| Samantha Ciuffa |
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| Felipe Kobayashi (direita) demonstra golpe de kendô, baseado na técnica de combate dos samurais e na busca do golpe perfeito |
O JC traz a nona reportagem da série Artes Marciais, que conta, aos domingos, como evoluíram as modalidades de luta em Bauru nos últimos anos. E esta edição traz como temas duas lutas com armas, o iaidô, com uso de lâmina japonesa, e o kendô com espadas de bambu. Ambos os esportes são praticamente desconhecidos do bauruense, mas têm importância e referência no Estado de São Paulo.
O Kendô originou-se no Japão e foi desenvolvido a partir das técnicas tradicionais de combate com espadas dos samurais do período feudal. Já o iaidô, que consiste na técnica de desembainhar a espada e atacar o adversário (imaginário), utiliza armas de verdade, porém, como demonstração. Especialistas divergem da data da criação destas lutas. Acredita-se que entre os séculos 14 e 15. No Brasil, as duas lutas foram trazidas entre as décadas de 1910 e 1920, pelos primeiros imigrantes japoneses. No mundo esportivo, ambas não estão inseridas no quadro olímpico, mas organizam competições mundiais federadas de altíssimo nível.
O JC entrevistou dois especialistas, um em cada estilo, Benjamim Shiro Yagi, 39 anos, faixa preta 2º dan de iaidô, competidor bicampeão brasileiro que vem de São Paulo a Bauru semanalmente para ensinar a luta aos bauruenses, e Felipe Monteiro Kobayashi, 29 anos, faixa preta 3º dan de kendô, que, inclusive, é um dos principais competidores da região e nível de seleção.
KOBAYASHI: HERANÇA QUE VEIO DO JAPÃO
| Samantha Ciuffa |
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| Benjamin Yagi e Felipe Kobayashi destacam que a prática de kendô e iaidô exige exercício físico e mental e resgata a arte marcial como modelo de vida |
Bauruense da Vila Universitária, o professor Felipe Monteiro Kobayashi é praticante de artes marciais desde os 8 anos, quando começou a treinar caratê com o sensei Lauro Cavalieri. Mas foi com o pai e o avô que conheceu o kendô e começou a praticar aos 17 anos. O pai praticava em Bastos e o avô do outro lado do mundo, na terra dos samurais. “No kendô, a vitória é obtida por pontos ou ippon. Vence a luta, rapidamente, quem aplica o golpe certeiro, que entre aspas seria um golpe mortal no adversário, o que na guerra o levaria à morte. E é por isso que quando existe uma vitória, não é comemorada, por respeito ao oponente que sucumbiu. Em campeonatos a comemoração é punida”, explica Kobayashi.
Kobayashi é campeão do Interior Paulista (2015) na categoria principal e há 30 dias foi prata por equipes. Ele está sempre presente nas seletivas para a Seleção Brasileira. O professor revela que Bauru conseguiu 3º lugar na categoria aspirante e foi campeão individual e por equipes em torneio estadual. Bauru também vem conquistando o topo do pódio nacional na categoria aspirante da categoria feminino do Campeonato Brasileiro, com Thaís Nakata.
O professor recorda que o kendô em Bauru foi muito forte na década de 70 e depois houve um hiato de praticantes. Mas foi nos anos 90 que retornou com força, graças os estudantes da Unesp, que vieram de outras cidades, eram praticantes e passaram a desenvolver a luta em Bauru. Entre eles, Dalton Yamamoto, de São Carlos, e Reinaldo Mori, de São Paulo. “E eu comecei a treinar ali juntamente com um grupo pequeno de alunos, no próprio campus. Só alguns anos depois que a prática passou para o Clube Cultural Nipo Brasileiro, onde treinamos até hoje e utilizamos a armadura “bogu” que pesa cerca de oito quilos”, comenta. Ele destaca também que a representatividade do kendô brasileiro é tão grande que o País sediou o Mundial em 1982 e 2009.
Kobayashi comenta ainda que há seis anos houve um auge de 40 participantes, de várias idades, mas atualmente o grupo voltou a ficar reduzido. “Atualmente a maior procura se dá pelo público jovem. Hoje, Bauru conta com seis praticantes assíduos de kendô. Todos os anos participamos do Campeonato Brasileiro de Kendô, o Campeonato do Interior Paulista e de campeonatos menores disputados ao longo do ano. Para ele, Bauru segue evoluindo no kendô e os praticantes bauruenses são muito respeitados, por resgatarem a essência de arte marcial, como modelo de vida.
BENJAMIM YAGI: SAMURAI BICAMPEÃO BRASILEIRO
Natural de Mairinque (SP), o professor conheceu Bauru há 20 anos, quando veio para a Unesp estudar design. Ele que já havia iniciado a prática do kendô, conheceu o iaidô na Capital, graças a visita de um dos ícones do esporte, o japonês Toshihiko Tsutsumi, 6º dan. “Meu mentor do iaidô é Silvio Yoshikawa, de São Bernardo, que me ajudou a evoluir muito neste esporte, onde me tornei bicampeão brasileiro. E o que se destaca no iaidô é o exercício físico e mental. No iaidô a percepção espacial é acentuada e a visão periférica é expandida. E nos treinos a gente faz o combate de forma lúdica, desembainhando em alta velocidade a espada, que é de metal, e golpeando imaginariamente o oponente”, explica.
Shiro Yagi comenta que as competições são feitas em forma de apresenta- ções, entre duas pessoas, porém, separados e com espaço seguro entre eles. “No Brasil, temos apenas 300 praticantes. Em Bauru, temos menos de 10. O professor foi campeão nacional pela primeira vez em 2013 na categoria 1º dan. Em 2016, ele foi bicampeão no 2º dan. Em 2015 e 2017, foi vicecampeão brasileiro e, em 2014, ganhou o bronze.
Shiro Yagi diz que a arte marcial o motiva a estar sempre viajando até o Interior para disseminar a luta aos fiéis praticantes. Ele destaca também que São Carlos é polo nacional do iaidô e que ele e os alunos bauruenses sempre estão indo para lá reforçar os treinos e o qi (energia). Shiro Yagi também explicou à reportagem que tanto o iaidô quanto o kendô, no qual também é praticante, não são esportes elitistas, muito pelo contrário. Segundo ele, as mensalidades têm valores abaixo de outras lutas, porém, eles fazem as divulgações apenas de forma interpessoal.
SERVIÇO
O kendô e o iaidô são praticados no Clube Cultural Nipo Brasileiro, na rua Monsenhor Claro, 9-51, na região central, próximo ao Hospital de Base. Tel.: 99795- 5523 (Felipe Kobayashi) e 98101-9978 (Benjamim Shiro Yagi).

