| Samantha Ciuffa |
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| Ricardo Aragão: "Gostaria de ter mais tempo para pôr a mão na massa" |
Ricardo Aragão Rocha Faria é dessas pessoas que não param quase nunca. Sócio-proprietário da Dinâmica Construtora e diretor regional do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Aragão gostaria de ter mais tempo para tudo, especialmente para família e para “botar a mão na massa”, como diz, em projetos solidários da qual a Dinâmica participa. “Um dia vou conseguir”, afirma. Arquiteto, Ricardo Aragão se define como uma pessoa simples, emotiva, que gosta de amigos, de viver em família, de navegar. Carioca que escolheu Bauru para viver, ele diz que não se vê morando em outro lugar. E não tem dúvidas quando o assunto é economia: agora chegou a vez de Bauru deslanchar.
Jornal da Cidade - Você fez arquitetura em um período bem inquietante no Brasil.
Ricardo Aragão - Fiz Arquitetura no Rio. Me formei em 1983, numa época de muitas ideias, de grandes discussões nos centros acadêmicos, que eram muito ativos. E esta sempre foi minha primeira opção quando o assunto era faculdade, desde a época do colégio. E a arquitetura não tinha o mesmo rigor da engenharia nas exatas (rsrsr). Sempre gostei muito de construir, de desenhar, criar e parti para a arquitetura. E hoje, meu filho mais nove, Rafael, também faz Arquitetura no Rio.
| Fotos: Arquivo pessoal |
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| O ‘flamenguista doente’ com a esposa Anamélia |
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| No dia do casamento do casal: Ricardo e Anamélia com os filhos Rafael, Rodrigo e Gabriel |
JC - Foi influenciado pelo pai?
Ricardo - Não sei. Um pouco, acho que sim, mas não pela vontade do pai. Sempre falei pros meus dois filhos, Rodrigo e Rafael, que apesar de termos a construtora, não se guiassem por isso. Sempre disse que eles tocassem a vida e se seguissem para o que quisessem ser. O Rafael acabou ficando como eu: flamenguista fanático e foi fazer arquitetura. E ir para o Rio também foi opção dele.
JC - O que trouxe você para Bauru?
Ricardo - Engraçado como o País é cíclico. Entrei na faculdade em 1978, em pleno milagre econômico, muita construção, muita oportunidade. Saí da faculdade cinco anos depois num País difícil, com o mercado da construção praticamente zerado na época, inflação subindo. Acabei fazendo concurso no Banco do Brasil, que tinha um departamento de engenharia. Entrei com essa ideia de ser arquiteto do BB. Então, entrei no BB e quando surgiu o concurso para arquiteto, eu fiz e fui designado para Bauru. Isso em 1989. Fiquei até o momento em que o banco fechou a engenharia.
JC - E aí você já tinha tomado muita água do rio Batalha e resolveu ficar por aqui.
Ricardo - (rsrsrsrs) Pois é. Desde que eu cheguei aqui, sempre tive atividade paralela. Sempre fiz projetos, sempre procurei trabalhar na área. E quando o banco fechou, eu já era sócio da Construtora Dinâmica. Montamos em 1999. E em 2007, quando fechou a engenharia do banco optei por ficar na Dinâmica. Já tinha uma responsabilidade muito grande com as pessoas que trabalhavam com a gente. E também gosto muito daqui. Bauru é uma cidade que tem tudo. É muito fácil de fazer amizade, as pessoas são muito abertas, não tem aquele ranço com quem vem de fora. Meus filhos nasceram aqui e voltar para o Rio não seria opção naquela época. Dificilmente vou sair daqui. Vou continuar sendo carioca, vou continuar visitando o Rio, mas não me vejo saindo de Bauru.
| Fotos: Arquivo pessoal |
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| A partir da esquerda, Anamélia, Rodrigo, Letícia, Davi e Ricardo |
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| Ricardo com as irmãs Marsen, Helena, Marta e Jandiara e a mãe Clécia (à frente) |
JC - Você acha que estamos voltando a viver bons momentos na área da construção?
Ricardo - Construção é uma área que depende muito de política de governo. Nós vivemos um momento muito bom de 2008 a 2014, e de um momento para outro a situação caiu. Fizemos o possível para manter a empresa com o mesmo número de funcionários e manter ao máximo os empregos, até que deu uma estagnada geral. E agora está melhorando de novo. Bauru já tem novos empreendimentos surgindo e a expectativa é que voltando o crédito, voltando a estabilidade econômica, de novo a gente consiga voltar a produzir.
JC - Mas é preciso "acordar" o potencial da cidade.
