?
J. Augusto - Nos últimos 30 anos ninguém assistiu mais jogos do Noroeste que nós dois. Já vimos o clube no céu e no inferno. Sentimos as derrotas até mais que dirigentes e jogadores, chegamos a perder a fome! Temos o privilégio de ser torcedores que acompanham o jogo de perto. Muitos gostariam de estar ali!
J. Martins - Faça chuva ou faça sol, estamos atrás do Noroeste. A nossa identidade com o clube é tanta que os comentaristas e narradores se revezam, a gente não. Nunca abandonei o time. Em 1995, na serra de Brotas, sofri um acidente de carro indo para um jogo. Quebrei a clavícula e não conseguia falar, o socorrista achou que eu tinha morrido!
JC - Tiveram outros fatos inusitados?
J. Augusto - Tive uma passagem com o Vitor Hugo, hoje técnico, quando ele era jogador. Ele chegou moleque e a gente fez amizade. Em um jogo, reclamei com o zagueiro do time adversário e o cara me xingou. O Vitor Hugo foi pra cima dele e falou: 'aqui se joga dentro e fora do campo'.
J. Martins - O Noroeste jogava contra o Guaratinguetá e o goleiro era o Joilson, que foi do Palmeiras. O jogo estava bom pra gente e a bola veio pro meu lado, abri as pernas pra ela passar e o jogador perder tempo buscando. Ele reclamou e eu xinguei. No fim, ele veio pro meu lado e fiquei preocupado, pedi pro Augusto ficar perto de mim! Aí o jogador me abraçou!
JC - O que pensam sobre o futuro do rádio?
J. Augusto - Para mim, a Internet está salvando o rádio porque hoje não precisa de uma emissora com transmissores de alta potência. Pelo celular se escuta qualquer rádio com qualidade. E vai melhorar com a passagem da AM para FM. Pode diminuir o mercado, mas o rádio nunca vai perder seu espaço, principalmente no futebol. Vejo pela quantidade de pessoas que ligam na Auriverde!
J. Martins - Eu penso diferente, o rádio está com os dias contados. Como o rádio não paga para transmitir, quem organiza os campeonatos coloca vários empecilhos. Há muitos tipos de mídia e o rádio é romântico. Os mais novos preferem a televisão, embora a narração no rádio seja eletrizante. Se o jogo estiver ruim, a televisão não consegue mudar, já pelo rádio, sim!
JC - Qual a expectativa para o jogo de hoje?
J. Augusto - Se o Noroeste for rebaixado para a série A4, não será pelo jogo de hoje; muitos erros foram cometidos até a metade do campeonato. Pelo que vem apresentando, temos esperança. Não há um time melhor que o outro; a diferença está no detalhe.
J. Martins - Confesso que vou torcer pela derrota dos nossos concorrentes diretos ao rebaixamento e uma boa combinação de resultados. Vou torcer, mas o time não passa muita confiança.
Perfil de J. Augusto
Jesus Aparecido Augusto tem 70 anos. Nasceu em Piratininga, mas desde bem novinho mora em Bauru. Casado com Cleide há 40 anos, tem dois filhos e quatro netos. Nas horas de folga, joga truco com os amigos e gosta de música sertaneja e pagode. Passou por várias emissoras e há 27 anos se fixou na Auri Verde, onde também é locutor noticiarista. Time do coração: “Noroeste, claro, e gosto do Santos”. Referência no rádio: “Laudeze Menezes, jornalista e radialista muito competente”.
Jesus Aparecido Augusto tem 70 anos |
Perfil de J. Martins
José Martins nasceu em Bauru há 66 anos. Ficou viúvo de Fátima, com quem teve dois filhos, e se casou com Isabel há 27 anos, tendo mais dois filhos. Além do rádio, foi funcionário público da secretaria de segurança e hoje atua como assessor de esporte em Avaí. Lá vive em uma chácara, onde costuma jogar bola. Futebol: “Meu primeiro time é o Noroeste; o segundo, também!”. Referência no rádio: “Paulo Sérgio Simonetti. Tive o privilégio de trabalhar e aprender muito com ele”.
José Martins nasceu em Bauru há 66 anos |