Entrevista da semana

Alexandre Benegas: ampla 'bagagem' de leitura e escrita para transformar

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 5 min

Fascinado pela leitura, pela escrita e pela nobre missão de ensinar a Língua Portuguesa a seus alunos, o professor Alexandre Benegas, 48 anos, busca, por meio de suas múltiplas atividades, transformar vidas. Também cronista, autor de livros, contos e artigos didáticos e coautor de antologias da Academia Bauruense de Letras, ele usa uma analogia para explicar como este trabalho permeado por muita dedicação se desenvolve.

"A leitura é um hotel", diz, revelando que a intensidade dedicada a cada texto escrito ou aula dada o ajuda a transferir um pouco de sua 'bagagem de vida' a leitores e alunos. "Da mesma forma, levo comigo um pouco da 'bagagem' deles", garante ele, que comemorou, neste sábado (15), o Dia dos Professores.

Docente de literatura, gramática e redação na rede privada do município, Benegas também é colunista em alguns veículos de comunicação e colaborador frequente da Coluna Opinião do Jornal da Cidade. Filho de um representante comercial e de uma dona de casa, nasceu em Presidente Prudente e, ainda criança, veio morar em Bauru, cidade que escolheu para construir carreira e família. Com a esposa Rosecler, 45 anos, teve os filhos Fernando, 18 anos, e Luiza, 9 anos, seus "dois raios de sol".

Formado em Letras com especialização na Universidade de Harvard, ele coordena o Alexandre Benegas Cursos de Redação e Escrita Criativa. Por sua trajetória, recebeu alguns títulos e prêmios, como o Caneta de Ouro, pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes. Confira, a seguir, um pouco mais desse apaixonado pela leitura e pela escrita:

JC - Sobre quais assuntos o senhor mais gosta de escrever?

Alexandre Benegas - Assuntos como saudade, amor, comportamento humano. Guimarães Rosa tem um conceito bonito: 'Saudade é amor que fica'. Gosto de escrever sobre o que nos marca em vida, provocar reflexão. No domingo passado, escrevi que iremos partir desta vida sem poder levar nossa bagagem, ou seja, sobre esse inventário da nossa viagem, o abraço demorado da avó, a fé de uma mãe que espera por um milagre. Como professor, hoje, o que me chama mais atenção é esta geração de filhos órfãos de pai e mãe vivos. São crianças colocadas em escolas de ensino integral e que têm à disposição um celular no restante do tempo para não dar trabalho. Já aconteceu de um aluno me escolher como representante afetivo, de me abraçar chorando pela ausência do pai. É algo muito sério.

JC - O senhor se esforça para ser um pai presente para seus filhos?

Benegas - Sim, valorizo cada momento de estabelecimento de vínculos, conversar olhando nos olhos, ensinar a noção do perdão. Quero que eles saibam que tiveram alguém que os amou incondicionalmente. Como sinto muita falta dos meus avós, procuro transmitir a importância destas relações, inclusive para meus alunos, para que eles valorizem seus familiares.

JC - O senhor escreve para provocar reflexão, mas também para deixar registrada sua 'bagagem', ou seja, um pouco da sua história?

Benegas - Sim. A leitura é um hotel. Quando alguém lê um texto meu, leva um pouco da minha 'bagagem' e, quando tenho a devolutiva dos leitores - ou dos alunos, nas aulas -, também levo comigo um pouco da 'bagagem' deles. É uma troca. É uma pedrinha que você joga no rio e reverbera. Tento ser um pai presente para marcar isso nos meus filhos e ser um professor que incentiva os alunos a lerem, que provoca por meio de textos, citações, tentando movê-los internamente, de alguma forma.

JC - Por que é tão difícil mobilizar as pessoas para a leitura?

Benegas - O modelo de escola que temos hoje não respeita o lado socioemocional do aluno, não trabalha com teatro, música, com a construção da consciência crítica. É uma pena. Outra falha comum é colocar a criança de castigo na biblioteca ou mandá-la escrever uma redação após ela levar uma advertência. Nestas condições, a criança nunca encontrará prazer na leitura. Uma disciplina tem de ser ensinada com intensidade, vontade. O aluno precisa ser envolvido, entrar na aula a zero quilômetro por hora e sair a 250. Além disso, a criança precisa ser estimulada à leitura, inclusive dentro de casa, desde o período de alfabetização, e ter referências de pessoas leitoras dentro da família.

JC - Ao dar aulas ou escrever, o objetivo é usar a Língua Portuguesa como ferramenta de transformação?

Benegas - O que me leva a levantar todos os dias da cama é tentar transformar a vida dos meus filhos e alunos. E, pelo retorno que recebo, sei que consigo cumprir minha missão. É muito recompensador, mesmo que tenha atingido 6% das pessoas para quem falo e escrevo.

JC - Quem abriu o caminho da leitura e da escrita para o senhor?

Benegas - O escritor bauruense Luiz Vitor Martinello, que é amigo da família. É o melhor escritor de Bauru e região. Ele me incentivou e me incentiva até hoje na escrita. Sempre o convido para dar palestras onde trabalho. A literatura dele é muito agradável.

JC - E qual o autor preferido no mundo?

Benegas - Gosto muito de Oswald de Andrade, porque ele possui uma linguagem sincopada, telegráfica, enxuta. É fantástica. Na literatura, é considerada como 'biscoito fino'. Tanto é que, antes de morrer, ele falou que 'a massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico'. Em vida, não teve seu estilo reconhecido, valorizado. Agora, estou relendo toda a literatura regionalista brasileira, que é incrível.

JC - Fale um pouco sobre como foi sua especialização em Harvard.

Benegas - Fiz pela plataforma online EDX, da própria instituição, em 2021. Eles abordaram obras literárias mundiais. No Brasil, citaram Mário de Andrade. Como referências russas, pegaram Nabokov, Tolstoi e Tchekhov, além de algumas da América Latina. Foram quatro meses de estudo, o que exigiu muito de mim.

JC - E o que gosta de fazer quando não está escrevendo, lendo ou dando aulas?

Benegas - Gosto de ficar com minha família. Sou caseiro e, mesmo nas horas de descanso, gosto de ler, estudar. A leitura é catártica, te dá conteúdo, aprofundamento, aprendizado. Junto com meus filhos e a escrita, é o que me faz bem.

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