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Nossa mentalidade escravocrata

Henrique Matthiesen
| Tempo de leitura: 2 min

Uma das características basilares de parte de nossa classe dominante é o seu ideário escravocrata. Não evoluiu civilizatoriamente e carrega em seu DNA as gêneses de seus antepassados senhores de escravos. Vivemos mais de 388 anos com a escravidão, oficializada pela força de nossos colonizadores, e depois pela própria força estatal.

A despersonalização étnica que ensejou a formação do povo brasileiro, seja na desconstrução indígena, africana ou européia, contribuiu para a formação de uma classe dominante peculiar de outras classes dominantes em outras nações. Segundo sua obra prima "O povo Brasileiro", o grande antropólogo, Darcy Ribeiro, leciona de forma magistral: "Surgimos da confluência do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos."

Esta junção cultural, étnica e ideológica resultou na nossa luta de classes através do entrechoque civilizatório que desde nossa formação segregou e estabeleceu paradigmas até hoje refletidos em nossa sociedade. Um destes paradigmas é a mentalidade de colonizados; e outro é o ideário escravagista que parte de nossa classe dominante insiste em seguir.

As ditas "reformas" que o neoliberalismo há anos tentar aprovar no Brasil, seja no governo de FHC, Michel Temer e agora de Jair Bolsonaro, atendem um desejo de retrocesso no qual a nossa classe dominante se associa docilmente. O desmantelamento do legado trabalhista criado por Getúlio Vargas, quem melhor compreendeu nossa luta de classes nas áreas do trabalho, é o desejo impudico e imoral desta classe. Ressalta-se que o Ministério do Trabalho - extinto pelo atual governo - é um órgão "capitalista" que regula a conturbada relação capital e trabalho, e que seu fim é a senha alvissareira para os herdeiros escravocratas. Até porque a contemporaneidade avançou em formas mais rebuscadas de escravização, inclusive com a condescendência dócil dos escravos atuais e o fim das leis trabalhistas, que são a sofisticação da escravização do século XXI.

Enfim, estamos perto da escravidão voluntária.

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