Uma vida dedicada a 'apagar incêndios'
Após quase três décadas de bombeiros e atuação chave para salvar muitas vidas no maior acidente com barragem da história no Estado, ele encara a missão de reestruturar a Defesa Civil de Bauru
| Malavolta Jr. |
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| Rogério Gago assumiu a Defesa Civil em 25 de abril deste ano |
| Arquivo Pessoal |
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| Rogério com a mãe Maria Aparecida Dal Rovere e o pai Rolando Gago, durante formatura no Barro Branco, em 1988 |
Nascido em Marília, mas "bauruense de coração", o coronel Rogério Gago tem 35 anos de Polícia Militar (PM), 27 deles dedicados ao Corpo de Bombeiros. Em janeiro de 2018, ele se aposentou após comandar por quatro anos o 12.º Grupamento de Bombeiros da Região, à frente de 69 cidades do Interior. Mas, ao invés de descansar, o coronel resolveu "apagar mais um incêndio" na cidade. A convite do prefeito Clodoaldo Gazzetta, ele assumiu, em 25 de abril, a coordenação da Defesa Civil com a missão de reestruturar todo o setor, que enfrentou grande crise recentemente com a tragédia que envolveu morte de mãe e filha durante mais uma enchente.
Formado pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco, Gago também é engenheiro civil, doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública e possui formação na instituição de ensino Texas A&M University em Operações Contra Incêndios. Também atua como docente em cursos de graduação e pós-graduação em universidades da região.
É casado com Bia Gago, pai de Ana Júlia e João Victor, e avô de Kalel, de 3 meses. Em um bate-papo com o JC, ele contou um pouco de toda essa trajetória pessoal e profissional, que começa com um sonho de ser policial e passa por atuação fundamental no salvamento de muitas vidas no maior acidente com barragem da história no Estado, em Paraguaçu Paulista.
| Divulgação |
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| Rogério Gago com o filho João Victor, a esposa Bia Gago e a filha Ana Júlia, que, na festa da fotografia, completava 15 anos |
| Arquivo Pessoal |
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| Treinamento de sobrevivência pela mata, ainda no Barro Branco, em 1986; cadetes Vander Ferreira de Andrade (da esq. para dir.), Adilson Luis Franco Nassaro e Rogério Gago |
JC - Alguém o inspirou na carreira militar? O senhor chegou a cogitar outras profissões?
Coronel Gago - Meu avô era policial da guarda civil em Marília e meu pai era bombeiro. Então, foi algo que me inspirou muito. Aos 15 anos, trabalhei em uma indústria de óleo vegetal, meu primeiro emprego com carteira assinada. Depois, fiz curso de técnico em eletrônica. Aos 17 anos, passei ao mesmo tempo em concursos para a Telesp, Exército e para a PM. Escolhi a polícia por conselho do meu pai.
JC - Ser bombeiro, então, era sonho desde a infância?
| Divulgação |
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| Gago (agachado à direita) com membros do 12.º Grupamento de Bombeiros de Bauru na instituição de ensino do Texas |
Coronel Gago - Não exatamente. Eu sempre quis é ser policial militar. Adorava brincar de polícia e ladrão quando criança. Ser bombeiro aconteceu. Passei cinco anos na Academia, em São Paulo, e, depois, fiz estágio probatório em Marília, quando fui promovido a tenente. Depois, tive que voltar para São Paulo, mas além da família, também já namorava a Bia em Marília. Por isso, optei por realizar o curso de bombeiro para oficiais, a transferência para o Interior era menos concorrida. Fui o quarto da turma de 66 alunos em notas e consegui voltar. Em Marília, assumi como relações públicas do Corpo de Bombeiros e, mais tarde, fui transferido para a área de vistorias técnicas e análise de projetos, o que me fez cursar Engenharia Civil e me especializar em segurança do trabalho.
JC - Qual a situação mais difícil ou perigosa que o senhor já viveu ao longo da carreira?
| Arquivo Pessoal |
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| Rogério Gago foi um dos idealizadores do projeto Corta Fogo, que utiliza aviões agrícolas a serviço da Defesa Civil do Estado |
Coronel Gago - Quando me tornei capitão, fui transferido para Paraguaçu Paulista, onde assumi o comando de policiamento. Em janeiro de 2006, com as chuvas, a barragem do Grande Lago rompeu, e inundou parte das cidades de Maracaí e Paraguaçu. Era uma situação de guerra, muita gente desabrigada. As cidades ficaram sem energia, não tinha água potável, a rede de esgoto foi danificada e 18 pontes foram levadas. Foi o maior acidente com barragem da história no Estado. Inclusive, trato do assunto e de como agir em rupturas de barragens em minha dissertação de mestrado para major.
