Alberto Consolaro

O jovem ou o idoso: quem vai morrer?

09/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Se uma pessoa ou algumas pessoas não entendem o que é necessário e vital, tal como é um conhecimento científico e intelectual provado pela metodologia e lógica do pensamento, me resta apenas duas explicações: a ignorância (o que não é pecado, pois não lhe foi ensinado!) e a má fé movida pela ganância de dinheiro e poder, sem se importar com as demais coisas vidas e amores!

A ignorância está associada a falta de cultura e até de escolaridade, mas não do ponto de vista formal, pois muitos que têm diplomas e títulos universitários são muito ignorantes. Sartre dizia que para você “existir” verdadeiramente precisa primeiro ter a real consciência do seu papel social e individual no contexto em que vives. Isto deveria ser ensinado na escola e em casa, mas infelizmente não é, pois requer um certo refinamento mínimo na formação dos pais e professores das escolas públicas e privadas, indistintamente.

Se você não tem esta consciência de “existir” estás se comportando como um pé de couve, vegetando. No existencialismo ou em qualquer religião e programa partidário, o indivíduo sempre é sobreposto pela sociedade, pelo bem comum, pelo benefício do todo sobre o pessoal. Mas, o comportamento das pessoas nesta pandemia tem sido lamentável. É um salve se quem puder, dane-se o outro e viva as “fakes news”.

“Nesta epidemia todos vão pegar mesmo!“ MENTIRA. “Vou pegar logo pois assim eu fico imune e dane-se o resto.” MENTIRA. Não se pode afirmar que fica imune e que não passa o coronavírus para as demais pessoas, a verdade é que não se fica imune e continua a passar o vírus no mínimo como um vetor. “Irão morrer apenas os mais velhos e doentes”. MENTIRA, morrem todos, desde bebes, crianças, jovens e adultos, além dos mais velhos. Fico espantado que todos estes argumentos são usados apenas para se manter a “lojinha” aberta a qualquer custo.

Mais recentemente está-se usando um protocolo para ser aplicado pelo médico na hora de decidir quem vai usar o respirador, em caso de escolha para a Covid-19. O critério maior é a idade. Tinha-se um homem de 30 anos e o seu pai de 66, e o médico escolheu o mais jovem, e o seu pai foi escolhido para morrer em algumas horas! E agora? Se eu fosse o médico, não escolheria nenhum dos dois e chamaria o diretor do hospital, ou o secretário e até o ministro da saúde para fazer a opção!

Afinal, quem falhou no tempo de planejamento de enfrentamento que foi grande, desde janeiro? Onde estavam os responsáveis por este despreparo do sistema, durante o mês de janeiro e no carnaval quando se dava para comprar respirador por 15mil reais? Por que o médico deve escolher quem vai morrer e assumir esta responsabilidade frente a natureza? Não foi o médico que errou, logo chamam quem errou e deveria ter estudado o que estava acontecendo no mundo e ouvido as recomendações das organizações internacionais!

Claro que alguém vai dizer que não se sabia, não se esperava ou outra coisa “escapadista” do mesmo tipo! Ouvidas estas desculpas esfarrapadas, a contragosto, por gentileza venham decidir quem vai morrer ou viver, pois o médico, não foi formado para tomar este tipo de atitude! A palavra “médico” significa cuidar, ajudar e amparar. Por respeito à profissão e à vida, a decisão médica profissional é atuar para salvar os dois: o jovem e o mais velho e não negar ajuda a um deles! O médico perdeu o emprego, mas também ganhava 2mil reais por um plantão de 12h. Voltou altivo e orgulhoso para casa, fez a coisa certa!

Quatro semanas depois deste dia em que isto aconteceu, o homem de 30 anos em que se salvou pelo protocolo por decisão ou “sentença” do secretário de saúde, foi a óbito em um acidente de motocicleta, ao colidir com um carro! A esposa que enterrou o marido, agora fará o mesmo com o filho que tinha duas lindas meninas e uma jovem esposa!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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