Wilson Leôncio de Melo, conhecido nacionalmente como João Mulato, lutou por meses contra o câncer, mas sucumbiu nesta segunda-feira (20). O cantor e compositor estava internado no Hospital Estadual de Bauru desde a última sexta (17). De acordo com a certidão de óbito, tinha 69 anos - faria 70 em 25 de outubro. Página no Facebook dedicada a ele e enciclopédia livre Wikipedia citam 1947 como ano de nascimento.
João Mulato era natural de Passos (MG), mas vivia em Bauru há 12 anos, no Parque Paulistano. Violeiro admirado, descobriu a doença há cerca de um ano. Desde então, vinha fazendo as sessões de quimioterapia para o tratamento e chegou a procurar ajuda fora da cidade.
No entanto, o quadro piorou e a internação se fez necessária. "Ele não conseguia mais nem tocar", relata Daniella da Silva Leôncio de Melo, 34 anos, filha do músico.
"Um ídolo. O admirei até o último dia. Tivemos nossas diferenças como pai e filha, mas o respeito foi mútuo. Ele era artista e seus únicos e grandes amores foram a viola e a música, às quais ele se dedicou. Não admitia erros. Por isso, suas músicas foram marcantes e seus arranjos, inesquecíveis", finaliza.
RIGOROSO
Oneir Caçador, amigo do cantor em Bauru e apresentador do programa sertanejo "Viva Viola" (canal 13 da Net), confirma que João era perfeccionista e chegou a gravar cinco vezes a mesma entrevista.
"Ele levava a sério a música sertaneja. Um líder no segmento. Era tímido, falava pouco, mas representava uma grande bandeira da música raiz. Perdemos um grande pedaço [...] da música sertaneja", conta.
DUPLAS
Ícone do sertanejo de raiz e conhecido por ser o primeiro violeiro canhoto a inverter a sequência das notas na viola caipira, João Mulato começou carreira em 1970, ao lado de Domingos Miguel dos Santos, o Bambico.
Com ele, João foi o primeiro a gravar "Meu Reino Encantado" que, anos mais tarde, também faria sucesso com Daniel e o pai, Zé Camilo.
Após o trabalho com Bambico, João Mulato então formou a conhecida dupla com Douradinho, outro grande acerto.
"Ao Mestre Com Carinho", "Tempo de Infância", "A Última Viagem", "Violeiro Sem Viola" e "Violeiro Furacão" são algumas das músicas gravadas pelos dois.
João Mulato também tocou ao lado de outros grandes nomes, em palcos e estúdios, como Tião Carreiro, Tonico & Tinoco, Pardinho e Paraíso. E ainda: Chitãozinho e Xororó, Gino e Geno, além de seguir turnê com Chrystian & Ralf. Com Pardinho e Paraíso também chegou a formar duplas.
DESFECHO
Suas últimas gravações voltaram a ser ao lado de parceiro que adotou o nome Douradinho, dando continuidade ao legado da dupla que acumulou mais de 30 anos de carreira.
Com Douradinho, aliás, lançou os últimos álbuns: "Tudo a ver", em 2012, e "Nos Pés da Mulher que eu Amo", e 2014.
Em 2016, voltou a encontrar o cantor Daniel (leia mais no quadro abaixo) e, juntos, dividiram o palco do Cnarim Hall, em Bauru, no sucesso "Amargurado" - que a dupla João Mulato e Douradinho também havia gravado anos atrás.
RECONHECIMENTO
Adriana Farias, violeira que substituiu Inezita Barroso no programa "Viola, Minha Viola" quando a atração passou a exibir reprises, postou no Facebook foto com João e uma declaração: "Segue em paz, amigo João Mulato. A gente aqui vai sentir muita saudade".
Alex Marli Dias, filha de Tião Carreiro, também postou no Facebook mensagem com foto dos dois digantes da viola: "A família Tião Carreiro expressa aqui nossos sentimentos pela grande perda do nosso 'Violeiro Furacão' João Mulato. Saudades eternas".
DESPEDIDA
João Mulato está sendo velado no Centro Velatório Terra Branca - rua Gerson França, 5-55, Centro. Sepultamento ocorre às 10h de hoje no Cemitério do Jardim Redentor.