Esportes

Artes marciais: Caratê

Bruno Freitas
| Tempo de leitura: 5 min

O JC traz a quinta reportagem da série Artes Marciais, que conta, aos domingos, como evoluíram as modalidades de luta em Bauru nos últimos anos. E o tema desta edição é o caratê, com origem entre os séculos 15 e 18, em Okinawa, no Japão. O caratê passou a ser esporte olímpico a partir de agosto do ano passado e fará sua estreia nas Olimpíadas de Tóquio-2020. Em Bauru, é uma das modalidades mais tradicionais da cidade e é uma ferramenta de sucesso para fazer crianças e adolescentes trocarem os caminhos das ruas e da marginalidade pela disciplina no tatame.

O JC entrevistou três especialistas de Bauru, José Henrique Camilo, técnico do caratê feminino da Semel, Fabiano Teixeira, professor das escolas gratuitas da prefeitura, e Marcel Apolônio, sensei no Centro Professorado Paulista. Eles concordam que o caratê sempre foi muito difundido na cidade, mas que nos últimos anos passou a crescer em nível de Jogos Regionais e Abertos. Passando da décima força para figurar entre os quatro ou cinco melhores do Interior. E sempre alcançando pódios, sobretudo no feminino.

Camilo: protetor das sete irmãs

Aceituno Jr.
José Henrique Camilo, opção pelo ensino da modalidade e técnico da equipe feminina bauruense

O professor José Henrique Camilo, 57 anos, bauruense faixa preta 5º dan, começou no esporte de uma forma curiosa, para aprender a lutar e defender a família das provocações dos colegas de escola. "Coisa de garoto. Aquelas brincadeiras de ficarem me chamando de cunhado, dizendo que iriam namorar minhas irmãs. Briguei muito. Até que um dia um amigo me levou ao caratê, em 1984, na academia Yoshida, do professor Valdir Ciborg. Aí aprendi a ter disciplina", conta.

Camilo revela que nunca foi focado em competição. A meta  era aprender e passar adiante e ele começou a dar aulas em 1990, em centros comunitários. No final dos anos 80, segundo ele, o caratê em Bauru, apesar de ser tradicional, não tinha muita perspectiva competitiva. "Havia vários locais dando aula, mas a maioria era particular. A modalidade só não era maior porque não havia estrutura de equipamentos de proteção no País. Hoje, temos tudo à nossa disposição. E o caratê vem ganhando novos adeptos. Eu tenho quase 150 alunos particulares, fora os que integram a equipe de Bauru", comenta.

Técnico da equipe feminina de caratê da Semel desde 2012, Camilo confessa que o caratê bauruense ainda não tem grande representatividade nacional por questões financeiras. "A Semel não tem dinheiro. A cidade de Araraquara, por exemplo, que tem patrocínio forte, investe R$ 50 mil nos Jogos Regionais e Abertos. Contratam os melhores e levam quase todos os ouros. Por outro lado, estamos sempre com nossos bauruenses nas competições. Nos Regionais deste ano, no feminino, conquistamos 10 medalhas, sendo três outros, seis pratas e um bronze. Uma evolução. No ano passado, conseguimos só quatro medalhas, entre masculino e feminino", revela.

Na etapa no Campeonato Paulista realizado em Franca, o caratê de Bauru conquistou nove medalhas: um ouro, três pratas e cinco bronzes. Camilo comentou ainda sobre um assunto polêmico do caratê: as multifederações. "No caratê, infelizmente, temos várias. Isso prejudica o esporte e nos impede de crescer de forma acelerada. Ninguém quer abrir mão da sua para unificar. Só o caratê perde com isso. Bauru é hoje, em nível nacional, intermediário, mas evoluindo", ressalta.

Teixeira: sensei de alma japonesa

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Fabiano Teixeira, títulos paulistas e brasileiro e responsável por várias academias da prefeitura de Bauru

O sensei Fabiano Teixeira, 39 anos, natural de Matão, faixa preta 3º dan, revela que escolheu o caratê por sempre ser apaixonado pela cultura japonesa. E começou a treinar com 18 anos. Ele iniciou no antigo centro comunitário do Jardim Redentor. Entre 2001 a 2007, foi competidor de alto rendimento, conquistando o tetracampeonato paulista e tricampeonato brasileiro. O carateca revela que não conseguiu competir fora do País pelos compromissos das aulas para crianças e, também, pela questão financeira.

Teixeira é professor responsável pelas academias gratuitas da Associação Teixeira de Karatê/Semel, que hoje está em cinco bairros, nos Jardins Redentor e Carolina e Núcleos Mary Dota, Geisel e Gasparini. Teixeira conta que planeja abrir mais dois locais em 2018, na Vila Falcão e no Ferradura Mirim, considerado como um dos bairros mais carentes de Bauru. Segundo ele, o caratê de Bauru preza pelo social e tem mais de 350 crianças.

Sobre a evolução do esporte, Teixeira comenta que quando começou os alunos saíam com bolhas nos pés porque não existia os tatames feitos com EVA, como hoje. "Os alunos eram extremamente disciplinados. O respeito entre aluno e mestre era enorme. Hoje, em todas as modalidades, se você dá uma bronca em um aluno, ao invés de ele assimilar e melhorar aquilo que foi proposto, muitos fazem o contrário, abandonam os treinos", reforça. Teixeira destaca também que o caratê vem evoluindo. "Há 20 anos, a gente ficava na décima posição nos Regionais e Abertos. Hoje, estamos sempre brigando por pódio. O caratê de Bauru está hoje entre os quatro ou cinco melhores no Interior do Estado, sobretudo no feminino, que é mais forte em nível de competição. Temos aqui atletas de ponta, mas não conseguem manter seus custeios em competições fora", finaliza.

Raimo: multicampeão em busca do Mundial

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Marcel Raimo, foco no caratê tradicional e fome de títulos

Marcel Apolônio, 35 anos, bauruense, faixa preta 3º dan, hoje professor do Centro Professorado Paulista com centenas de alunos, conta que começou a treinar com 10 anos de idade, influenciado por filmes e seriados japoneses. "Pratico o caratê desde 1992, com o professor Roberto Alves. São inúmeros os professores de qualidade em Bauru, o que faz a modalidade evoluir", comenta.

Competidor desde os 15 anos, Apolônio tem oito títulos brasileiros consecutivos pela Associação Japonesa de Karatê (JKA), conquistados em 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017. Ele bateu na trave duas vezes no Mundial. No último, em agosto deste ano, na Finlândia, por detalhes, ele foi sétimo colocado no Kata. "Meu objetivo é fomentar o caratê tradicional. A sua disciplina, respeito, criando e fortalecendo amizades e ensinado as crianças e os jovens a lidar com decepções, o ganhar e perder", reforça.

Marcel Apolônio comenta também que a procura pelo caratê é diversificada, tanto para homens quanto mulheres. E que a maioria procura por questões físicas. A minoria revela que quer competir, mas os que querem, são preparados para isso.

Serviço

José Henrique Camilo - técnico Semel Bauru - Tel.: 99612-6457

Fabiano Teixeira - técnico da Associação Teixeira de Karatê/Semel - Tel.: 98803-3558

Marcel Apolônio - Centro Professorado Paulista - Tel.: 99794-4275

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