Alberto Consolaro

Devolva as flores de minha amiga!

04/07/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Já pensou ser dono de loja de discos, livraria ou de banca de jornal, mas têm aqueles que resistem, insistem, persistem e não abandonam o barco por amor ao que aprenderam como missão de vida! Sofrem restrições e abandonos, mas estão lá, firmes.

Assim é Ilda Viegas da banca de revistas e jornais do aeroporto de Bauru, agora aeroclube. Todos temos uma história emocionante, só depende de como contamos, explicitamos e a encaramos. Tem gente que sabe viver bem com o mínimo, o que me impressiona muito. De uma lata de cerveja se faz uma comemoração enorme pelo dia transcorrido, uma carne pequena na churrasqueira vira uma reunião de amigos na tarde e noite de sábado. Uma camiseta presenteada é vista como um vestido de gala para o baile, tal como uma fantasia de destaque da escola de samba na avenida.

E quando se tem muito pouco, ou quase nada, ainda se consegue dividir com uma sobrinha e, felizes, contagiam os que estão ao redor como a dividir o prêmio da loteria. O irmão, o amigo, o parente, todos no conjunto unido pelo simples jeito de amar o próximo.

Seus fregueses ou clientes, talvez pudessem ser chamados de pacientes, vão até lá para sorrir, gargalhar, desopilar e desabafar. Ou então reclamar, xingar e comentar as coisas da cidade e da política, quando não até falar da vida alheia, afinal ninguém é de ferro! Se não souber um endereço, passe por lá e ela logo indica o lugar que nem o Gps conseguiu localizar!

COTIDIANO

Com todas as dificuldades do ramo e da vida, Ilda está sempre sorrindo, alegre e com uma palavra amiga para dar, ou mesmo com uma lágrima a escorrer na face pelos espinhos do dia a dia da vida cheia de boletos, compromissos e contas para pagar! E mesmo assim todos no bairro aprenderam uma coisa que guardaram no subconsciente coletivo: se um animal aparecer machucado ou abandonado, falem e levem pra Ilda, ela vai cuidar, vai mobilizar todos para conseguir veterinário, remédio, vacinas e achar o dono!

Apesar de não saber muito mexer na internet, conhece todo o poder do instagram, facebook, whatsapp e outros meios pelos amigos. Pode ser um pardal que caiu ou um bem-te-vi com asa quebrada, gatos e cães nem se fala, mas acho que se um dia aparecer um cavalo errante ou uma vaca perdida por estas bandas, ela vai amparar e levar para casa! De tão querida e prestativa, muitos amigos até pensaram que poderia ser candidata a vereadora, uma ideia que ela abomina e, por sacanagem, de vez em quando fazemos campanha!

ROUBARAM!

Ela adora flores, além de animais, plantou, ganhou e cuidava de alguns poucos vasos com plantas coloridas que enfeitavam a parte externa da banca. A preferida era uma primavera, também conhecida como buganvília, que estava encantadoramente florida e linda, marcava presença para todos que passassem por lá!

A planta resistia aos olhares e encantos, era forte e acho que gostava de ficar ouvindo se adubando com as conversas das pessoas que por ali passavam. Mas, nesta semana aconteceu algo com minha amiga que a deixou muito triste, chorosa e desconsolada! Roubaram a sua primavera carregadíssima de flores que encantava a todos, junto com o vaso que a suportava! Cortou meu coração vê-la assim por um ato tão impensado. Nesta pandemia, ela não precisava passar por isto!

CAMPANHA

Eu peço a quem pegou o vaso das flores da primavera da minha amiga Ilda, que o devolva, sutilmente, deixe ali debaixo da caixa d’agua atrás da banca, ou então ali do lado mesmo. Pode fazer isto de madrugada e ninguém vai perceber! Se foi para enfeitar uma festa ou um jardim, lembre que as primaveras estão saudosas e que a ausência delas na banca está fazendo uma falta danada e devolvê-las pode trazer muita alegria para a Ilda e a todos os que desfrutam de sua companhia e amizade!

# DEVOLVA AS FLORES DA ILDA pode ser uma forma afetiva para sensibilizar quem as levou! Eram lindas e sem elas, a banca do aeroclube de Bauru não é a mesma!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista do Caderno Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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