Rio de Janeiro - A operação Tempo Perdido, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que esta semana levou à apreensão de 91 itens da Legião Urbana num depósito usado pela gravadora Universal, continua repercutindo entre os integrantes da banda e pessoas relacionadas a ela.
Depois de Dado Villa-Lobos chamar a ação de "bizarra" e "estranha", Giuliano Manfredini, filho e herdeiro de Renato Russo, diz que não pediu à polícia a apreensão dessas fitas e CDs - agora, depois de uma decisão judicial, sob sua posse.
"Eu não entrei [na Justiça] contra Dado [o baterista Marcelo] Bonfá ou gravadora", diz Manfredini. "As investigações é que foram mostrando esses caminhos. Isso não tem nada a ver comigo. Não fui eu quem fui lá bater o pé na porta da gravadora. Isso não existe."
Justiça determinou que esses 91 itens --fitas cassete, fitas master e CDs-- agora estão sob responsabilidade de Manfredini, e não mais da Universal, gravadora que detém os direitos dos fonogramas da Legião Urbana.
A operação chegou até as fitas da Universal depois que Manfredini fez uma notícia-crime pedindo a investigação de supostas gravações inéditas do pai divulgadas online. Segundo o empresário, a motivação foi a divulgação, há alguns anos, de uma fita rara com Renato Russo cantando ao lado do guitarrista André Pretorius, na banda Aborto Elétrico, grupo do cantor de antes da Legião Urbana.
Manfredini acredita que essa fita, entre outros materiais, foram retirados do apartamento de Renato Russo, em Ipanema, no Rio. "O fato é que tem materiais ocultados que foram retirados do apartamento do meu pai", diz. "E é fato que esses perfis falsos estavam divulgando esses materiais. A partir daí, é a investigação que levou a polícia lá. Mas não é do meu interesse manter em nossa posse o que não é nosso."
EXTRAVIO
Manfredini acredita que o material inédito tenha sido extraviado do apartamento do pai na época em que o imóvel estava sob os cuidados de seu avô, pai de Renato Russo, que morreu em 2004. "Nas pesquisas que conduzimos [para uma exposição] com o Museu da Imagem e Som, tem lacunas que não conseguimos preencher. É claro que houve materiais extraviados, ocultados", diz Manfredini. "No acervo, eles identificaram que existem páginas de manuscritos que foram arrancadas posteriormente à morte do meu pai."
A busca por esse material, diz Manfredini, "é meu dever e minha obrigação". "É para isso que a gente vai fazer essa análise [das fitas], para ver se tem algo desse material ali no meio. Analisar o conteúdo, catalogar, armazenar, e aí decidir o que fazer. Mas sempre respeitando a lei."
Manfredini diz que ainda vai analisar o conteúdo das fitas, mas, em entrevista a este repórter, o guitarrista da Legião Urbana, Dado Villa-Lobos, afirmou que se tratam de sobras das gravações dos discos da banda. Segundo ele, essas fitas foram digitalizadas por Marcelo Froes, que enviou cópias a Dado, Bonfá, ao baixista Renato Rocha e à família de Renato Russo há 20 anos.