
Paris - O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, abriu uma nova frente de batalha com a França, agora contra o jornal satírico Charlie Hebdo.
O líder turno prometeu adotar "ações jurídicas e diplomáticas" contra a capa da publicação, em que ele aparece de cueca, levantando as vestes de uma mulher e descobrindo suas nádegas.
Já tensas há vários meses, as relações entre França e Turquia azedaram ainda mais após a morte do professor Samuel Paty, decapitado neste mês por ter mostrado aos alunos uma charge de Maomé, em aula sobre liberdade de expressão.
Retratar o profeta é banido por religiosos muçulmanos, e o Charlie Hebdo esteve envolvido em vários conflitos desde 2006, quando reproduziu charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten que haviam gerado ataques a embaixadas da Dinamarca em vários países islâmicos.
O próprio jornal foi alvo de atentados em 2011, 2013 e 2015, quando 12 pesoas foram mortas em ataque terrorista.
Após a morte do professor Paty, Macron prometeu endurecer medidas para impedir a radicalização islâmica. Dias antes, ele havia anunciado um plano para evitar o que chamou de "separatismo islâmico" na França.
O presidente francês também declarou que seu país não abrirá mão do secularismo nem deixará de defender a liberdade de publicação de caricaturas, ainda que elas possam ofender um grupo da população.
A defesa da charge de Maomé havia levado Erdogan a dizer que o líder francês precisava de tratamento mental e a pedir um boicote a produtos franceses em seu país, na esteira de movimentos semelhantes em outras nações muçulmanas.
Após a divulgação da capa da revista francesa, um porta-voz de Erdogan afirmou que o país "condena esse esforço mais nojento dessa publicação para espalhar seu racismo cultural e ódio".
Na terça (27), o líder turco já havia anunciado um processo contra o deputado holandês da ultradireita Geert Wilders, que publicou caricatura identificando o líder turco como terrorista.
Com isso, Erdogan atraiu mais um governo para o conflito. O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, escreveu em rede social: "Tenho uma mensagem para o presidente Erdogan e essa mensagem é simples: na Holanda, a liberdade de expressão é um dos nossos valores mais elevados".
OUTRO LADO
Enquanto líderes europeus defendem a livre expressão, aumentam manifestações contra Macron e a França em países e regiões muçulmanas. O presidente foi retratado como um demônio em jornal iraniano e teve imagens suas queimadas em Bangladesh. Houve protestos na Líbia, no Qatar, no Marrocos, na Argélia, no Kuwait, na Jordânia e em Mumbai (Índia).