Política

Saúde regionaliza cidade e detecta alta mortalidade infantil na área Noroeste

Thiago Navarro
| Tempo de leitura: 5 min

A Prefeitura de Bauru começou o processo de territorialização da gestão da saúde, com a divisão da cidade em quatro macrorregiões e, dentro de cada uma delas, subdivisões em microrregiões. Em cada setor, os índices de mortalidade infantil, mortalidade materna, demanda por especialidades, doenças crônicas e número de atendimentos serão medidos e, com isso, a Secretaria de Saúde vai definir ações para cada região da cidade. Um dos índices já detectados é o da mortalidade infantil, que dispara na região Noroeste em comparação aos outros setores.

Para iniciar o processo de territorialização, o secretário de Saúde, José Eduardo Fogolin, colocou quatro servidores de carreira da pasta para cuidar de cada macrorregião. Os números de cada uma estão sendo levantados e, em seguida, ações serão definidas, devendo ser apresentadas em outubro para a Câmara e a população. Nesse primeiro momento, já se acendeu um alerta para a mortalidade infantil no Noroeste.

Em agosto, o JC mostrou que o município teve alta nesse índice no ano passado, chegando a 13 bebês mortos com até um ano de idade a cada mil nascidos vivos, contra 10,4 em 2016. Desta forma, Bauru voltou ao patamar de 2013 e ficou perto da média nacional, de 14 óbitos infantis a cada mil nascidos vivos - o índice também aumentou no País.

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Na região Noroeste da cidade, que envolve o Parque Jaraguá, Nova Esperança, Fortunato Rocha Lima, Santa Edwirges, Nove de Julho, Jardim Petrópolis, Gerson França, Vânia Maria e Bela Vista, o índice é de 20 bebês mortos a cada mil nascidos vivos, portanto, 53% acima da média do município e 42% maior do que a média nacional. Esta é a área mais populosa da cidade e que concentra outros índices de vulnerabilidade social. Além disso, recebeu grande número de moradores nos últimos anos, especialmente com o Minha Casa Minha Vida, sem a devida estruturação da rede de saúde, educação e lazer, entre outros.

Nas outras três regiões - Sul, Sudeste e Norte - os índices ficam entre 10 e 13, portanto menores do que a média nacional e do município. Fogolin destacou que este é apenas um dos casos em que a pasta atuará de maneira direcionada.

"A região do Nova Esperança recebeu muitas unidades do Minha Casa Minha Vida e não houve mudanças na rede de saúde. A própria demanda por atendimentos de pediatria é grande na UPA do Bela Vista, que atende toda aquela região. Isso é algo que já detectamos. E, tendo esses indicadores, conseguiremos dar atenção naquilo que cada região mais precisa", afirma. No caso específico da mortalidade infantil, a região Noroeste deverá receber uma atenção maior do governo em áreas como pediatria e ginecologia.

Horários ampliados

Outra proposta que deve vir da territorialização é definir em quais unidades de saúde o horário de atendimento será ampliado, com funcionamento até o período da noite, ou mesmo abrindo aos finais de semana. O secretário Fogolin cita que, para ampliar o atendimento, há duas alternativas. Uma delas é a construção de novas unidades, o que demanda altos investimentos. A outra é aproveitar os prédios atuais, com mais horários de atendimento, onde uma unidade de cada macrorregião ficaria aberta à noite e aos sábados, com as especialidades que mais têm espera naquela área do município.

Corte de verba federal preocupa administração

O JC mostrou, na semana passada, que o governo federal repassou R$ 4 milhões a menos para o município através do Sistema Único de Saúde (SUS) entre janeiro e agosto deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Isso obrigou a prefeitura a colocar mais recursos próprios para manter os atendimentos já prestados e para a criação de novos serviços. A Emenda 95, que limita os gastos do governo federal por 20 anos, é o que causou a redução, afirmou o secretário de Saúde, José Eduardo Fogolin, em audiência pública na Câmara, ontem.

Em outubro, deve ser inaugurada a Unidade Básica do Chapadão, e, até o final do ano, a Secretaria de Saúde pretende entregar a Casa da Mulher - no prédio onde antes funcionava o Instituto Branemark - e o Centro de Diagnósticos, ao lado do Pronto-Socorro Central (PSC).

Para dar conta de novos investimentos, a pasta contou, neste ano, com R$ 2,6 milhões de recursos de emendas federais, R$ 560 mil em emendas estaduais, e R$ 1 milhão em contrapartidas de empreendimentos, através do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), o que não era cobrado até então, priorizando as demandas de cada região perto dos novos empreendimentos.

Samantha Ciuffa
O secretário de Saúde, José Eduardo Fogolin, apresentou o plano em audiência pública na Câmara Municipal dessa quinta-feira (27)

Os 4 macroterritórios

O processo de territorialização dividiu a cidade em quatro macrorregiões, sendo que cada UPA ficou dentro de uma delas. A região Sul envolve as microrregiões das Unidades de Saúde do Jardim Europa, Falcão, Vila Dutra, Ipiranga, Independência e do Jardim Jussara/Celina e a UPA do Ipiranga. A região Sudeste tem as microrregiões das Unidades de Saúde do Geisel, Redentor, Octávio Rasi e Cardia e UPA do Geisel/Redentor.

Na região Noroeste, estão as microrregiões das Unidades de Saúde do Santa Edwirges, Bela Vista, Nova Esperança, Nove de Julho/Fortunato Rocha Lima, Parque Vista Alegre, Jardim Godoy e Centro e a UPA do Bela Vista. Já a região Norte tem as microrregiões das Unidades de Saúde do Beija-Flor, Mary Dota, Pousada da Esperança, Vila São Paulo, Nova Bauru, Gasparini, e a do Chapadão - que deve ser inaugurada em outubro - e a UPA do Mary Dota.

Em cada uma das macrorregiões, a Secretaria de Saúde está levantando os problemas mais comuns, inclusive os casos específicos das respectivas microrregiões. "Desta forma, vamos conseguir fazer aquilo que é mais necessário em cada lugar. Se alguma especialidade tem subaproveitamento em alguma região e falta em outra, otimizando o uso dos recursos públicos", afirma Fogolin.

"Estamos fazendo isso sem criar novas despesas, pois, na verdade, é uma mudança na forma de fazer a gestão e que poucos municípios conseguiram até hoje, casos de Curitiba, Recife, Campinas e São Bernardo do Campo, onde isso deu certo. Porque a prefeitura consegue, a partir disso, direcionar recursos de forma eficiente, atacando os problemas diretamente", lembra o secretário.

A divisão das regiões foi com base em critérios de localização, de perfil socioeconômico e usando ainda divisões naturais que separam as principais áreas.

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