A prisão do mandachuva da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos Coaracy Nunes escancara a farra com dinheiro público no esporte olímpico. O contribuinte e os atletas são os grandes prejudicados. Lá se vão quase trinta anos que este dirigente está à frente da presidência desta confederação que cuida da natação, polo aquático, da maratona aquática, dos saltos ornamentais e do nado sincronizado. Na semana passada o mundo de Coaracy e seus parceiros, qualificados pelo Ministério Público de "organização criminosa", afundou ruidosamente, como uma âncora vencida pela força da gravidade. Batizada de Águas Claras, a operação foi deflagrada pela PF em parceria com o Ministério Público Federal em São Paulo com desvios que podem chegar a R$ 40 milhões. Neste mar de corrupção afundou o esporte aquático brasileiro.
A CBDA cometeu vários crimes, tais como não pagou a premiação de 50.000 dólares aos atletas do polo aquático que ganharam o 3º lugar na Itália, convênios milionários na compra de equipamentos, que nunca foram entregues, passagens compradas com superfaturamento de uma agência de turismo, com prejuízo de R$ 628.000,00 reais, em 2015 a CBDA deixou de enviar a equipe de júnior masculina de pólo aquático para uma competição internacional alegando falta de verbas, enquanto dirigentes e familiares viajavam em classe executiva para o exterior a passeio.
O que se revelou, com toda esta gatunagem, foi que muitos sonhos olímpicos foram e serão interrompidos pela ganância dos dirigentes da CBDA, como por exemplo a carreira de Poliana Okimoto, bronze na olimpíada do Rio 2016, a primeira medalha da natação feminina brasileira: "fiquei sem minha estrutura de trabalho", resume a nadadora.
Existem indícios de crimes como pesam nas costas da CBDA em outras federações, caso do tae kwon do e basquete. O mau uso do dinheiro público e a falta de planejamento são comuns, o esporte olímpico brasileiro vai mal também fora do campo de competição. Um levantamento feito pelo Tribunal de Contas da União encontrou irregularidades na prestação de contas de dez confederações, além do Comitê Olímpico do Brasil (COB), do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e da Confederação de Clubes (CBC). Como no caso do atleta Maicon Andrade, 24 anos, bronze no Tae Kwon do na Rio 2016.
"Criei expectativa em vão" e para sobreviver teve que fazer bicos de pedreiro e animador de bufê infantil, a confederação de sua modalidade está sob intervenção judicial, o presidente Carlos Fernandes foi afastado do cargo logo depois das olimpíadas sob acusação de peculato, fraude e associação criminosa. Já no tiro esportivo Felipe Wu, 24 anos, prata na Rio 2016, não tem treinador e está tendo que voltar a estudar engenharia por falta de apoio da confederação, pois precisa treinar 6 horas por dia. No basquete as seleções e equipes estão proibidas de disputarem competições internacional por falta de pagamento das taxas com a FIBA , prejudicando todo o trabalho de anos no masculino e feminino. Entre todas entidades auditadas pelo TCU, apenas uma, a nanica Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais, não apresentou problemas em seus balanços.
O Brasil teve imensa chance de avançar, ao sediar uma Olimpíada, jogou tudo fora, o legado é pobre, ao contrário do que o Ministério do Esporte anuncia em sua recente campanha institucional, os jogos do Rio ainda não provaram ter valido apena. Aliás, a pasta ministerial fez pouco para fiscalizar o uso dos recursos no período, ou mesmo cobrar transparência das entidades alimentadas com dinheiro público.
Na ausência do ministério (como todos ministérios com indicação política) inepto, assumiu o papel de fiscalizador o Tribunal de Contas da União que traçou o diagnóstico até agora mais realista sobre o esporte nacional, que aponta os principais riscos identificados na atual configuração do COB, confederações e clubes. A constatação alarmante trata da razão entre recursos públicos e privados dentro do esporte, do montante referente ao período de 2010 a 2014, apenas 1,63% corresponde a patrocínios privados.
As entidades estão muito confortáveis em receber de maneira regular os recursos públicos, e se sentem muito pouco estimuladas a buscar o apoio no setor privado, afirma o TCU. Há saída? É sempre bom olhar para o passado. O Brasil tinha dois caminhos a seguir após as Olimpíadas: crescer como os britânicos na quantidades de medalhas ou afundar como os gregos. A rota dos brasileiros está mais para o fracasso dos gregos, que tiveram desempenho razoável em casa e depois sumiram. O Brasil olímpico andou para trás, menos de um ano depois da grande festa de 2016, virou um caso de polícia e, pior, voltamos ao que era antes de Sydney, em 2000, quando os patrocínios e recursos eram bem menores. Este é o verdadeiro legado da Rio 2016 para todos nós.