Ricardo - Bauru tem um potencial muito grande. Desde que cheguei aqui, eu vejo isso. Pelo banco, conheci praticamente todas as cidades do Interior de São Paulo. Na época, Bauru e Ribeirão Preto eram muito parecidas. De repente, Ribeirão deslanchou, Rio Preto também. Agora é a vez de Bauru. Com estabilidade política, econômica e vontade, a gente vai conseguir transformar a cidade em lugar cada vez melhor. Já é muito boa, mas pode melhorar mais.
JC - O que você destacaria hoje na cidade?
Ricardo - Bauru é uma cidade onde você está sempre se encontrando na casa de alguém. É uma cidade que abraça as pessoas. E a solidariedade, aqui, é uma coisa bacana. Sempre há alguém que queira ajudar o outro.
JC - A Dinâmica se envolve com projetos solidários?
Ricardo - A gente tem um trabalho com várias instituições. Sorri, Apae, Elo Solidário, São Cristóvão, Amor e Caridade... Trabalhamos um pouco com ajuda financeira e com alguma ajuda de obra, reforma. E sempre tem alguém para ajudar quando precisamos fazer algum tipo de trabalho. O que sinto falta é de um pouco de tempo para botar a mão na massa, participar no dia a dia. A empresa acaba consumindo muito tempo da gente. Mas ainda vou conseguir.
JC - Você tem algum projeto pessoal nessa área?
Ricardo - Tenho um sonho: montar uma casa para acolhimento de criança, mas talvez, ao invés de iniciar uma instituição nova, participar de uma maneira mais colaborativa em alguma que já existe. Estamos num momento social muito difícil e sempre participei de projetos solidários, desde jovem. Participei do Projeto Rondon em várias atividades. Como eu fazia arquitetura, não tinha uma área específica, então participava de várias outras atividades, e foi enriquecedor. Praticar solidariedade é muito gratificante. Muitas vezes mais do que seu dia a dia estressante. É um trabalho importante. Muitas vezes é o resgate da cidadania de uma pessoa.
JC - Se pudesse mudar alguma coisa em Bauru, o que seria?
Ricardo - A coisa mais importante e que sempre me incomodou muito em Bauru, mas que está sendo feito agora, é o tratamento de esgoto. Você vai para o rio Tietê, em Pederneiras, e vê, onde desemboca o rio Bauru, o esgoto. É triste. Espero que essa obra não pare e que se torne realidade o mais rápido possível. Tratar esgoto é fundamental. Também faltam mais parques, um pouco mais de trabalho de arborização. A gente faz um trabalho no Água Comprida. Tentamos recuperar aquela nascente, plantamos mudas e estamos trabalhando em cima disso. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas jogam lixo. Parece que não querem que aquilo brote de novo. E é tão importante isso para a cidade.
JC - Falta consciência?
Ricardo - Falta educação. O grande mal do Brasil é falta de educação. Um país educado não tem dengue, não tem uma série de mazelas, a violência é menor, não tem lixo espalhado em lugar que tem coleta de lixo.
JC - Você vê luz no fim do túnel para isso?
Ricardo - Com educação, sim. Hoje se vê professor ser desrespeitado em sala de aula, desvalorizado. Como recuperar tudo isso? Parece que o País não tem interesse em fazer isso. E é fundamental para o crescimento do País. Educação é tudo. Deixa a pessoa melhor, a cidade melhor, o País melhor.
Perfil?
Ricardo Aragão Rocha Faria, sócio-proprietário da Dinâmica Construtora, tem 56 anos. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 20 de novembro de 1960. É casado com Anamélia. Tem três filhos - Rodrigo e Rafael, do primeiro casamento, e Gabriel, filho de Anamélia -, e seus olhos brilham ao falar do único neto, Davi, 2 anos, filho de Rodrigo e Letícia. “É muito gostoso quando ele fica em casa, dorme em casa.” Tirando o gosto de navegar, Aragão é fã de esportes. Já até quis ser jogador de futebol, “mas não deu certo” (rsrsr). Hoje, um problema no joelho faz com ele seja apenas espectador. É “flamenguista doente” e, no Estado de São Paulo, só conseguiu torcer pelo Noroeste e pelo Bauru Basket. Nota dez? Todo mundo merece. “Se você olhar as pessoas de um modo geral, todo mundo merece dez em alguma coisa. Ninguém consegue ser nota zero em nada”, afirma. Aragão daria nota zero para alguns comportamentos, não para pessoas. “Falta de educação, desonestidade, crimes merecem nota zero.”
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