JC - O que acredita que o levou ao mais alto cargo na corporação?
Coronel Gago - Foi justamente essa ocorrência de Paraguaçu que me projetou. Além de bombeiro, eu era o único engenheiro da cidade e conseguimos evitar uma tragédia maior e salvar vidas, porque, no dia anterior ao rompimento, eu avaliei a estrutura e me reuni com os prefeitos para convencê-los a retirarmos a população ribeirinha que seria atingida, se o desastre ocorresse. Isso foi às 18h. No dia seguinte, às 10h, a barragem estourou. Eu cheguei até ser nomeado relações públicas da prefeitura durante a emergência. Depois, acabei condecorado com a medalha da Defesa Civil do Estado e recebi moção de aplauso. Fui até cogitado para atuar na Defesa Civil do Estado, mas acabei optando por voltar a atuar como bombeiro e assumir o grupamento de Bauru.
JC - O senhor frequentou a Annual Texas Fire Training Schools (Teex), no Texas, considerada a maior academia de bombeiros do mundo. O que a experiência lhe trouxe?
Coronel Gago - Lá, é considerada a "Disneylândia dos bombeiros" para treinamento. É uma cidade teatral, com grandes incêndios, tsunamis, terremotos e furacões. Fiz extensão universitária por cinco anos durante as minhas férias. E consegui firmar uma parceria para que mais bombeiros de Bauru se especializassem por lá. Aprendi que não adianta ter bons equipamentos, se não apostarmos em formação. Acredito que uns 40 bombeiros tenham ido até lá.
| Corpo de Bombeiros/ Divulgação |
| O coronel Rogério Gago foi o comandante do 12.º Grupamento de Bombeiros da Região, que abrange 69 cidades do Interior |
JC - A utilização de aviões agrícolas para combate a incêndios em Bauru e no Estado começou com um projeto do senhor, certo?
Coronel Gago - Para chegar a tenente-coronel, eu entrei para o Curso Superior de Polícia, que é uma espécie de doutorado. E Bauru enfrentava muito incêndio em mato na época e eu estudei a utilização de aviões agrícolas no combate a incêndios. O ex-prefeito Rodrigo Agostinho bancou o projeto e fizemos parceria com uma empresa em Pederneiras. Hoje, a Defesa Civil do Estado também tem um contrato do tipo e utilizou meu estudo para viabilizar esse serviço.
JC - Qual sua missão à frente da Defesa Civil?
Coronel - Apagar um incêndio (risos). Brincadeira... mas é que temos um grande desafio para chegarmos ao porte parecido do que existe em cidades como São José do Rio Preto. Não há recursos próprios, a verba é do gabinete. E precisamos reestruturar tudo. Primeiro, adaptar os veículos, que, hoje, são comuns, para entrar em locais de risco. Também é necessário dobrar o quadro de funcionários, de cinco para dez, pelo menos. Não podemos ser reativos. Temos que começar a agir de forma mais preventiva, principalmente quando falamos em enchentes, Bauru registrou mortes recentes. Em terceiro, criar um levantamento real e mapeado das áreas de risco e montar um plano de ação para períodos chuvosos, estiagem e também para grandes acidentes, porque registramos intensa circulação de cargas perigosas em nossas rodovias. Por último, investir na comunicação interna e externa.
JC - Projetos futuros?
Coronel Gago - Todos achavam que eu iria descansar com a aposentadoria, mas surgiu a Defesa Civil e assumo de coração, como uma forma de dar minha contribuição para a cidade que me acolheu tão bem. Não tenho título de Cidadão Bauruense, mas não pretendo deixar Bauru. Já até vendi o que tinha em Marília e comprei casa e terreno aqui, minha esposa montou uma imobiliária. Depois desta missão, quero ter mais tempo para a família, para meu neto de 3 meses e para viajar.
PERFIL
Nome: Rogério Gago
Idade: 53 anos
Signo: peixes
Esposa: Marisete Orneles de Souza Bia Gago
Filhos: João Victor e Ana Júlia
Time: São Paulo
Filme: "Brigada 49"
Livro de cabeceira: "Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo o que nos afeta"
Música: Take my Breath Away (tema do filme Top Gun)
Ídolo: Rolando Gago (pai)
Cor: vermelho
Palavra preferida: "nós"
Hobby: correr
Nota 0: aos últimos governo do País
Nota 10: para a esposa Bia Gago
Contato: capgago@gmail.com
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