
Referência pública no tratamento da Covid-19 para 38 cidades, o Hospital Estadual (HE) de Bauru vive transformações complexas de reengenharia e rotina médica para enfrentar a guerra contra o novo coronavírus. Três meses de pandemia bastaram para que um terço da unidade se voltasse toda para combater a doença. Hoje, três dos sete pavimentos do HE estão praticamente tomados pelo combate à Covid (confira o infográfico ao lado). A reportagem do JC foi até a unidade nos últimos dias e, recebida pela diretora do hospital, Deborah Maciel Cavalcanti Rosa, pôde conhecer, pela primeira vez, o espaço modificado.
Como a Covid-19 não pode coexistir com outras doenças, um plano de contingência foi colocado em prática, em março, pela diretoria. O cancelamento das cirurgias eletivas fez parte do processo de esvaziamento.
Atualmente, o HE está na terceira etapa deste plano, medida que possibilitou que 113 do total de 340 leitos fossem direcionados só para o coronavírus. Atualmente, a unidade possui 74 leitos de enfermaria e 39 de UTI para pacientes com a doença.
MUDANÇAS
A primeira ala a receber pacientes da doença no HE foi a Unidade Coronariana, no segundo andar. O fato de os leitos de UTI serem fechados com divisórias, possibilitando isolamento, foi decisivo. Com isso, o serviço em questão foi transferido para o Hospital de Base (HB).
Na sequência, a Unidade de Queimados, que também ficava no segundo andar e tem UTIs e enfermarias, passou por desocupação para atender Covid-19. A estratégia garantiu, na época, 13 leitos de UTI e 31 e enfermaria para combater a doença no HE.
Deborah Rosa conta que a ocupação dos leitos em questão chegou a 70% rapidamente, o que fez com que a segunda etapa do plano de contingência fosse colocada em prática. Nela, a UTI Geral Adulta, localizada no primeiro andar, foi transferida e passou a abrigar pacientes graves da Covid-19, aumentando as UTIs da doença para 29.
Hoje, a UTI Geral Adulta do HE funciona no Centro Cirúrgico Ambulatorial, que precisou ter adaptação dos leitos. "É um local que era usado para pequenas cirurgias de olhos, pele, entre outros", explica a diretora. "Agora, este serviço foi inviabilizado, em detrimento da Covid-19, mas acredito que será algo temporário", acrescenta.
Em outra fase do plano, a UTI Pediátrica, que ficava no primeiro andar, também foi transferida. Agora, o serviço funciona no Centro de Terapia Intensivo (CTI), no subsolo.
CORTINAS E ISOLAMENTO
As transformações das UTIs do primeiro andar, tanto a Geral quanto a Pediátrica, contudo, demandaram adequações físicas. Os leitos tinham apenas distanciamento e meia parede entre si. Cortinas de lona e plástico foram instaladas ao redor de cada cama para garantir o isolamento.
"Quando um paciente é intubado, os riscos de aerossóis serem gerados são grandes. Por isso, trabalhamos como se o vírus já estivesse no ar. Temos poucas salas com pressão negativa, que é o isolamento perfeito. Então, utilizamos barreiras físicas, como cortinas e divisórias, preconizadas pela Anvisa, para isolar. Muitos hospitais de campanha trabalham só com o distanciamento de 2 metros entre leitos" , comenta a médica.
Os leitos do local são monitorizados por uma central computadorizada.
3.º ANDAR E EXPECTATIVA
Ainda na terceira etapa do plano de contingência, o HE esvaziou as enfermarias de sua Clínica Médica no terceiro andar do prédio. Conforme o JC publicou, a medida ocorreu após vários dias de superlotação nas 31 enfermarias.
A ala foi toda preparada e isolada com cuidados, já que possui, do outro lado do prédio, enfermarias da Pediatria ainda ativas.
A expectativa, agora, é de que ocorra a abertura do Hospital das Clínicas (HC) para que o HE não precise colocar uma quarta etapa do plano de contingência em prática, desativando esta ala, que atende crianças vítimas de outras patologias.