| Aceituno Jr. |
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| Nacamura usa técnica do aikidô, que tem como principal característica a combinação de movimentos atacantes, redirecionando a força adversária |
O JC traz a décima e última reportagem da série Artes Marciais, que contou aos domingos como evoluíram as modalidades de luta em Bauru nas duas últimas décadas. E nesta edição traz como tema o aikidô, uma arte marcial japonesa desenvolvida pelo mestre Morihei Ueshiba, na década de 40, como um compêndio dos seus estudos marciais, filosofia e crenças religiosas. Anteriormente, já foram contadas aqui no JC, nas últimas semanas, as histórias de conquistas e perfis do kung fu, kickboxing, jiu-jítsu, judô, caratê, taekwondo, muay thai, krav magá, kendô e iaidô.
O aikidô tem como sua principal característica a combinação de movimentos atacantes, redirecionando a força adversária, sem utilizar grande esforço físico. A modalidade de luta não tem competição esportiva, assim como o krav magá, e chegou ao Brasil em meados da década de 1960, por imigrantes japoneses. Em Bauru, ela foi inserida em 1995, por meio do estudante de rádio e TV da Unesp na época, João Trezza, que é de São Paulo e aproveitou seus conhecimentos de faixa preta, obtidos na Capital, para dar aula e se sustentar em Bauru. A luta chamou a atenção de outros estudantes e de praticantes de outras modalidades, como foi o caso de Márcio Mendonça Nacamura, hoje com 49 anos e faixa preta 5º dan.
NACAMURA: AIKIDÔ DE ALMA E CORAÇÃO
Líder da Academia de Aikidô Bauru, que pertence à Federação Paulista de Aikidô (Fepai), uma das mais antigas do País, começou no universo da arte marcial com 21 anos, no caratê, com o professor Lauro Cavalieri, mas trocou de modalidade quando conheceu o aikidô trazido a Bauru pelo professor Trezza. "Eu procurei arte marcial por defesa pessoal e atividade física. Comecei no caratê, mas me identifiquei muito com o aikidô quando o Trezza passou a dar aulas em uma academia na Duque (de Caxias), que hoje não existe mais. Muita gente começou a treinar. Mais tarde, ficaram só aqueles que queriam utilizar o aikidô como filosofia de vida", disse Nacamura. Quando ele alcançou a faixa preta e João Trezza retornou para São Paulo, Nacamura passou a ser o responsável pelas atividades em Bauru.
O aikidô não tem competição, por isso o esporte é procurado por aqueles que desejam praticar a luta e seguir a filosofia. "Hoje contamos com cerca de 20 praticantes assíduos e um grupo pequeno de crianças, de 7 a 12 anos. Nos anos 90 muita gente procurou a luta por causa dos filmes do Steven Seagal (7.º dan), mas hoje as pessoas procuram para combater o estresse, pela filosofia de luta, para trabalhar corpo e a mente, pelo princípio filosófico e treinamento cooperativo", revela.
O professor também contou que se dedica ao esporte por amor. Bancário da Caixa Econômica Federal, Nacamura dá aulas no período noturno e conta com apoio nas aulas de alunos faixas pretas. "O aikidô prioriza um grupo forte e não o individualismo. Já tivemos dezenas de alunos que por diversos motivos acabaram interrompendo o treinamento. Em Bauru, temos hoje 12 faixas pretas, entre eles o Rubens Crepaldi, que se formou preta na semana passada. Temos mulheres treinando com a gente também", disse Nacamura. Segundo ele, a Academia Aikidô Bauru é a única da cidade ligada à federação e os municípios mais próximos onde há aikidô da Fepai são Botucatu e Avaré.
Sem competição, Nacamura e seus alunos divulgam a luta de forma interpessoal e por meio de workshops e demonstrações públicas, principalmente em universidades. A mais recente foi no Sesc, em outubro. Perguntado sobre a sua meta no aikidô, Nacamura comentou que o desejo dele é que Bauru se torne um polo igual ao de São Paulo, em grandes proporções, com ampla estrutura de vários locais e praticantes na mesma cidade. Mas, de acordo com ele, Bauru já é conhecida como centro de referência no Interior, pela força de sua equipe, tradição e qualidade técnica.
Em São Paulo, inclusive, está o mestre Makoto Nishida (7.º dan), o shihan, que é o líder da federação e que faz o elo da Fepai com o Japão, por ele ser japonês e o mais graduado. Ele mora no Brasil há décadas e é sucessor de uma linhagem, não de sangue, mas do fato de ter nascido no berço do aikidô.
"Nosso shihan vem uma vez por ano a Bauru para fazer as graduações e analisar a qualidade técnica do trabalho. Diferentemente do judô, que é olímpico, no aikidô cada shihan coordena sua federação. E a Fepai é a responsável pela consolidação desta luta no Brasil e está presente em vários estados", explica Nacamura. O professor revelou ainda que há mais de 15 anos é desenvolvido por seu alunos um projeto social para jovens e crianças na Creche Nova Esperança, na rua Soldado Mário Rodrigues, no Jardim Nova Esperança.
No local são ministradas aulas gratuitas aos domingos pela manhã.
CREPALDI: NOVO FAIXA PRETA DE CORAÇÃO JAPONÊS
O professor bauruense Rubens Crepaldi, 22 anos, discípulo de Nacamura, que não é descendente oriental, fala sobre o aikidô com carinho e espírito japonês. Para ele, é como se tivesse nascido no Japão, tamanha é sua dedicação pela tradição da filosofia da arte marcial. Ele conquistou no domingo passado a sua tão aguardada faixa preta de aikido. "Hoje eu sou um estudante de arte marcial. Apesar de ter passado por problemas de saúde, o aikidô me ajudou a superá-los. E o aikidô nos faz amadurecer muito e entender que o treinamento mental nos fortalece mais do que a parte física. Não existe melhor arte marcial e isso não precisa ser provado, porque as diferentes formas de treinamento precisam ser respeitadas sempre", finaliza.
Serviço
A Academia Aikidô Bauru fica na rua Raposo Tavares, 11-59, no Jardim Brasil. Tel.: 3239-4178 ou 92211-0963.
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