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Grupo ajuda na luta contra o Parkinson

Marcele Tonelli
| Tempo de leitura: 4 min

Samantha Ciuffa
Rosemeire Lopes aprendeu a fazer crochê e é voluntária

Diagnosticada com o Parkinson aos 47 anos, no ápice de sua vida profissional e com um filho pequeno, a podóloga Rosemeire Lopes sentiu o "peso do mundo" cair sobre sua cabeça. "Eu só chorava, não entendia, porque na minha família ninguém nunca teve nada e eu acreditava que era doença de idosos", cita. Mas foi com ajuda do Grupo Amigos do Parkinson (GAP) de Bauru que ela deu novo significado para sua vida, recomeçando com ritmos mais lentos e descobrindo novas aptidões.

A enfermidade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) atinge, atualmente, cerca de 2% da população - em Bauru seriam cerca de 7,4 mil pacientes, apesar de não existir estatística oficial. Por aqui, o GAP atua voluntariamente há anos na luta contra o Parkinson, mas poucos são os que conhecem o trabalho, tão essencial para Rosemeire e outras dezenas de pessoas. "Atendemos com equipe multiprofissional um grupo de aproximadamente 25 pessoas às quartas-feiras, mas poderíamos atender muito mais", ressalta Valéria Queiroz Quirino, fisioterapeuta e coordenadora do GAP.

TERAPIAS

As reuniões ocorrem semanalmente na Casa do Médico. São oferecidos atendimentos gratuitos nas áreas de fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia. O espaço é aberto tanto aos parkinsonianos quanto aos familiares que os acompanham. "Na maioria das vezes, ele está tão fragilizado quanto o portador do Parkinson", detalha Valéria.

Palestras com médicos e outros profissionais são ministradas com frequência no local, assim como oficinas de trabalhos artesanais, dança, leitura e oração. "A pessoa pode aprender a superar a doença e as dificuldades desenvolvendo outras competências. Há quem tenha, por exemplo, até se revelado como artista em tela lá no GAP", acrescenta Valéria.

Samantha Ciuffa
Ações dos "Amigos do Parkinson" na Casa do Médico. Valéria Queiroz Quirino faz dinâmica com portadores de Parkinson

RESSIGNIFICAR

Rosemeire, por exemplo, passou a fazer crochê. Hoje, aos 50 anos e afastada da podologia, ela angaria renda extra para sua família desta forma. "No início eu tinha vergonha por tremer, mas me dei bem. Já vendi vários tapetes e não paro", conta.

Da rotina de horas a fio de trabalho para ganhar comissões, ela passou a uma vida tranquila e deu espaço, inclusive, ao trabalho voluntário. Hoje, Rose auxilia uma professora de crochê em curso gratuito em uma igreja no Mary Dota. "Sou bem mais feliz agora, passei a dar mais valor para família e coisas simples, que eu não ligava porque só pensava em trabalho e correria", observa.

Psicólogo do GAP, Luiz Carlos Canêo lembra que o Parkinson não mata, mas sim as complicações decorrentes dele. "As pessoas com Parkinson se excluem, geralmente. Aqui, a complexidade do que eles têm é relativizada e desmistificamos o sentimento trágico que envolve a doença. Ajudamos a pessoa a ressignificar sua vida, a se socializar e a trabalhar com as emoções e a ansiedade, tão importantes no momento", pontua.

SERVIÇO

A Casa do Médico fica na rua Amadeu Sangiovani, 4-47, Vila Mariana. O GAP atua às quartas, das 14h às 16h. Para participar, basta comparecer. Mais informações: (14) 3227-7991 e (14) 99844-7878 (WhatsApp Valéria) .

Tratamento multiprofissional

Sem causa ainda definida (há apenas rumores médicos que apontam para o agrotóxico como um dos multifatores), a doença degenerativa de Parkinson acomete pessoas, principalmente acima dos 60 anos e seu tratamento medicamentoso é feito com base na reposição de dopamina, substância responsável pelas atividades motoras, e que fica em falta quando os neurônios que a produzem morrem por causa do Parkinson.

Tão importante como o medicamento é o tratamento com fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e exercícios físicos. "Com o tratamento multiprofissional é possível atrasar a evolução da doença. Os transtornos de humor e a ansiedade pioram o quadro, existe uma pesquisa norte-americana que relata isso", afirma o médico neurologista Leonardo Medeiros. "Hoje, tenho pacientes que jogam futebol, tênis... que vivem bem mesmo com a doença", diz.

Há dois anos, Bauru realizou sua primeira cirurgia para Parkinson, na qual são implantados eletrodos no cérebro que estimulam a dopamina.

"Já foram feitas cinco do tipo aqui. O convênio é obrigado a cobrir, mas é muito difícil conseguir", cita o édico. Com custo aproximado de R$ 200 mil, no entanto, a cirurgia não traz a cura e o tratamento convencional deve continuar.

Entre os três sinais clássicos da doença estão tremor de repouso, lentidão na execução do movimento e rigidez. O diagnóstico pode ser feito por um neurologista.

'Viver bem o hoje'

Samantha Ciuffa
Alaor Corrêa diz ter aprendido no Gap a ser menos ansioso quanto ao futuro

Com história parecida com a de Rosemeire, o bancário aposentado Alaor Benedito Corrêa, 63 anos, diagnosticado há 11 anos com a doença, também não lidou bem com a notícia no início. Coisas simples como vestir uma camisa e colocar e tirar objetos dos bolsos, assim como manusear documentos passou a ser desafio. "Eu sempre joguei futebol e perdi muita massa muscular por causa do Parkinson. Pessoas que não me viam há muito tempo se assustavam e isso me incomodava", cita. "Mas o que mais dava tristeza era de saber que teria que conviver com a doença para sempre. No GAP, aprendi a lidar com isso, a ser menos ansioso quanto ao futuro e a viver bem o hoje, que é o que importa", completa.

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