Bauru Ilustrado

Retranca 2 grande


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O trem da NOB que levava progresso aos sertões trouxe os Ijuim a Bauru

Aqui os Ijuim efetivamente começaram uma vida. Em poucos anos, adquiriram o Bar King, na esquina da rua Batista de Carvalho com a Gustavo Maciel, em frente a antiga Casa Lusitana. Residindo na rua Cussy Júnior, os três filhos tiveram uma infância integrada aos vizinhos e fizeram desde já muitos amigos. Ali ganharam desses amigos, a exemplo de Armando e Orlando Turtelli, os apelidos de Caneca, Canequinha e Canecão. Em seguida, mudaram-se para a então Rua Princesa Isabel, hoje Rua Beirut, na Vila Camargo. Dali os jovens partiram para os estudos, para o serviço militar e para a vida. Kentetsu morreu nesta casa em 1950, Haruko viveu até 1981.

Nos anos 1930, o casal Ijuim, os filhos e a sobrinha Roza

Masao Iamauti, filho de Hisakiti, lembra que Kentetsu Ijuim era uma pessoa muito culta. Ensinou o idioma materno a muitos jovens que planejavam retornar ao Japão. Masao foi um deles. Ele conta que, em 1949, recebeu uma carta do tio que guarda até hoje com orgulho e carinho. Pela caligrafia, nota-se sua retidão e energia de caráter; as palavras denotam a fineza e a elegância em sua maneira de ser. Haruko seguiu por muitos anos na mesma missão de ensinar a língua natal a outros tantos jovens.

Carta de Kentetsu

a Masao, em 1949

Nisseis, Sanseis

e Gaijins

Kenkyu instalou-se em Santo André e seguiu a carreira no ramo da tinturaria. Casou-se com Yoneko com quem teve o filho Pedro Kaneo. Kanehiko fez a vida como alfaiate e morou por longos anos na Rua Monsenhor Claro, nos Altos da Cidade. Tomou como esposa Arcínia Freitas, que já trouxe Nadir. Teve mais dois filhos: Lourival Kanetossi e Clarice. Kaneaki foi contador e permaneceu na residência da Rua Beirut. A também "gaijin" (estrangeira em japonês) Dorothy Lourenço Santos foi sua preferida, que lhe deu quatro filhos: Jorge Kanehide, Lizbeth Keiko, Franly Yurie e Márcia Mayumi.

Vieram a segunda geração (nisseis) e a terceira (sanseis). Do irmão mais velho, Kenkyu, Pedro Kaneo casou-se com Juliana. Com seus 60 anos, vive em Santo André e aposentou-se como agente de tráfego no Terminal Rodoviário de Santos. O filho mais velho de Kanehiko, Lourival, hoje com 68 anos, casou-se com Maria Eloísa Teodoro e tem três filhas e quatro netos. Vive em Santo André e dirige uma autoescola em Diadema. Clarice foi professora especializada em administração escolar, atuando no Instituto Ernesto Monte por vários anos. Com seu primeiro marido Paulo Odair Cruz, vieram as filhas Anna e Nathália; depois se casou com José Eduardo D'Ávila, até falecer em 2007. Nadir viveu com Olívio Paracatu e veio a falecer em 1992. Deixou a filha Andréa, casada com Alessandro A. Antônio e tem dois filhos: residem em Ribeirão Preto.

Entre os herdeiros de Kaneaki, Jorge tem como esposa Jaqueline, com quem tem três filhos, e mora em Florianópolis. Aos 62 anos, é jornalista e professor aposentado pela Universidade Federal de Santa Catarina; continua como voluntário na pós-graduação. Lizbeth vive com Luiz Hélio Pini há 34 anos em Bauru e tem um filho. Franly teve como marido Mitsuro Oura, que lhe deu três filhos e três netos; depois se casou com Vander Stephanin; residem em São Paulo. Márcia é corretora de seguros e também atua em Bauru. Nisseis, sanseis e gaijins da família Ijuim convivem e se amam. Corre em suas veias o sangue japonês original de Kentetsu e Haruko. Mas também corre o sangue europeu, do negro e do indígena. O pai de Dorothy, Sebastião, era mulato; sua mãe Adália era filha de um português com uma índia. Heloísa descende de italianos, Jaqueline também. Os filhos e os netos crescem e se unem a pessoas de várias partes do país. Os Ijuim de hoje configuram a mestiçagem típica do povo brasileiro. São empresários, professores, jornalistas, engenheiros e tantos outros profissionais que fazem do Brasil sua terra e sua vida. A aventura sem volta de Kentetsu e Haruko valeu a pena.

Primeiro encontro

Em outubro, segunda e terceira gerações dos Ijuim reuniram-se uma chácara em Bauru. Os mais de 40 membros da família relembraram histórias e estórias dos antepassados. Histórias como a homenagem a Kaneaki com o nome de uma rua na Vila Nipônica; e o nome da rua dedicada a Kanehiko no bairro Pousada da Esperança II. Também puderam se conhecer melhor, já que as distâncias geográficas impedem os contatos frequentes.

O atual patriarca, Lourival, recebeu como presente herdar um retrat do avô Kentetsu pintato a óleo pelo artista (esloveno) bauruense Francisco Paulovic, nos anos 1960. Entre longas conversas e churrasco, os Ijuim celebraram os 100 anos do desembarque dos avós Wakasa Maru.

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