O ex-jogador de futebol Ismael Sabino, o Ticão, saiu ainda jovem de Bauru para jogar em grandes clubes do futebol brasileiro e do Exterior. Revelado pelas categorias de base do Esporte Clube Noroeste, o meia-atacante foi para a Ponte Preta aos 15 anos de idade, na década de 1970, onde foi profissionalizado. Depois, atuou em clubes como Juventus, Portuguesa, Vasco da Gama e Atlético Goianiense, nos anos 1980. Também esteve no Peñarol, jogando ao lado de atletas que tinham acabado de vencer a Taça Libertadores da América.
De volta a Bauru, após encerrar a carreira, Ticão ainda jogou pelo Triagem, no futebol amador, e depois passou a desenvolver trabalho com crianças e jovens em escolinhas de futebol. Ações sociais também fazem parte da vida de Ticão, que se emociona ao falar da ajuda que dá a famílias com dificuldades na periferia de Bauru. Comparado a Pelé no início da carreira - o que o atrapalhou, afirma - ele conta algumas das passagens marcantes ao JC. Confira os principais trechos da entrevista.
JC - Você nasceu em Bauru e começou na base do Noroeste. Como foi sua infância?
Ticão - Eu cresci no Jardim Monlevade. O meu pai era ferroviário. Tive uma infância boa. Meu pai tinha um time de futebol, comecei jogando com ele. Fui para o Noroeste com 13 anos, para jogar no sub-13 e no sub-15. O Baroninho jogava naquela mesma equipe. Temos apenas um ano de diferença. Tenho uma amizade até hoje com ele. Fiquei um período rápido no clube. A Ponte Preta comprou o meu passe e fui para lá com 15 anos. Eu estava com uma perna quebrada, tinha acabado de operar, machuquei jogando em um campeonato sub-20 para o Noroeste.
JC - Na Ponte Preta, acabou participando daquele elenco vice-campeão paulista em 1977?
Ticão - Eu participei do campeonato, entrei em alguns jogos, mas não na final contra o Corinthians. Tínhamos tudo para ter vencido. O time era muito bom, mas acabamos não ganhando.
JC - No início da carreira, você foi comparado ao Pelé. Isso de atrapalhou?
Ticão - Me atrapalhou muito. As pessoas comparavam com o Pelé porque ele também era de Bauru. Também passei pelo Baquinho antes de ir para o Noroeste e essa comparação foi muito ruim para mim, principalmente no começo. Os torcedores esperavam um novo Pelé, o que era impossível. Eu precisava ser visto como o Ticão e não como o Pelé. Depois, isso diminuiu e consegui lidar melhor, aí minha carreira foi para frente.
JC - Qual foi o clube mais marcante?
Ticão - Acho que na Ponte Preta, Vasco , Juventus, o Peñarol. No Peñarol, cheguei logo após eles terem vencido a Libertadores e o Mundial. O time do Peñarol era muito bom, a base da seleção uruguaia na ocasião. Disputei uma Libertadores pelo Peñarol, fomos vice-campeões, ganhamos Campeonato Uruguaio e ficamos no terceiro lugar do Mundialito, que reunia alguns dos campeões mundiais até então. Fui para lá no lugar do Jair, que era outro brasileiro e que tinha sido decisivo no título do Mundial de 1982. No Vasco, também foi um momento bom. Jogamos a final do Campeonato Carioca de 1981 contra o Flamengo, que tinha acabado de ser campeão da Libertadores. No último jogo, com o Maracanã lotado, 171 mil pessoas, o Flamengo acabou vencendo por 2 a 1. Fiz o gol do Vasco naquele jogo, no final do segundo tempo. Infelizmente, não conseguimos buscar o empate. Um outro jogo foi Juventus e Palmeiras, em 1982, no Morumbi. Fizemos uma grande partida, marquei os dois gols do Juventus e o time assumiu a liderança do Campeonato Paulista.
JC - E o apelido, vem de onde?
Ticão - Foi do começo, no Noroeste. Eu cheguei lá bem magrinho. O Bolão, que era o treinador da base, acreditou que eu iria me desenvolver. Então, no início era Tiquinho, Tico, porque era magro, e depois ficou Ticão o apelido mesmo.
JC - Continua mantendo contato com os jogadores da sua época?
Ticão - Falo com alguns. O Oscar, que foi zagueiro da Ponte Preta no mesmo período que eu e jogou no São Paulo, converso com ele sempre. A cada dois anos, reunimos jogadores da época da Ponte no hotel dele.
JC - Dos jogadores que atuaram com você e também entre os que enfrentou, quais foram os melhores?
Ticão - Acho que dos que atuei como companheiro de equipe, o Roberto Dinamite, no Vasco. Era um atleta que fazia muita diferença em campo. O Oscar, na parte defensiva, também era fora do comum. Já entre os que enfrentei, o Zico era muito acima dos demais. O Platini também era diferenciado. Entre os goleiros, acho que os melhores foram o Carlos e o Rodolfo Rodrigues.
JC - Teve alguma frustração no futebol?
Ticão - Eu gostaria de ter jogado no São Paulo, meu time de coração. E fiquei perto disso, quando estava na Ponte Preta. Ficou tudo acertado para eu ir para o São Paulo, mas o clube não liberou.
JC - E o futebol atual, tem acompanhado?
Ticão - Assisto mais pela TV, e às vezes vou ao estádio do Noroeste. O futebol atual é mais físico, de força física mesmo, entendo que diminuiu um pouco o espaço da técnica. Tem as exceções, como o Messi, Cristiano Ronaldo, o Neymar. A Seleção Brasileira também vive uma fase mais difícil, mas sempre acredito no futebol do nosso País, é o melhor futebol ainda.
JC - Após encerrar a carreira, qual foi sua relação com o futebol?
Ticão - Meu último time foi o Atlético Goianiense. Ganhamos o Campeonato Goiano, em 1988, tive algumas propostas para continuar, mas resolvi parar. Voltei para Bauru e joguei no Triagem, tanto os campeonatos locais como o Estadual do Amador, onde fomos campeões. Depois, fui dar aulas em escolinhas, primeiro no Bate Bola, depois no Sport Soccer, e hoje estou no Bola na Rede, com crianças e jovens entre 11 e 15 anos. O Richarlyson foi um jogador que começou comigo, quando eu também estava começando com escolinhas. Participei da Acop, mas a entidade acabou. Mesmo assim, continuo ajudando algumas famílias. Muitos pais de alunos da escolinha de futebol ajudam com mantimentos, roupas... Sempre que eles precisam de mim, estou lá para colaborar, pois têm famílias muito carentes. Várias são do Jaraguá e Fortunato Rocha Lima, o Projeto Girassol que colabora bastante com eles.
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