Turismo

Pesca em Ayola 5


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Nesta semana, o céu nos brindou ao final de uma tarde chuvosa com um duplo arco-íris. Curiosos e admiradores do fenômeno saíram de suas casas para observá-lo. Descrever por palavras ou verbalizar aquela cena esplendorosa de arcos multicoloridos nunca será tão convincente como fixar os olhos para assistir a grandeza do espetáculo. A pescaria de piapara prosseguiu com meu polegar da mão direita mostrando dois minúsculos furos abertos pelo anzol, todavia, sem causar nenhuma dor ou incômodo ao manusear o caniço e carretilha. Desconhecia esse duplo efeito do aguardente, embriagar e anestesiar. Ao lado disso pinga como anestésico e alicate como instrumento cirúrgico, manejado por um leigo, porém, experiente em retirar anzol enroscado em alvo errado, funcionam muito bem em pequenas cirurgias. Estava na hora de abrir a merenda preparada no hotel aos pescadores que não voltassem para o almoço, o que foi o nosso caso, pescar o dia todo e fartar-se no jantar. Mudamos de lugar da pesca porque embarcamos piaparas adultas muito acima da cota de cada pescador. Concordamos com a sugestão do piloteiro sair a procura de dourado e pacu, subindo o rio paraná em direção ao hotel, parando nos pontos frequentados pelos peixes. Pouco resultado se obteve nessa segunda parte da pescaria pela dificuldade de encontrar os peixes visados.

Foram fisgados alguns exemplares de dourado e nenhum pacu apareceu atraído pela isca. Próximo do poente, regressamos ao hotel e os companheiros que chegaram antes tinham seus peixes, quase todos piaparas, desvisceradas e escorrendo penduradas num varal, método caboclo preparatório do congelamento do pescado. Juntos com as piaparas trazidas no barco, a soma de todas elas indicou que a pescaria acertada para 4 dias havia sido realizada num só dia, além da cota determinada para cada pescador. Nos três últimos dias o número de peixes diminuiu consideravelmente, as piaparas famintas se dispersaram do lugar onde foram fisgadas dezenas delas no primeiro dia de pesca, sobejando algumas alimentando-se da sobra do 'trato", ou seja, do milho azedo jogado pelo piloteiro no dia anterior, como ceva. Pescaria é assim mesmo. Quem pesca regularmente em rios caudalosos não se impressiona com essa inconstância. No rio paraguai quando os peixes não se interessam pelo alimento preso ao anzol, os piloteiros de lá dizem que eles estão de "bucho virado". Nunca entendi o sentido dessa expressão, embora a tenha escutado em algumas pescarias. Se leva-la em conta o seu sentido gramatical, o estômago que vira no interior do peixe, obstrui a função gástrica podendo causar sua morte.

A viagem de retorno foi iniciada a noite. Nas caixas de isopor foram acomodados os peixes congelados com peso e número de exemplares superior ao permitido. Nem mesmo o risco do pescado ser apreendido na fiscalização, com seus desdobramentos perigosos, amedrontou os companheiros. O transporte do excesso de peixe foi decido por votos. A maioria dos companheiros mostrou-se favorável a transportar toda quantidade de peixe pescados.

Alfredo Enéias Gonçalves d'Abril,

pescador aposentado

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