O celular pode trazer prejuízo para as pessoas não apenas no momento em que elas estão interagindo com ele. Segundo o médico otorrinolaringologista Sergio Henrique Kiemle Trindade, a luz da tela, o som ou mesmo a vibração do dispositivo ao receber notificações podem prejudicar a qualidade do sono, com impactos significativos nas condições de bem-estar do dia seguinte.
"Enquanto dormimos, nossa audição não para. Nosso cérebro vai filtrando ruídos para a gente não acordar, porém, o som ou pequenas vibrações do celular, ainda que não nos acordem conscientemente, acabam tornando o sono mais superficial", detalha ele, que também é especialista em medicina do sono e professor do curso de medicina da FOB/USP.
Ele explica que, em condições adequadas de ambiente, o sono, na sua fase inicial, fica oscilando de um estágio superficial para um patamar mais profundo, por várias vezes, durante um intervalo de aproximadamente duas horas. "Mas os estímulos externos, que são percebidos pelo nosso cérebro, superficializam este processo, sem nos darmos conta", reforça.
Antes do início do sono, o contato com telas portáteis também pode ser danoso, conforme explica Trindade. Isso porque, mesmo com a redução manual do brilho da tela, a luz branca emitida pelo celular age sobre a retina, com efeitos sobre a chamada glândula pineal.
ATÉ NO CORAÇÃO
Esta glândula é responsável por secretar melatonina, hormônio que chega a concentrações máximas no período noturno e que ajuda a promover o início do sono. "Quando a retina fica exposta à luz intensa do celular, no momento em que deveria estar recebendo menos luminosidade, a secreção da melatonina acaba sendo inibida. Com isso, há um atraso do início do sono, além da diminuição da qualidade do sono", detalha Trindade.
Como consequência da hiperestimulação ao longo de toda a noite, podem surgir sintomas como sonolência excessiva, redução do nível de concentração, diminuição do desempenho no trabalho ou escola, irritabilidade e mau humor. "E um sono de qualidade ruim, em todas as noites, cumulativamente, pode gerar, inclusive, prejuízos físicos. Um deles é a maior incidência de problemas cardiovasculares, pela sobrecarga de longo prazo no organismo, que não desacelera pelo tempo necessário", completa.