Para que daqui a alguns anos não se remoa a perda de tão importante Instituto, cabem esclarecimentos e um pouco de história. O sueco P.I. Branemark descobriu o que se faz hoje no mundo inteiro em matéria de implante dentário, além de reabilitação de pacientes mutilados por doenças como o câncer, acidentes, que recebem próteses extra-orais.
Escolheu o Brasil e, por conseguinte, Bauru, para montar seu Instituto, porque o cunho deste sueco sempre foi ajudar as pessoas carentes. E como no seu país, cujo welfare state se revelou um dos mais bem sucedidos na Europa pós-guerra, não havia necessidade, aqui foi onde ele decidiu aplicar os recursos necessários para a construção de um centro de excelência na especialidade na qual ele era o maior expoente mundial.
Quando aqui chegou, a cessão do terreno foi feita de maneira equivocada, alegando ser necessário o Professor Branemark entrar pelas portas da frente na cidade, ou seja, pela avenida Nações Unidas. Após aqui investir 3 milhões de dólares, entre construção civil e estrutura impecáveis para o atendimento de pacientes carentes, inclusive com sedamento sob anestesia geral, pagos com dinheiro provindo de cursos de especialização, de empresas e de pessoas físicas na sua maioria internacionais, em 2006 foi inaugurado, contando com 13 funcionários.
Ali não foi utilizado nenhum níquel do dinheiro público. Nenhum. Os maiores beneficiados são as pessoas carentes que ajudavam conforme podiam no pagamento do material ali usado, que era sueco Nobel BioCare,ou seja, o melhor implante do mundo, que poucas clínicas particulares conseguem fazer uso na prática diária pelo alto custo. Muitas nem pagavam, por serem triadas como carentes pela Assistente Social.
A prefeitura, que entrou apenas com o terreno no ato da concessão, não concorda em renovar o prazo da concessão que vence agora em 2017 por alegar que não foram cumpridos as metas da contrapartida. Tal entendimento dá margem para muita discussão, uma vez que um tratamento não consiste apenas de uma sessão para ser terminado. Foram feitos, nesses 10 anos de concessão, 30.000 atendimentos e reabilitados 2.000 pacientes.
Trata-se de um santuário de estudos e excelência. Ali respira-se honestidade e amor à profissão, sendo que já existe para a continuidade dos trabalhos todo um projeto de gestão que conta com recursos de empresas privadas interessadas em patrocinar a continuidade deste que é o único Instituto Branemark existente no mundo.
Será que o nosso país fadado aos recordes de incompetência e má-fé, canalizados nos escândalos de corrupção generalizada, irá se prestar a mais esse descalabro, tendo Bauru como pano de fundo?
A prefeitura de Bauru simplesmente está solicitando a devolução do prédio- modelo construído pelo Prof. Branemark - cuja catacumba agora não conta com nada no lugar, de tanto ele se revirar ali - que obviamente foi averbado ao terreno concedido. Sabe-se que o sueco já tinha um terreno comprado na Av. Getúlio Vargas. Maldita concessão!
Agora nas mãos de políticos e nas teias do direito, cujas convicções causam engulhos (como contar o passivo do Instituto desde o início das obras de edificação, como se fosse possível fazer implantes com picaretas e chibancas estalando), quem perde são os pacientes que aguardam na fila para fazer seus implantes e jogar fora as malfadadas dentaduras, que fazem parte do século passado. Perdem os pacientes já reabilitados, cujos tratamentos têm de ser reavaliados oportunamente para que não se perca o trabalho já realizado.
Perde o Brasil, que é o único país que conta com um Instituto dessa galhardia, feito com a vontade férrea e externa de um gênio da nossa profissão, que aqui colocou sua expertise e seu dinheiro para o bem dos mais necessitados.
Perde Bauru e região, e o sentimento é de extrema revolta. Só não perdemos todos se o bom senso prevalecer.
O Branemark é único. O Branemark é nosso!
O autor é ortodontista, jornalista e membro da Academia Bauruense de Letras.