Entrevista da semana

'Somos uma janela da Unesp para a sociedade'

Cinthia Milanez
| Tempo de leitura: 4 min

Sobre a sua mesa de trabalho, a claquete já mostra uma grande paixão pelo audiovisual. Aos 51 anos, o diretor da TV Unesp, em Bauru, Francisco Machado Filho, mais conhecido como Kiko, se diz realizado. À frente do veículo de comunicação desde 2017, ele o considera uma janela da universidade para a sociedade, afinal, tem como principal função popularizar as pesquisas realizadas por lá.

Filho do policial federal aposentado Francisco Machado, de 92 anos, e da dona de casa Eunice de Mendonça Machado, de 87, Kiko é o caçula de três irmãos. Ele se casou com a bibliotecária Laudeceia Machado, de 51. Optaram por não ter filhos. Pelo menos, humanos. Hoje, o casal vive com quatro cães: Thor, Luke, Princesa e Belinha.

Abaixo, o diretor da TV Unesp e professor da mesma instituição faz um balanço sobre a sua vida profissional e pessoal. "Hoje, estou onde sempre quis", comenta. Confira alguns trechos da entrevista:

Jornal da Cidade - Você tem um sotaque característico. Nasceu em Minas Gerais?

Francisco Machado Filho - Os meus pais são mineiros, mas eu nasci em Brasília, onde vivi até os 11 anos. Depois, nós nos mudamos para Governador Valadares, em Minas Gerais. De lá, fui para Vitória, no Espírito Santo, estudar Rádio e TV na Faculdade Espírito Santense (Faesa). Na época, conheci a minha esposa. Logo que me formei, comecei a trabalhar com vídeo online em um jornal impresso de Governador Valadares, intitulado Diário do Rio Doce.

JC - Como entrou para a área acadêmica?

Kiko - Paralelamente, eu comecei a lecionar para Rádio e TV em uma faculdade particular de Governador Valadares. Em seguida, assumi a coordenação do curso e deixei o jornal. Neste momento, decidi fazer mestrado na Universidade de Marília (Unimar). Em seguida, me chamaram para a Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF), onde ajudei a montar a primeira turma de Jornalismo. Em 2007, dei início ao doutorado na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).

JC - Quando entrou na Unesp?

Kiko - Assim que terminei o doutorado, eu dei aula em Frutal. Naquela época, prestei o concurso da Unesp, em Bauru, onde estou desde 2012. Cinco anos depois, assumi a direção da TV Unesp, mas não deixei de lecionar para a graduação e pós-graduação da mesma instituição.

JC - A sua paixão por televisão surgiu ainda na infância?

Kiko - Aos 8 anos, eu assisti ao filme "Guerra nas Estrelas" e nunca havia visto algo igual. Depois, comecei a buscar informações. Enquanto criança, o meu castigo era ficar sem ir ao cinema. A minha paixão pela televisão começou por aí.

JC - Em relação à TV Unesp, como era quando você chegou e como está hoje?

Kiko - A TV Unesp nasceu dentro da visão do professor Antonio Carlos de Jesus, que queria tocar uma televisão educativa, aos moldes da TV Cultura. Não necessariamente voltada para a universidade. O sonho, naquela época, fazia sentido, porque o Brasil crescia 7,5% ao ano. Só que o cenário do País mudou. Neste momento, a professora Ana Sílvia Lopes Davi Médola assumiu a gestão da instituição. Ela desenvolveu um trabalho árduo para colocar a TV no ar, porque todos os equipamentos ainda estavam encaixotados. Quando eu assumi, mudamos completamente a programação e criamos algo voltado para a Unesp. Atualmente, somos uma janela da universidade para a sociedade. A televisão, hoje, também funciona como um estágio aos alunos de vários cursos.

JC - Em tempos de fake news, a TV Unesp vem ganhando ou perdendo audiência?

Kiko - Como as pessoas buscam fontes confiáveis, o canal da TV Unesp, no YouTube, ganhou audiência. Para se ter ideia, havia 70 mil inscritos antes da pandemia. Agora, estamos com mais de 100 mil.

JC - A pandemia mudou a forma de fazer telejornalismo?

Kiko - O atual cenário quebrou o padrão antigo e criou um novo. Quem imaginaria que a GloboNews faria uma entrevista por Skype? Antes da pandemia, nós queríamos trabalhar desta forma na TV Unesp, porque a universidade possui campi espalhados por várias cidades paulistas e fica difícil viajar para conversar com um professor de outro município, por exemplo. Porém, pensávamos na qualidade do vídeo e na possibilidade da Internet cair. Se até nós, que somos uma televisão universitária e temos liberdade para experimentar, apresentávamos resistência, imagina as emissoras comerciais. Nós vimos que é possível e a população aceitou. A tão falada convergência entre a TV e a Internet, finalmente, começou a acontecer.

JC - A TV educativa é totalmente independente?

Kiko - Não. Nós, por exemplo, abrigamos mais de R$ 15 milhões em equipamentos e alguém precisa pagar a conta. Não temos o compromisso de atender a demandas de anunciantes, mas dependemos da reitoria para sobreviver. Por isso, a televisão universitária deve estar atrelada ao planejamento estratégico da instituição e, o meu ver, não pode ser totalmente educativa.

JC - Você prefere estar por trás ou diante das câmeras?

Kiko - Tanto faz. A TV Unesp é a terceira televisão universitária que eu trabalho. Não tenho problema algum em apresentar programas, mas gosto mesmo da gestão, fato que exige dedicação integral. Hoje, estou onde sempre quis, mas o caminho durou 11 longos anos.

 

Comentários

Comentários