Entrevista da semana

O dom de garantir dignidade na velhice

Dulce Kernbeis
| Tempo de leitura: 4 min

Orgulhosa da família e da profissão que abraçou (enfermagem com especialização em Gerontologia, cuidado de idosos), Joana Bacci nem parece ter os 37 anos confessos - nasceu em 14 de junho de 1982. Menos ainda aparenta já ser mãe de dois filhos, um deles, inclusive, adolescente.

Por outro lado, o que fica mais do que evidente, logo no começo da conversa, é o amor pelo que faz. Hoje, Joana é a proprietária do Residencial Geriátrico Renaissance.

Nesta entrevista, ela discorre sobre o trabalho com a área da saúde, os aspectos de sua preocupação atual com o envelhecimento no Brasil ("Já, já, seremos um País onde a velhice vai dominar e, em 2050, de cada quatro brasileiros, um será idoso") e, claro, a vida em família.

Jornal da Cidade - Como nasceu sua vocação na área da saúde?

Joana Bacci - Trabalho na área da saúde há 17 anos. Comecei em uma área bem pesada, Ambulatório de Quimioterapia do Hospital Amaral Carvalho. É uma excelente experiência para a gente saber se é talhada para a área. Vi que havia feito a escolha certa. 

JC - E o trabalho com os idosos?

Joana Bacci - Por dez anos, estive no Saud (Serviço de Atendimento Unimed Domiciliar). Daí, despertou o  sonho de montar algo para os idosos. Foi a hora de entrar em contato com residenciais e clínicas geriátricas. Vendo situações até, em alguns casos, tristes, onde o idoso não tinha o tratamento humanizado necessário, eu sabia intuitivamente como fazer melhor. E fui estudar mais ainda. Minha primeira referência foi em família. Graças à minha avó Edith, já falecida, a vó "Dite" (do lado paterno), de quem tenho as melhores lembranças, aprendi a ter carinho e respeito para com os idosos.

JC - Acabou se tornando especialista?

Joana Bacci - Sim. Fiz pós-graduação no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein em São Paulo, sendo especialista em Gerontologia. Eu brinco que estar no Einstein é a cereja do bolo da minha carreira. Porque lá, realmente, tive contato com a nata do setor, me capacitou para abrir os horizontes para as necessidades do idoso. Uma honra ter me especializado em uma instituição renomada e de referência no País. Também tenho um MBA em Gestão de Projetos com Enfoque em Medicina Preventiva.

JC - Daí para ter a sua própria empresa foi um pulo, certo?

Joana Bacci - Fui à prática com a primeira unidade do residencial Renaissance (Altos) e, hoje, já temos a segunda unidade (Bosque) em cinco anos de existência. Aplico todo o conhecimento adquirido. Temos idosos de várias complexidades atendidos por uma equipe altamente especializada. Sempre faço questão de ressaltar o atendimento humanizado. 

JC - Que é a filosofia do seu trabalho com os idosos, certo?

Joana Bacci - Temos mesmo um diferencial. Nossas confraternizações temáticas criam vínculo terapêutico com nossos idosos e importante socialização com seus familiares. Realizamos oficinas diversas e passeios externos, momentos de religiosidade, práticas terapêuticas, entre outros. Para isso, a equipe multidisciplinar é composta por médico, enfermeira, fisioterapeuta, nutricionista e terapeuta ocupacional. E ainda contamos com manicure, massagista, cabeleireira e podologia. Sendo tudo pensando no bem-estar de todos eles. O Renaissance é gerenciado por mim, que cuido de toda a parte assistencial, e pelo meu marido Luiz Bacci, que cuida da parte administrativa.

JC - Esse nome, Luiz Bacci, é conhecido, não?

Joana Bacci - Não é coincidência (risos). Ele tem o mesmo nome do primo, o apresentador "Menino de Ouro" da TV Record. O pai do meu marido e o do apresentador são irmãos. 

JC - E vocês têm dois filhos "únicos" por assim dizer...

Joana Bacci - Um de  17 anos e outro de 9. A diferença não foi proposital, simplesmente aconteceu. Os dois são meus xodós. Sou casada com o Luiz há 16 anos. Meu primeiro namorado, estamos juntos há 24 anos. Ele é o meu parceiro da vida, sempre incentivou meus sonhos e me apoiou em todas as decisões. Presente nos momentos mais difíceis e nos mais felizes também. Minha família é a minha vida, a base de tudo! Ter uma formação religiosa também é importante, somos católicos, atuamos na Paróquia de Santa Rita, na Pastoral da Acolhida.

JC - Você é bauruense nata?

Joana Bacci - Sim, nascida e criada aqui, no Jardim Bela Vista. Estudei em escola pública. Sou de um tempo em que criança brincava na rua, sem medo.

JC -  E como é trabalhar o tempo todo com o marido?

Joana Bacci - Ótimo. Até porque ele comunga da mesma visão que eu: envelhecer com dignidade é um direito humano fundamental. As pessoas precisam estar antenadas para o momento em que vivemos, o de transição demográfica. A pirâmide está se invertendo e, em 2050, teremos muito mais idosos. 

JC - Em breve, seremos um Brasil de pessoas idosas?

Joana Bacci - A projeção é de que haverá um idoso a cada 4 brasileiros, ou mais, teremos 29% da população de idosos. As famílias mudaram, não há mais aquela escadinha de filhos, quando um ajudava a cuidar do outro, irmãos acolhiam irmãos. Ainda se vê um filho idoso cuidando do pai, da mãe, mas, no futuro, não creio e faltará profissional na área. Há necessidade de políticas públicas que amparem em termos de saúde e educação, porque teremos mais centenários do que nunca.

JC -  Para finalizar...

Joana Bacci - Hoje em dia se fala muito em empoderamento. Você só consegue ser uma pessoa empoderada se souber onde quer chegar e o que quer fazer, especialmente com amor. É tempo de se inspirar e espalhar amor!

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